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FUTEBOL
Momento encantador
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Após o jogo contra a Colômbia, deveria dizer que não há
motivos para se ficar eufórico, por
causa de uma simples vitória fora
de casa contra um adversário inferior. Seria sensato e prudente.
Mas tive a sensação, baseado não
no que o time jogou (a atuação foi
excelente), e sim no que poderá
jogar, de que estamos diante de
uma grande possibilidade: a de
ver nos próximos anos uma seleção inesquecível.
Não me refiro apenas a um time
vencedor. Muitas equipes vencedoras não encantaram. Outras
encantaram, mas não venceram,
como a seleção brasileira de 82, a
holandesa de 74 e a da Hungria
em 54. A Copa é um torneio curto,
e nem sempre ganha o melhor.
Mas as equipes que encantam
são as que ficam na história. São
poucos esses momentos, no futebol e na vida. São especiais. O restante é rotina, repetição e convenção social.
Os craques atuais, sem a pressão das últimas eliminatórias,
afinados com os torcedores e mais
confiantes após o penta, podem
jogar um futebol com muito mais
alegria, fantasia e eficiência.
Alguns vivem momentos especiais. Ronaldo tem hoje uma condição física muito melhor do que
na Copa de 2002. Está livre da dor
que tinha antes da última operação e que tanto lhe incomodou
durante muito tempo. Ele recua
para receber a bola, dribla, passa,
encanta e não apenas faz gols. O
fenômeno está mais fenomenal.
Há uma crescente sensação de
que o Ronaldinho Gaúcho vai
brilhar mais nos próximos anos e
na Copa de 2006 do que em 2002.
Roberto Carlos amadureceu.
Sempre que citarmos os grandes
jogadores do mundo, não podemos esquecer o lateral.
Rivaldo estará em forma, se
atuar vários jogos seguidos. Por
isso, é correto mantê-lo e sair o
Alex. O problema, como disse o
José Trajano, é que dificilmente
Rivaldo vai ser titular do Milan.
Aí, nunca entrará em forma.
Dida e Cafu estão entre os melhores jogadores do mundo em
suas posições. Os outros da seleção são bons, excelentes e podem
evoluir, jogando ao lado de grandes craques e num time organizado. Contra a Colômbia, Zé Roberto, que sempre foi um bom jogador e extremamente habilidoso,
também foi brilhante. Não se pode confundir habilidade com talento e brilhantismo.
O ótimo momento não pára por
aí. Há uma nova geração pronta
para brilhar. Além dos convocados, existem dois ótimos zagueiros (Alex e Luisão).
Taticamente, a seleção deve ficar melhor do que a da Copa de
2002, com a troca de um zagueiro
por um armador. Domingo, Gilberto Silva atuou no meio-campo, e não entre os zagueiros, como
gostam os técnicos brasileiros. Se
ele recuar demais, ficam somente
dois no meio. Essa era a grande
deficiência da seleção do Felipão.
Time que ganha também tem defeitos. É melhor os dois laterais,
alternadamente, marcarem mais
atrás para sobrar um zagueiro,
como no jogo contra a Colômbia.
A troca de passes, o futebol cadenciado, sem pressa para chegar
ao gol e as poucas faltas cometidas pela seleção (foram somente
sete contra a Colômbia), características das equipes dirigidas pelo
Parreira, tornam o futebol mais
bonito e eficiente. Infelizmente,
essas posturas foram abandonadas pela maioria dos técnicos brasileiros, que só pensam em correria, pegada e não deixar o outro
time jogar. Triste!
Falta ao Parreira, em determinados momentos, um pouco da
"loucura" do Felipão. Há instantes em que é preciso improvisar,
tentar algo diferente, inflamar,
pressionar e marcar a saída de
bola, como na partida de hoje.
Contra a Colômbia, faltou o
apoiador pela direita. Cafu ficou
isolado. Com Renato no lugar do
Emerson, o time fica mais bem
distribuído. Hoje seria um bom
jogo para o Renato iniciar a partida.
O Brasil não jogou com o número um (Alex), e sim com dois
meias ofensivos (Alex e Rivaldo) e
um centroavante, como na Copa
de 2002. Isso confunde a marcação porque nenhuma seleção joga
dessa forma. Em alguns momentos, será boa a presença de dois típicos atacantes (Ronaldo e Luis
Fabiano).
Sei que muitos vão dizer que estou excessivamente otimista. Se o
Brasil jogar mal hoje diante do
Equador, voltarão as críticas e o
pessimismo.
Independentemente da atuação, a seleção tem grandes chances de formar nos próximos anos
uma equipe sensacional, no nível
das melhores do mundo de todos
os tempos. Ainda não é.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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