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FUTEBOL
Coisa de cinema
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Um colega da faculdade de
cinema, que sempre ia comigo ver jogo em estádio -não o
Torero, que era contemporâneo
mas não era tão chegado-, não
se conformava com a falta de filmes sobre futebol no Brasil. Bom,
naquela época (começo dos anos
90) faltavam filmes brasileiros sobre qualquer assunto... E ainda
não existia o "Boleiros", gostoso
como um papo de bar, nem alguns bons curtas que vieram depois, como "Uma História de Futebol", do Paulo Machline.
Mas, mesmo com um aumento
da produção cinematográfica em
geral, ainda faltam filmes sobre
futebol. A produção editorial aumentou muito nos últimos anos
-só nesta semana saíram dois livros, "Eterno Xodó", sobre o Neto,
de Fabricio Bosio e Renato Nalesso, e "Anjo ou demônio: a polêmica trajetória de Renato Gaúcho",
de Marcos Eduardo Neves. Há sites de todos os tipos (conheci o
www.futebolclassico.com.br,
bem legal), e o futebol invadiu até
as rádios musicais de FM (adoro o
"Na Geral", da Brasil 2000). Mas o
cinema continua devendo.
Pensei muito nisso na semana
passada por causa do Alberto, jogador do Santos. Desde a véspera
de Corinthians x Santos, já se sabia que ele estava com amigdalite
e que iria jogar assim. E a gente
comenta isso de passagem, como
se trabalhar doente fosse fácil.
Porém quase ele não entra em
campo por outro motivo. A Folha
de sexta contou a saga: ele se enganou quanto ao horário de saída, recebeu uma ligação dos outros jogadores que já estavam no
ônibus ("E aí, você não vai?"),
achou que estavam brincando,
descobriu que era sério quando o
telefone foi para a mão do auxiliar técnico, resolveu ir para São
Paulo com o próprio carro, deu de
cara com a Imigrantes fechada,
subiu pela Anchieta e pegou o
trânsito "normal". Chegou atrasado, é claro, e a primeira pessoa
que encontrou no hotel foi
-quem mais?- o técnico Leão,
que não é dos mais afáveis.
Imaginem todas essas cenas em
montagem paralela. Os jogadores
no ônibus, apreensivos e irônicos.
Alberto em casa, primeiro surpreso e depois apavorado. O Leão de
testa franzida, inconformado. Os
policiais se deslocando para o estádio, os torcedores saindo do trabalho, os auxiliares das TVs esticando os cabos e os vendedores de
pernil fazendo molho vinagrete.
Corta para o Alberto entrando no
carro enquanto outros jogadores
do Santos dormem, ouvem música no discman ou simplesmente
olham pela janela.
Os torcedores chegam ao Pacaembu em grupo, rindo alto e
preparando provocações, sem saber que ter o ingresso na mão não
vai ser garantia de entrar no estádio, cujos arredores começam a
ferver. Alberto, sozinho no seu
carro, ouve o repórter da rádio falar sobre o Diego e tenta passar
um caminhão. Os jogadores do
Corinthians estão no seu ônibus,
mais animado que o do Santos.
Um policial enxuga o suor e tem o
pressentimento de que a noite
não vai ser fácil...
Seguem detalhes de reações e
sentimentos. Enquanto milhares
tentam adivinhar o resultado do
jogo, Alberto só quer saber se vai
entrar em campo -o que ele só
descobre quando Leão anuncia a
escalação, bem depois de recebê-lo sem dizer palavra. Alberto joga
e faz aquele gol de bicicleta quando milhares de torcedores ainda
estavam do lado de fora.
Só não dá um bom filme se
acharem que o roteiro é irreal demais! Cinema e futebol têm tudo
a ver.
Pró pontos corridos
Digamos que, na última rodada do Brasileiro, se classifique em oitavo lugar um time
que nunca tenha estado entre
os melhores durante o torneio. Digamos que, por milagre ou incrível coincidência
de resultados, esse time fosse
o Palmeiras. Ou o Paraná, o
Figueirense, o Paysandu...
Em um jogo, esse time desbanca o primeiro colocado
com um suado 1 x 0. Em outros quatro jogos, leva o título
de campeão Brasileiro de
2002. Seria emocionante, cinematográfico... mas insano!
Pró amor verdadeiro
Alguns torcedores do São
Paulo ficaram indignados
com o atacante Reinaldo porque ele não comemorou os
gols contra o Flamengo. Eu
achei legal... E ele fez os gols,
não fez? Então pronto. Torcedor de futebol é cheio de melindres, parece namorada
ciumenta...
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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