São Paulo, terça-feira, 10 de dezembro de 2002

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FUTEBOL

A dois passos do Paraíso

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Hoje, enquanto fazia a barba no espelho, surpreendi-me cantando um antigo sucesso da Blitz. (Parênteses para os púberes: Blitz foi um septeto que fez muito sucesso nos anos 80, com seu rock leve, suas letras bem-humoradas e sua performance teatral. Evandro Mesquita, Fernanda Abreu e Lobão faziam parte da banda.)
Enquanto empunhava meu barbeador como se fosse um microfone, eu cantava: "Estou a dois passos do Paraíso, e meu amor vou te buscar, estou a dois passos do Paraíso, e nunca mais vou te deixar, estou a dois passos do Paraíso, não sei por que eu fui dizer bye bye...".
Acho que acordei pensando nessa música porque ela reflete o estado em que nós, santistas, nos encontramos. Depois de o time ter jogado como jogou e reverter a vantagem adversária, nos sentimos enlevados, contentes e com vontade de cantar: "Estou a dois tempos do Paraíso, e aquela taça vou buscar, estou a dois tempos do Paraíso, e o campeonato vou ganhar, estou a dois tempos do Paraíso, e dessa vez sinto que vai, ah, vai...".
Nos últimos 18 anos, nunca o Santos chegou tão perto do paraíso. Nunca chegamos a um último jogo com tanta vantagem.
Em 1995, na final do Brasileiro contra o Botafogo, o time precisava vencer. O mesmo aconteceu contra o São Paulo, em 2000, e, em 2001, precisávamos do empate contra o Corinthians para chegar à decisão do Paulista contra o Botafogo-SP. Essa situação desfavorável tinha pesados reflexos psicológicos e táticos, obrigando o time a atacar, deixando para o inimigo os generosos espaços na defesa.
Desta vez não. Desta vez o Santos poderá armar uma barricada com sua eficiente linha de zagueiros, ferozmente protegida pelos infatigáveis Paulo Almeida, Renato e Elano. O campo ofensivo ficará aberto, e sonharemos uma semana inteira com as escapadas de Diego, Robinho e, provavelmente, William em direção ao gol de Doni.
Realmente, os santistas estão a dois tempos do Paraíso.
Estão como aquele sujeito apertado que se vê a dois passos da porta do banheiro. Ele já nem se importa mais com o suor da testa, com a fúria das entranhas ou com a dificuldade em mover as pernas, tal a sensação de felicidade que aquela promessa de alívio propicia.
Estão como aquele sujeito faminto que, depois de um longo dia de trabalho e de um demorado congestionamento, se vê a dois passos da geladeira onde guarda o derradeiro pedaço da pizza de ontem. Seu estômago produz selvagens grunhidos, e sua boca saliva como uma cachoeira.
Estão como aquele sujeito que reencontra uma antiga paixão, leva-a para jantar num restaurante caro, consegue convencê-la a deixá-lo subir para tomar um café e ouve a divina moça dizer: "Espera só um pouquinho, vou tirar essa roupa e já volto".
Os santistas estão a dois tempos do Paraíso, mas é preciso moderar o otimismo e fazer todos os esforços para acabar esta longa caminhada. Não podemos esquecer que a porta do banheiro pode estar trancada, que o cunhado pode ter comido o último pedaço de pizza e, principalmente, não podemos esquecer que a divina moça pode voltar do quarto vestindo um hábito de freira e dizer: "Eu não te contei? Pois é, virei freira".
Estamos a dois tempos do Paraíso, mas é preciso tomar cuidado para não escorregar para as profundezas do Inferno.

Substituição 1
Preto, que substituiu André Luiz, saiu-se tão bem que pode até ser mantido na final. Ele foi eficiente nos desarmes e surpreendeu nas jogadas aéreas. Além disso, faz menos faltas que André e parece ser mais frio que o companheiro.

Substituição 2
Michel também esteve bem e não será surpresa se ficar no lugar de Maurinho. É mais rápido e pode ser importante para marcar Kléber e Gil.

Substituição 3
No Corinthians, Fabrício ficou abaixo de Fabinho, e dali saiu o segundo gol santista.

Substituição 4
A grande questão é quem vai substituir Alberto. A escolha mais óbvia é William, que, quando entra nos segundos tempos, costuma se dar bem. Ele tem um toque mais refinado, mas é menos goleador.

E-mail torero@uol.com.br


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