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AÇÃO
Imprevisível
CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA
Muito mais artista que atleta, mais paixão que razão,
mais momento que planejamento. Talvez, a partir dessas premissas fique mais fácil entender o que
acontece na vida e na carreira do
surfista Percy "Neco" Padaratz.
Ele cresceu cheirando parafina.
Seu irmão Teco, cinco anos mais
velho, foi pioneiro no Circuito
Mundial. Aos oito anos, morando
em Camboriú (SC), Neco já desfrutava de apoio técnico e equipamento à vontade. Na adolescência, seguindo o modelo de treinamento dirigido por Avelino Bastos, viveu três anos na Califórnia,
competindo no circuito americano júnior e na Austrália.
Em 1994, aos 18 anos, ingressou
no tour da ASP e logo foi apontado como um futuro candidato ao
título mundial, não só por nós da
mídia nacional como também
por especialistas de fora, como
Derek Hind, que logo tratou de
contratá-lo para integrar a equipe Rip Curl internacional.
Depois de três temporadas de
WQS, chegou à divisão principal
e, em seu primeiro ano de WCT,
terminou em 13º. Seu surfe explosivo, criativo e bonito o transformou em ídolo no Brasil e conquistou fãs pelo mundo, inclusive entre os próprios competidores.
Tudo parecia caminhar nos
moldes previstos. Na verdade,
muito melhor. Ficar entre os top
16, considerando o modelo de
competição do mundial, é quase
que imprescindível para qualquer
atleta que sonha com o título na
temporada seguinte. E ele conseguiu isso de cara.
Mas o momento e a emoção falaram mais forte. Com o nascimento de seu filho, em 1998, Neco
abandona o tour no meio da temporada. A decisão decepcionou
especialmente os brasileiros, que
o viam, e vêem, como nossa grande esperança de título mundial.
Na temporada seguinte, mesmo
participando de pouquíssimas
etapas do WQS, consegue com vitórias e boas classificações recuperar a vaga no WCT.
Um desses resultados lhe valeu
o convite para disputar o Gotcha
Pro, etapa americana do circuito,
a qual venceu. Esta, a última vitória brasileira na elite mundial até
o domingo passado.
Desde então, tem estado longe
dos pódios. As razões oscilam entre a sua aversão ao assédio de
público e mídia, passando por
questões familiares e culminando
com uma grave hérnia de disco
que o afastou de três das oito etapas disputadas neste ano.
Atleta mais bem remunerado
na modalidade no país, a pressão
sobre ele aumentou.
Nessas condições parece reverter toda sua rebeldia em energia.
Mesmo sem treinar e surfar direito há quatro meses, tomou fôlego
e algumas injeções para a dor nas
costas e seguiu para a França.
Num mar de respeito em Hossegor venceu todas as baterias deixando para trás Mark Occhilupo,
Luke Egan, o atual segundo no
ranking na semifinal e na decisão
do título bateu o atual líder, Andy
Irons. O resultado não é um fato
isolado, evidencia, isto sim, que as
previsões que já o apontaram como favorito procedem. Mais,
mostra que quando ele precisa e
quer vai buscar.
Fica a pergunta: Será que Neco
quer ser campeão mundial?
Sua declaração ainda na praia
francesa ajuda a responder a
questão: "Estou tendo problema e
não estou 100%, mas quero voltar
porque amo isso, é minha vida. É
de onde sai o leite do meu filho e
vivo todos os dias da minha vida
para isso".
Perna brasileira
Cancelado em 2001 devido aos atentados terroristas nos EUA, o
Mundial de surfe volta ao país na próxima semana. Enquanto isso,
o WCT de Mundaka (ESP), aguarda melhores condições de mar.
Eco-challenge
Começa amanhã a maior corrida de aventura do mundo, em Nadi,
Ilhas Fiji. As 80 equipes percorrerão 500 km em no máximo 10 dias.
Alpinismo
Condições adversas fizeram Waldemar Niclevicz e equipe desistirem do Everest e partirem para o cume do Lhotse, a 8.501 metros,
conquistado no último sábado.
Happy birthday
Há 26 anos nascia no Rio de Janeiro Robert Dean da Silva Burnquist, bicampeão mundial de skate.
E-mail sarli@revistatrip.com.br
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