São Paulo, quinta-feira, 10 de outubro de 2002

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AÇÃO

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CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA

Muito mais artista que atleta, mais paixão que razão, mais momento que planejamento. Talvez, a partir dessas premissas fique mais fácil entender o que acontece na vida e na carreira do surfista Percy "Neco" Padaratz.
Ele cresceu cheirando parafina. Seu irmão Teco, cinco anos mais velho, foi pioneiro no Circuito Mundial. Aos oito anos, morando em Camboriú (SC), Neco já desfrutava de apoio técnico e equipamento à vontade. Na adolescência, seguindo o modelo de treinamento dirigido por Avelino Bastos, viveu três anos na Califórnia, competindo no circuito americano júnior e na Austrália.
Em 1994, aos 18 anos, ingressou no tour da ASP e logo foi apontado como um futuro candidato ao título mundial, não só por nós da mídia nacional como também por especialistas de fora, como Derek Hind, que logo tratou de contratá-lo para integrar a equipe Rip Curl internacional.
Depois de três temporadas de WQS, chegou à divisão principal e, em seu primeiro ano de WCT, terminou em 13º. Seu surfe explosivo, criativo e bonito o transformou em ídolo no Brasil e conquistou fãs pelo mundo, inclusive entre os próprios competidores.
Tudo parecia caminhar nos moldes previstos. Na verdade, muito melhor. Ficar entre os top 16, considerando o modelo de competição do mundial, é quase que imprescindível para qualquer atleta que sonha com o título na temporada seguinte. E ele conseguiu isso de cara.
Mas o momento e a emoção falaram mais forte. Com o nascimento de seu filho, em 1998, Neco abandona o tour no meio da temporada. A decisão decepcionou especialmente os brasileiros, que o viam, e vêem, como nossa grande esperança de título mundial.
Na temporada seguinte, mesmo participando de pouquíssimas etapas do WQS, consegue com vitórias e boas classificações recuperar a vaga no WCT.
Um desses resultados lhe valeu o convite para disputar o Gotcha Pro, etapa americana do circuito, a qual venceu. Esta, a última vitória brasileira na elite mundial até o domingo passado.
Desde então, tem estado longe dos pódios. As razões oscilam entre a sua aversão ao assédio de público e mídia, passando por questões familiares e culminando com uma grave hérnia de disco que o afastou de três das oito etapas disputadas neste ano.
Atleta mais bem remunerado na modalidade no país, a pressão sobre ele aumentou.
Nessas condições parece reverter toda sua rebeldia em energia. Mesmo sem treinar e surfar direito há quatro meses, tomou fôlego e algumas injeções para a dor nas costas e seguiu para a França.
Num mar de respeito em Hossegor venceu todas as baterias deixando para trás Mark Occhilupo, Luke Egan, o atual segundo no ranking na semifinal e na decisão do título bateu o atual líder, Andy Irons. O resultado não é um fato isolado, evidencia, isto sim, que as previsões que já o apontaram como favorito procedem. Mais, mostra que quando ele precisa e quer vai buscar.
Fica a pergunta: Será que Neco quer ser campeão mundial?
Sua declaração ainda na praia francesa ajuda a responder a questão: "Estou tendo problema e não estou 100%, mas quero voltar porque amo isso, é minha vida. É de onde sai o leite do meu filho e vivo todos os dias da minha vida para isso".

Perna brasileira
Cancelado em 2001 devido aos atentados terroristas nos EUA, o Mundial de surfe volta ao país na próxima semana. Enquanto isso, o WCT de Mundaka (ESP), aguarda melhores condições de mar.
Eco-challenge Começa amanhã a maior corrida de aventura do mundo, em Nadi, Ilhas Fiji. As 80 equipes percorrerão 500 km em no máximo 10 dias.

Alpinismo
Condições adversas fizeram Waldemar Niclevicz e equipe desistirem do Everest e partirem para o cume do Lhotse, a 8.501 metros, conquistado no último sábado.

Happy birthday
Há 26 anos nascia no Rio de Janeiro Robert Dean da Silva Burnquist, bicampeão mundial de skate.

E-mail sarli@revistatrip.com.br



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