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Esboço de proposta de lei de incentivo fiscal não contempla esporte e gera nova crise entre cartolas e governo
Projeto para olímpicos exclui o futebol
DO PAINEL FC
Sem ter nem começado a tramitar no Congresso, o projeto que
prevê a criação de uma lei de incentivo fiscal para o esporte já
provoca uma crise entre o governo federal e cartolas do futebol. Isso porque, segundo apurou a Folha, de acordo com o esboço traçado pelo Ministério do Esporte,
os clubes não serão contemplados
com os investimentos gerados pela eventual legislação.
A avaliação do governo é que o
futebol possui estrutura e apelo
suficientes para atrair patrocínio
por conta própria e que a lei seria
destinada a socorrer estratos mais
carentes do setor.
A novidade caiu como uma
bomba entre a cartolagem do esporte mais popular do país, que
contava com uma lei de incentivo
para realizar melhorias de infra-estrutura, especialmente reformas de estádios.
"Vejo essa notícia com surpresa
e frustração, pois entendo que a
modernização dos estádios brasileiros, tão necessária, só seria possível se tivéssemos linhas de crédito especiais do governo ou uma lei
de incentivo fiscal", disse o presidente do Clube dos 13, Fábio Koff.
O dirigente argumenta que a
adequação dos campos do país às
exigências do Estatuto do Torcedor, lei sancionada em maio por
Lula, depende do apoio estatal.
É o mesmo raciocínio do presidente do São Paulo, Marcelo Portugal Gouvêa. "Jamais conseguirei fazer o monitoramento completo do Morumbi com câmaras
de TV [determinação da nova lei]
sem ajuda do governo", disse.
"Acho um absurdo que o futebol não seja incluído no projeto. É
o esporte das massas, o que dá
mais renda, é pentacampeão
mundial, é o mais caro de todos."
A reclamação do são-paulino é
amplificada -e ganha contornos
bélicos- pela já notória verve do
vice-presidente de futebol do Corinthians, Antonio Roque Citadini. "É um erro grave não apoiar o
futebol, o grande esporte do país.
Veja o Pan. Pelas medalhas que
têm sido ganhas, não sei se todos
esses esportes [olímpicos] que receberam dinheiro aos montes [do
governo] têm dado retorno."
Citadini espinafrou o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro,
Carlos Arthur Nuzman, o dirigente mais ligado ao ministro Agnelo Queiroz. "Quando assumiu
ele prometeu um espetáculo de
medalhas. Acho que esqueceu,
pois o país não avançou."
Lei Piva
Os dirigentes do futebol alegam
que as modalidades olímpicas já
têm a verba da Lei Piva, que destina 2% da arrecadação das loterias
federais aos comitês olímpico e
paraolímpicos -em 2002, o COB
recebeu R$ 43 milhões.
Agnelo Queiroz é cauteloso ao
comentar a questão. Diz que o
projeto ainda está em estudos.
Mas a secretária de Alto Rendimento do ministério, a ex-jogadora de basquete Paula, confirmou que o futebol não foi incluído na delineação inicial.
O mesmo fez, com mais incisão,
o deputado Gilmar Machado
(PT-MG), aliado de Queiroz e entusiasta do projeto. "Se chegar um
cara do ciclismo e outro do futebol, qual você prefere patrocinar?
O futebol é o esporte mais popular do país, tem várias empresas
dispostas a financiá-lo."
Essa é a segunda crise de vulto
entre o governo e establishment
do futebol. Em maio, os clubes e a
CBF armaram um motim contra
o Estatuto do Torcedor, ameaçando paralisar o Brasileiro caso não
fossem retirados artigos que diziam respeito à responsabilização
dos dirigentes. Não lograram êxito.(FÁBIO VICTOR)
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