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São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 2003

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FUTEBOL

Momento encantador

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Após o jogo contra a Colômbia, deveria dizer que não há motivos para se ficar eufórico, por causa de uma simples vitória fora de casa contra um adversário inferior. Seria sensato e prudente. Mas tive a sensação, baseado não no que o time jogou (a atuação foi excelente), e sim no que poderá jogar, de que estamos diante de uma grande possibilidade: a de ver nos próximos anos uma seleção inesquecível.
Não me refiro apenas a um time vencedor. Muitas equipes vencedoras não encantaram. Outras encantaram, mas não venceram, como a seleção brasileira de 82, a holandesa de 74 e a da Hungria em 54. A Copa é um torneio curto, e nem sempre ganha o melhor.
Mas as equipes que encantam são as que ficam na história. São poucos esses momentos, no futebol e na vida. São especiais. O restante é rotina, repetição e convenção social.
Os craques atuais, sem a pressão das últimas eliminatórias, afinados com os torcedores e mais confiantes após o penta, podem jogar um futebol com muito mais alegria, fantasia e eficiência.
Alguns vivem momentos especiais. Ronaldo tem hoje uma condição física muito melhor do que na Copa de 2002. Está livre da dor que tinha antes da última operação e que tanto lhe incomodou durante muito tempo. Ele recua para receber a bola, dribla, passa, encanta e não apenas faz gols. O fenômeno está mais fenomenal.
Há uma crescente sensação de que o Ronaldinho Gaúcho vai brilhar mais nos próximos anos e na Copa de 2006 do que em 2002. Roberto Carlos amadureceu. Sempre que citarmos os grandes jogadores do mundo, não podemos esquecer o lateral.
Rivaldo estará em forma, se atuar vários jogos seguidos. Por isso, é correto mantê-lo e sair o Alex. O problema, como disse o José Trajano, é que dificilmente Rivaldo vai ser titular do Milan. Aí, nunca entrará em forma.
Dida e Cafu estão entre os melhores jogadores do mundo em suas posições. Os outros da seleção são bons, excelentes e podem evoluir, jogando ao lado de grandes craques e num time organizado. Contra a Colômbia, Zé Roberto, que sempre foi um bom jogador e extremamente habilidoso, também foi brilhante. Não se pode confundir habilidade com talento e brilhantismo.
O ótimo momento não pára por aí. Há uma nova geração pronta para brilhar. Além dos convocados, existem dois ótimos zagueiros (Alex e Luisão).
Taticamente, a seleção deve ficar melhor do que a da Copa de 2002, com a troca de um zagueiro por um armador. Domingo, Gilberto Silva atuou no meio-campo, e não entre os zagueiros, como gostam os técnicos brasileiros. Se ele recuar demais, ficam somente dois no meio. Essa era a grande deficiência da seleção do Felipão. Time que ganha também tem defeitos. É melhor os dois laterais, alternadamente, marcarem mais atrás para sobrar um zagueiro, como no jogo contra a Colômbia.
A troca de passes, o futebol cadenciado, sem pressa para chegar ao gol e as poucas faltas cometidas pela seleção (foram somente sete contra a Colômbia), características das equipes dirigidas pelo Parreira, tornam o futebol mais bonito e eficiente. Infelizmente, essas posturas foram abandonadas pela maioria dos técnicos brasileiros, que só pensam em correria, pegada e não deixar o outro time jogar. Triste!
Falta ao Parreira, em determinados momentos, um pouco da "loucura" do Felipão. Há instantes em que é preciso improvisar, tentar algo diferente, inflamar, pressionar e marcar a saída de bola, como na partida de hoje.
Contra a Colômbia, faltou o apoiador pela direita. Cafu ficou isolado. Com Renato no lugar do Emerson, o time fica mais bem distribuído. Hoje seria um bom jogo para o Renato iniciar a partida.
O Brasil não jogou com o número um (Alex), e sim com dois meias ofensivos (Alex e Rivaldo) e um centroavante, como na Copa de 2002. Isso confunde a marcação porque nenhuma seleção joga dessa forma. Em alguns momentos, será boa a presença de dois típicos atacantes (Ronaldo e Luis Fabiano).
Sei que muitos vão dizer que estou excessivamente otimista. Se o Brasil jogar mal hoje diante do Equador, voltarão as críticas e o pessimismo.
Independentemente da atuação, a seleção tem grandes chances de formar nos próximos anos uma equipe sensacional, no nível das melhores do mundo de todos os tempos. Ainda não é.

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