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FUTEBOL
Em entrevista gravada à Folha, no mês passado, ex-presidente da Fifa havia feito comentários sobre documento
Havelange diz ignorar contrato CBF/Nike
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
Em depoimento ontem à CPI da
CBF/Nike, instalada na Câmara, o
ex-presidente da Fifa João Havelange negou ter qualquer conhecimento do teor do contrato que gerou a criação da comissão.
Indagado pelo relator Sílvio
Torres (PSDB-SP), João Havelange foi curto: "Nunca o li, nunca o
vi e não vejo razão para que ele tivesse chegado às minhas mãos. É
um problema interno".
Com essa resposta, ele evitou,
daí em diante, comentar ou responder qualquer questão que tivesse como alvo o contrato, objeto principal da investigação, praticamente anulando a importância de seu depoimento.
Torres, insatisfeito com a resposta, disse que o dirigente havia
sido convocado para falar do contrato com base em uma reportagem publicada pela Folha, na
qual Havelange tecia considerações sobre termos do contrato.
Os parlamentares também
apresentaram uma cópia de reportagem do diário carioca "O
Dia", na qual ele também comentava o documento.
Havelange, primeiro, negou que
tivesse falado sobre o contrato na
entrevista à Folha. Mais tarde,
disse que não tinha concedido as
entrevistas nem conhecia o jornalista que conversou com ele.
À Folha, no entanto, o dirigente
afirmou, em seu escritório no
centro do Rio, no último dia 18 de
outubro, que não via irregularidades no contrato, o que pressupõe
que ele o conhecesse, e o considerava importante para o futebol
brasileiro.
"A Nike não tem poder de influência na comissão técnica nem
na convocação de jogadores";
"Foi um contrato entre empresas
soberanas para saber o que lhes
convêm", foram algumas das frases proferidas pelo ex-dirigente,
gravadas pela reportagem.
Ele foi mais longe. Chegou a
comparar a Traffic, agência de
marketing que intermediou o
contrato da CBF com a Nike, à
ISL, braço de marketing da Fifa.
Disse ainda que o único ponto
que poderia gerar problema era o
fórum para o qual eventuais divergências jurídicas seriam levadas: Zurique, caso o Brasil fosse
processar a Nike. Salientou, no
entanto, que essa cláusula já havia
sido mudada.
"A resposta dele (Havelange)
foi absolutamente surpreendente
para mim. Ele foi chamado para
falar do contrato, está no termo de
convocação que enviamos, foi citado por ele na matéria da Folha
de 23 de outubro último. Da forma como foi o depoimento, para
efeito de relatório, quase nada
acrescentou", disse Torres ao final
da sessão de ontem da CPI.
O presidente de honra da Fifa
não estava sob juramento durante
seu depoimento.
No início da sessão, a proposta
do deputado Arlindo Chinaglia
(PT-SP), que pretendia submeter
Havelange ao juramento de só dizer a verdade, foi rejeitada pela
comissão, que tem muitos deputados ligados a clubes de futebol,
federações e à CBF.
Insatisfeitos com as respostas de
Havelange, alguns deputados
-pelos menos 20 se inscreveram
para falar- tentavam formular
questões que levassem o dirigente
a comentar o acordo.
Em alguns momentos entrou
em contradição, dizendo que não
sabia de outras confederações que
tenham feito um contrato tão
bom como o da CBF, dando a entender que o conhecia.
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