São Paulo, terça-feira, 10 de dezembro de 2002

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FUTEBOL

Corintianos dizem que Diego os chamou de "macacos'; astro rival nega

Acusação de racismo acirra clima da final do Brasileiro

EDUARDO ARRUDA
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

O meia Renato e o atacante Deivid acirraram a guerra de nervos com os santistas após a derrota corintiana no primeiro jogo da decisão do Brasileiro. O alvo: Diego, 17, astro do rival, que é acusado pelos corintianos de racismo.
Na versão dos dois, o santista teria chamado os adversários de "macacos" durante a partida de anteontem, no Morumbi.
O meia do Santos, entretanto, negou que tenha ofendido os corintianos. "Jamais faria um negócio desses. Posso brincar muito com meus companheiros, mas vocês me conhecem, sabem que eu não falo com os adversários", disse Diego, que também já havia sido acusado por outros corintianos, como o lateral Kléber e o zagueiro Fábio Luciano, de debochar dos rivais após driblá-los.
"Já estou ficando de saco cheio com essa história. Toda vez é a mesma coisa", afirmou, irritado.
Na partida de anteontem, Diego e Renato discutiram em vários momentos. O corintiano até recebeu cartão amarelo após o juiz ter marcado uma falta contra o rival.
"Fiquei nervoso ao vê-lo discriminar a raça negra e debochar do nosso time. Não deu para segurar a raiva", comentou Renato, 24.
Após o jogo, ele insinuou ainda que Diego pode vir a se dar mal e se machucar se continuar se comportando dessa maneira. E citou seu próprio exemplo: "Quando tinha 17 anos, era como ele. Só melhorei quando me acertaram o joelho e fiquei três meses parado", declarou o jogador do Corinthians, sobre seu primeiro ano como profissional, em 1998.
Deivid tomou as dores de seu companheiro de time e também atacou o ídolo santista. "Agora foi com o Renato, mas da outra vez [em amistoso na Vila Belmiro antes do início do Campeonato Brasileiro] foi com o Kléber. Se ele [Kléber] fosse mais nervoso, teria dado um murro na cara do Diego", afirmou. "Além de ofender os adversários, ele [Diego] costuma dar risadinhas depois de cada drible que dá."
Os corintianos lembram ainda que não é a primeira vez que Diego se mete em confusão. Contra o São Paulo, pela primeira fase do Brasileiro, ele comemorou um gol pisando no distintivo do time do Morumbi e chegou a ser empurrado por Fábio Simplício.
Contra o Grêmio, pelas semifinais, a polêmica foi com Danrlei. O goleiro gremista deu um safanão no rosto de Diego, a quem acusou de querer humilhar os atletas adversários.
Os santistas, por sua vez, dizem que querem apenas jogar futebol e que vão tentar evitar discussões.
Mesmo assim, não deixam de lançar farpas contra o Corinthians. "O Guilherme [atacante] foi um que tentou me tirar do sério, mas eu me contive", comentou o goleiro Fábio Costa.
O atacante Alberto, que recebeu o terceiro cartão amarelo ao simular um pênalti e não poderá participar do segundo jogo decisivo, domingo, quando o Santos poderá até perder por um gol de diferença para ficar com o título, acha que os corintianos decidiram partir para o ataque para desviar a atenção da má atuação que tiveram anteontem.
Já o técnico santista Emerson Leão afirma que as acusações contra Diego não fazem sentido algum e resolveu fazer um apelo: "Não adianta tentarem nos desestabilizar, vamos deixar meus meninos jogar futebol".
Pela legislação brasileira, a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão de um a três anos e multa, mas apenas para os cidadãos maiores de idade, o que não se aplicaria a Diego.


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