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FUTEBOL
A dois passos do Paraíso
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Hoje, enquanto fazia a barba
no espelho, surpreendi-me
cantando um antigo sucesso da
Blitz. (Parênteses para os púberes:
Blitz foi um septeto que fez muito
sucesso nos anos 80, com seu rock
leve, suas letras bem-humoradas
e sua performance teatral. Evandro Mesquita, Fernanda Abreu e
Lobão faziam parte da banda.)
Enquanto empunhava meu
barbeador como se fosse um microfone, eu cantava: "Estou a dois
passos do Paraíso, e meu amor
vou te buscar, estou a dois passos
do Paraíso, e nunca mais vou te
deixar, estou a dois passos do Paraíso, não sei por que eu fui dizer
bye bye...".
Acho que acordei pensando
nessa música porque ela reflete o
estado em que nós, santistas, nos
encontramos. Depois de o time ter
jogado como jogou e reverter a
vantagem adversária, nos sentimos enlevados, contentes e com
vontade de cantar: "Estou a dois
tempos do Paraíso, e aquela taça
vou buscar, estou a dois tempos
do Paraíso, e o campeonato vou
ganhar, estou a dois tempos do
Paraíso, e dessa vez sinto que vai,
ah, vai...".
Nos últimos 18 anos, nunca o
Santos chegou tão perto do paraíso. Nunca chegamos a um último
jogo com tanta vantagem.
Em 1995, na final do Brasileiro
contra o Botafogo, o time precisava vencer. O mesmo aconteceu
contra o São Paulo, em 2000, e,
em 2001, precisávamos do empate
contra o Corinthians para chegar
à decisão do Paulista contra o Botafogo-SP. Essa situação desfavorável tinha pesados reflexos psicológicos e táticos, obrigando o time
a atacar, deixando para o inimigo os generosos espaços na defesa.
Desta vez não. Desta vez o Santos poderá armar uma barricada
com sua eficiente linha de zagueiros, ferozmente protegida pelos
infatigáveis Paulo Almeida, Renato e Elano. O campo ofensivo
ficará aberto, e sonharemos uma
semana inteira com as escapadas
de Diego, Robinho e, provavelmente, William em direção ao gol
de Doni.
Realmente, os santistas estão a
dois tempos do Paraíso.
Estão como aquele sujeito apertado que se vê a dois passos da
porta do banheiro. Ele já nem se
importa mais com o suor da testa,
com a fúria das entranhas ou com
a dificuldade em mover as pernas, tal a sensação de felicidade
que aquela promessa de alívio
propicia.
Estão como aquele sujeito faminto que, depois de um longo
dia de trabalho e de um demorado congestionamento, se vê a dois
passos da geladeira onde guarda
o derradeiro pedaço da pizza de
ontem. Seu estômago produz selvagens grunhidos, e sua boca saliva como uma cachoeira.
Estão como aquele sujeito que
reencontra uma antiga paixão,
leva-a para jantar num restaurante caro, consegue convencê-la
a deixá-lo subir para tomar um
café e ouve a divina moça dizer:
"Espera só um pouquinho, vou tirar essa roupa e já volto".
Os santistas estão a dois tempos
do Paraíso, mas é preciso moderar o otimismo e fazer todos os esforços para acabar esta longa caminhada. Não podemos esquecer
que a porta do banheiro pode estar trancada, que o cunhado pode
ter comido o último pedaço de
pizza e, principalmente, não podemos esquecer que a divina moça pode voltar do quarto vestindo
um hábito de freira e dizer: "Eu
não te contei? Pois é, virei freira".
Estamos a dois tempos do Paraíso, mas é preciso tomar cuidado para não escorregar para as
profundezas do Inferno.
Substituição 1
Preto, que substituiu André
Luiz, saiu-se tão bem que pode até ser mantido na final.
Ele foi eficiente nos desarmes
e surpreendeu nas jogadas
aéreas. Além disso, faz menos
faltas que André e parece ser
mais frio que o companheiro.
Substituição 2
Michel também esteve bem e
não será surpresa se ficar no
lugar de Maurinho. É mais
rápido e pode ser importante
para marcar Kléber e Gil.
Substituição 3
No Corinthians, Fabrício ficou abaixo de Fabinho, e dali
saiu o segundo gol santista.
Substituição 4
A grande questão é quem vai
substituir Alberto. A escolha
mais óbvia é William, que,
quando entra nos segundos
tempos, costuma se dar bem.
Ele tem um toque mais refinado, mas é menos goleador.
E-mail torero@uol.com.br
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