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São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2003

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Esboço de proposta de lei de incentivo fiscal não contempla esporte e gera nova crise entre cartolas e governo

Projeto para olímpicos exclui o futebol

DO PAINEL FC

Sem ter nem começado a tramitar no Congresso, o projeto que prevê a criação de uma lei de incentivo fiscal para o esporte já provoca uma crise entre o governo federal e cartolas do futebol. Isso porque, segundo apurou a Folha, de acordo com o esboço traçado pelo Ministério do Esporte, os clubes não serão contemplados com os investimentos gerados pela eventual legislação.
A avaliação do governo é que o futebol possui estrutura e apelo suficientes para atrair patrocínio por conta própria e que a lei seria destinada a socorrer estratos mais carentes do setor.
A novidade caiu como uma bomba entre a cartolagem do esporte mais popular do país, que contava com uma lei de incentivo para realizar melhorias de infra-estrutura, especialmente reformas de estádios.
"Vejo essa notícia com surpresa e frustração, pois entendo que a modernização dos estádios brasileiros, tão necessária, só seria possível se tivéssemos linhas de crédito especiais do governo ou uma lei de incentivo fiscal", disse o presidente do Clube dos 13, Fábio Koff.
O dirigente argumenta que a adequação dos campos do país às exigências do Estatuto do Torcedor, lei sancionada em maio por Lula, depende do apoio estatal.
É o mesmo raciocínio do presidente do São Paulo, Marcelo Portugal Gouvêa. "Jamais conseguirei fazer o monitoramento completo do Morumbi com câmaras de TV [determinação da nova lei] sem ajuda do governo", disse.
"Acho um absurdo que o futebol não seja incluído no projeto. É o esporte das massas, o que dá mais renda, é pentacampeão mundial, é o mais caro de todos."
A reclamação do são-paulino é amplificada -e ganha contornos bélicos- pela já notória verve do vice-presidente de futebol do Corinthians, Antonio Roque Citadini. "É um erro grave não apoiar o futebol, o grande esporte do país. Veja o Pan. Pelas medalhas que têm sido ganhas, não sei se todos esses esportes [olímpicos] que receberam dinheiro aos montes [do governo] têm dado retorno."
Citadini espinafrou o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, o dirigente mais ligado ao ministro Agnelo Queiroz. "Quando assumiu ele prometeu um espetáculo de medalhas. Acho que esqueceu, pois o país não avançou."

Lei Piva
Os dirigentes do futebol alegam que as modalidades olímpicas já têm a verba da Lei Piva, que destina 2% da arrecadação das loterias federais aos comitês olímpico e paraolímpicos -em 2002, o COB recebeu R$ 43 milhões.
Agnelo Queiroz é cauteloso ao comentar a questão. Diz que o projeto ainda está em estudos. Mas a secretária de Alto Rendimento do ministério, a ex-jogadora de basquete Paula, confirmou que o futebol não foi incluído na delineação inicial.
O mesmo fez, com mais incisão, o deputado Gilmar Machado (PT-MG), aliado de Queiroz e entusiasta do projeto. "Se chegar um cara do ciclismo e outro do futebol, qual você prefere patrocinar? O futebol é o esporte mais popular do país, tem várias empresas dispostas a financiá-lo."
Essa é a segunda crise de vulto entre o governo e establishment do futebol. Em maio, os clubes e a CBF armaram um motim contra o Estatuto do Torcedor, ameaçando paralisar o Brasileiro caso não fossem retirados artigos que diziam respeito à responsabilização dos dirigentes. Não lograram êxito.(FÁBIO VICTOR)

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