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BASQUETE
Medalha de lata
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
A carta chegou na noite
de um sábado de abril, na
ressaca da Copa Eletrobrás, espécie de Brasileiro juvenil interclubes feminino. Sabia, no fundo,
que um dia mereceria a coluna.
Só não imaginava que seria tão
rápido, e às portas de uma Olimpíada tão importante. O texto seguia mais ou menos assim:
"Fiquei triste, viu? Você foi ao
ginásio e nem reparou em mim.
Para falar a verdade, também
não reparei em você (rarará!).
Meu nome é Giselle. Eu jogo no
time de Jundiaí. Sou a número 10,
mas eu quase não entrei nos jogos. Fazer o quê, não é? É a vida.
Mas eu vou mudar isso, prometo.
Queria te pedir um enorme favor. Sei que você já fez muito ao
escrever sobre o nosso campeonato, mas queria que você conseguisse um espaço aí para pedir
patrocínio para o meu time.
Moro aqui na cidade em uma
república com outras 15 meninas.
Estamos desde o ano passado sem
receber nada para jogar...
Sabe, a gente não culpa ninguém. Até nos acostumamos. Mas
muitas das meninas necessitam
de uma ajuda. Algumas vezes a
gente nem janta, porque não sobra do almoço. Mesmo assim,
uma ajuda a outra como pode.
Você percebeu o potencial do time. Mas, infelizmente, por causa
das circunstâncias, cada uma está querendo seguir seu rumo..."
A mensagem me deixou torto.
Poucos dias antes, eu tinha visto a
equipe de "Gi # 10" deixar o Ibirapuera invicta, com a taça do torneio. Ademais, ela representava
um tradicional pólo do basquete e
contava com o respaldo de dois
parceiros econômicos (dois!).
Ainda assim, não durou uma
semana a festa da ala de 1,80 m e
17 anos -e de suas colegas. Fazer
o quê, não é, Gi? É a vida...
Enquanto uns se estufam nos
bufês do transatlântico Queen
Mary 2, o melhor time juvenil do
país faz vaquinha para comer.
Enquanto uns se deslumbram
com o azul dos mares gregos, a seleção brasileira juvenil, com a nata da tal Copa Eletrobrás, leva
uma dupla sova das ex-freguesas
canadenses e deixa a Copa América de Porto Rico com o modesto
4º lugar e sem vaga no Mundial.
Enquanto uns se maravilham
com a arquitetura ateniense, os
rapazes do Brasil sub-21 procuram explicações para a não-classificação para o Mundial -se já
haviam tombado diante dos argentinos no Sul-Americano, dessa
vez comeram a poeira também de
norte-americanos, porto-riquenhos, canadenses e venezuelanos.
Enquanto uns fazem malabarismo para se infiltrar e permanecer na Vila Olímpica, a brava seleção masculina principal, resignada a ser sparring de quem obteve na quadra o direito de disputar
a Olimpíada, retorna do "tour"
pela Europa com sete derrotas em
oito partidas e saldo médio negativo superior a 20 pontos.
Sonho de toda Giselle, a seleção
feminina principal até pode beliscar um pódio, pois os amistosos
preparatórios mostraram que somente os EUA se distinguem, disparados na corrida do ouro.
Mas o basquete brasileiro, antes
mesmo de a bola laranja subir em
Atenas, já pendurou uma medalha neste ano de inação e incompetência. E ela não vale um cobre.
Tambor 1
Quer bater uma aposta? EUA, Lituânia e Espanha, no masculino, e
EUA, Austrália e Brasil/República Tcheca (muro!), no feminino.
Tambor 2
Além do pbf.blogspot.com, o agudo www.diariodobasquete.com
promete monitorar a campanha do time de Antonio Carlos Barbosa.
Tambor 3
No esportes.terra.com.br/atenas2004/fotolog-janeth.html, você
pode conferir o divertido diário de Janeth, direto da Vila Olímpica.
Surdo
Por conta do "sprint" olímpico, esta coluna retorna só em setembro.
E-mail melk@uol.com.br
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