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BASQUETE
Migué
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
A seleção tinha empacado.
A desilusão com a má campanha na Olimpíada de Barcelona lançara a comissão técnica na
mesma fogueira de vaidades que
consumia as jogadoras. O ano de
1993 prometia o fundo do poço.
Encurralada, a Confederação
Brasileira agiu. E baixou o queixo
do establishment quando formou
o novo grupo de trabalho.
Foram resgatados dois veteranos do bronze no Mundial de
1971, até então a maior proeza da
história da equipe feminina.
Waldir Pagan Peres, o treinador da seleção 22 anos antes, assumiu como supervisor. Raimundo Nonato, seu ex-assistente técnico, como chefe da delegação.
O primeiro, para cuidar do dia-a-dia, da infra-estrutura dos treinos à divisão dos quartos. O segundo, para acertar a logística
nas grandes competições.
Consultores de luxo, experientes
administradores de egos, donos
de um currículo medalhado, faziam um proveitoso contraponto
aos outros integrantes.
Pois, ao preparador físico Hermes Balbino e ao assistente Sérgio
Maroneze, juntou-se outro jovem
e antenado estudioso do esporte.
Miguel Angelo da Luz ainda
engatinhava na profissão. Meses
antes, durante um simpósio de
treinadores no Rio, chamou a
atenção da todo-poderosa técnica
Maria Helena Cardoso e, por tabela, da Confederação Brasileira.
Era um total desconhecido.
A audácia do presidente Renato
Brito Cunha de promovê-lo naquele mesmo ano à seleção principal foi encarada como um desatino. Pelos jornalistas, dirigentes,
colegas e, até mesmo, pelas atletas. "Quem é esse Zé Migué?"
Mas a comissão técnica, empíricos e CDFs unidos, "encaixou".
As jogadoras adoraram o clima
de liberdade, dentro e fora de
quadra. O talento represado aflorou. E os pódios, até então considerados inatingíveis, vieram a
galope, já no ano seguinte: a medalha de ouro no Mundial-1994 e
a de prata na Olimpíada-1996.
A atual situação do basquete
masculino lembra demais a do feminino de dez anos atrás.
Como na década passada, há
uma crescente frustração com o
desempenho internacional da seleção -ela perdeu a hegemonia
continental, deu vexames históricos nos Mundiais e afastou-se, como nunca, do cenário olímpico.
Há novamente um diagnóstico
de que o time joga amarrado, coibindo ações individuais -no último Mundial, estéril, bateu o recorde de ataques sem arremesso.
E também há um elenco jovem
e talentoso, mas dividido, disperso, alheio à mão-de-ferro do treinador -muitos nomes nem mais
atendem às convocações.
Não se espera que Gerasime Bozikis repita os arroubos de seu
igualmente polêmico antecessor,
até porque os dois cartolas têm
"diferenças irreconciliáveis".
O leitor fiel sabe, também, que
esta coluna não considerava
oportuna a demissão de Hélio
Rubens. Defendia que ele fechasse
seu ciclo no Pré-Olímpico.
Mas, já que a pancada foi dada,
talvez este seja o momento de reviver a ousadia de 1993.
Pode ser o próprio Miguel Angelo. Ou não. Pode ser um colegiado
de 1987 (Medalha, Guerrinha,
Marcel, Cadum...), credenciado
pelo brilho da última grande conquista no masculino. Ou não.
Pode ser muita coisa.
Só não pode ser a saída fácil, a
troca de seis por meia dúzia . Até
porque, nesse caso, o meia dúzia
sempre trabalhou do lado do seis.
Lâmina 1
"Quero trabalhar em um ambiente em que dúvidas sejam discutidas olho no olho. Durante todo esse tempo após o Mundial [de Indianápólis", em que o trabalho foi questionado, não vi nada ser falado sobre os cinco anos em que estive no comando, nenhuma defesa. (...) Sobretudo porque todas as decisões eram tomadas em grupo. Faltou transparência. (...) Disse que devo ter sido uma merda nesses anos todos na seleção." Hélio Rubens tem razão ao acusar as punhaladas, intencionais ou não, de seus silentes assistentes.
Tem razão, também, quando estranha a ausência de um gesto de
respaldo da CBB, que, afinal, tanto o mimou nesse quinquênio de
poucos resultados. E tem razão, por fim, na tardia auto-avaliação.
Lâmina 2
O carioca Bruno Lima, louco por basquete e doido para agitar,
criou o site www.diariodobasquete.blogger.com.br. Já é um dos
principais murais de informações de bastidores sobre o esporte.
E-mail melk@uol.com.br
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