São Paulo, terça-feira, 10 de agosto de 2004

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BASQUETE

Medalha de lata

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

A carta chegou na noite de um sábado de abril, na ressaca da Copa Eletrobrás, espécie de Brasileiro juvenil interclubes feminino. Sabia, no fundo, que um dia mereceria a coluna. Só não imaginava que seria tão rápido, e às portas de uma Olimpíada tão importante. O texto seguia mais ou menos assim:
"Fiquei triste, viu? Você foi ao ginásio e nem reparou em mim. Para falar a verdade, também não reparei em você (rarará!).
Meu nome é Giselle. Eu jogo no time de Jundiaí. Sou a número 10, mas eu quase não entrei nos jogos. Fazer o quê, não é? É a vida. Mas eu vou mudar isso, prometo.
Queria te pedir um enorme favor. Sei que você já fez muito ao escrever sobre o nosso campeonato, mas queria que você conseguisse um espaço aí para pedir patrocínio para o meu time.
Moro aqui na cidade em uma república com outras 15 meninas. Estamos desde o ano passado sem receber nada para jogar...
Sabe, a gente não culpa ninguém. Até nos acostumamos. Mas muitas das meninas necessitam de uma ajuda. Algumas vezes a gente nem janta, porque não sobra do almoço. Mesmo assim, uma ajuda a outra como pode.
Você percebeu o potencial do time. Mas, infelizmente, por causa das circunstâncias, cada uma está querendo seguir seu rumo..."
A mensagem me deixou torto. Poucos dias antes, eu tinha visto a equipe de "Gi # 10" deixar o Ibirapuera invicta, com a taça do torneio. Ademais, ela representava um tradicional pólo do basquete e contava com o respaldo de dois parceiros econômicos (dois!).
Ainda assim, não durou uma semana a festa da ala de 1,80 m e 17 anos -e de suas colegas. Fazer o quê, não é, Gi? É a vida...
Enquanto uns se estufam nos bufês do transatlântico Queen Mary 2, o melhor time juvenil do país faz vaquinha para comer.
Enquanto uns se deslumbram com o azul dos mares gregos, a seleção brasileira juvenil, com a nata da tal Copa Eletrobrás, leva uma dupla sova das ex-freguesas canadenses e deixa a Copa América de Porto Rico com o modesto 4º lugar e sem vaga no Mundial.
Enquanto uns se maravilham com a arquitetura ateniense, os rapazes do Brasil sub-21 procuram explicações para a não-classificação para o Mundial -se já haviam tombado diante dos argentinos no Sul-Americano, dessa vez comeram a poeira também de norte-americanos, porto-riquenhos, canadenses e venezuelanos.
Enquanto uns fazem malabarismo para se infiltrar e permanecer na Vila Olímpica, a brava seleção masculina principal, resignada a ser sparring de quem obteve na quadra o direito de disputar a Olimpíada, retorna do "tour" pela Europa com sete derrotas em oito partidas e saldo médio negativo superior a 20 pontos.
Sonho de toda Giselle, a seleção feminina principal até pode beliscar um pódio, pois os amistosos preparatórios mostraram que somente os EUA se distinguem, disparados na corrida do ouro.
Mas o basquete brasileiro, antes mesmo de a bola laranja subir em Atenas, já pendurou uma medalha neste ano de inação e incompetência. E ela não vale um cobre.

Tambor 1
Quer bater uma aposta? EUA, Lituânia e Espanha, no masculino, e EUA, Austrália e Brasil/República Tcheca (muro!), no feminino.

Tambor 2
Além do pbf.blogspot.com, o agudo www.diariodobasquete.com promete monitorar a campanha do time de Antonio Carlos Barbosa.

Tambor 3
No esportes.terra.com.br/atenas2004/fotolog-janeth.html, você pode conferir o divertido diário de Janeth, direto da Vila Olímpica.

Surdo
Por conta do "sprint" olímpico, esta coluna retorna só em setembro.

E-mail melk@uol.com.br


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