São Paulo, quarta-feira, 11 de fevereiro de 2004

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FUTEBOL

Dois clubes de tradição

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Não me refiro ao Real Madrid, Milan, Manchester United, nem a um grande clube brasileiro da primeira divisão, e sim aos dois Américas, que brilharam no final de semana.
Após o empate por 2 a 2 contra o América, o vice-presidente do Cruzeiro, Zezé Perrella, desrespeitou o rival e suas tradições ao dizer que o América não deveria existir. Orgulho-me de ter atuado nos juvenis do América antes de me transferir para o Cruzeiro. O América foi decacampeão mineiro. Antes do Mineirão, o grande jogo em Minas Gerais era entre Atlético e América, o chamado "clássico das multidões".
No Rio, o América passeou pela avenida cheia de buracos da defesa do Flamengo. Pior, só as estradas do país. A defesa do Mengo e as estradas precisam de urgentes reformas. Não sei se haverá consertos, tal a gravidade da situação. Talvez seja melhor construir novas estradas e contratar novos defensores.
Os problemas defensivos do Flamengo não são só individuais, mas o Júnior Baiano deveria treinar mais e se preparar melhor fisicamente. Não sei se vai adiantar. Corre-se o risco de ele retornar pior. Tudo tem o seu tempo.
Antes da vitória, o América homenageou os seus ilustres torcedores, como José Trajano, que deu nome à sala de imprensa do clube. Foi bonito ver o Trajano feliz e emocionado nas arquibancadas, vibrando com o seu time. Trajano, referência do bom jornalismo esportivo, recuperou o menino-torcedor Zezinho, que esperava esse momento para renascer. O passado está sempre presente.

Jogos bons e ruins
Passei o fim de semana diante da TV. Vi jogos bons e ruins, no Brasil e no exterior. Estou viciado em futebol, como os "loucos" da ESPN Brasil. Pelo menos, assisti a um bom filme, "Revelações". A atuação do Anthony Hopkins e, principalmente, a beleza e a sensualidade da Nicole Kidman valeram o ingresso de R$ 14.
Muito caro é pagar R$ 20 para ver o fraquíssimo Corinthians x Portuguesa. Cinco reais já seriam muito, como escreveu José Geraldo Couto. Juninho não é o único responsável pelas más atuações do Corinthians, já que o elenco é fraco, mas o técnico me parece assustado com o cargo. Dirigir o Corinthians é chique, como dizia o treinador, e bastante difícil.
São Paulo, Palmeiras, Santos e São Caetano estão muito melhores do que o Corinthians. No Santos, um dos destaques é o veterano Basílio. Ele é o próprio vento, pai do Euller, que é chamado de filho do vento. Antes, Basílio corria e nada acontecia. Agora, ele corre e faz os gols que se esperava do Robson (ex-Robgol). Robinho aprendeu também a finalizar. É o Robinhogol.

Carioca está melhor
O Estadual do Rio está melhor, mais vibrante, mais organizado, com ingresso mais barato e com maior público do que o Paulista.
Se jogarem todos os titulares, o Fluminense tem mais chances de ganhar o título, mas Valdyr Espinosa terá dificuldades em acertar a posição dos dois meias ofensivos (Ramon e Roger), que atuam próximos dos dois atacantes, sem fragilizar a marcação no meio-campo, mesmo com dois volantes.
Poucas equipes no mundo atuam desta maneira. A maioria tem quatro marcando no meio-campo (dois volantes e um meia de cada lado). A seleção brasileira, o Cruzeiro, o Milan e outros times têm três no meio protegendo os quatro defensores.
O Fluminense terá só dois marcando no meio. Ramon e Roger são meias-atacantes. Não são atletas de meio-campo. Espinosa vai dizer que eles vão recuar e ajudar os volantes. Os dois vão "fazer sombra", como falam os atletas. Isso não funciona. Porém a qualidade dos dois é mais importante do que detalhes táticos.

Show brasileiro
Ainda sobrou tempo para ver alguns jogos da Europa. Ronaldinho deu show, Roberto Carlos acertou outra bomba, Ronaldo fez o seu gol, e Kaká, Dida, Cafu, Emerson e Mancini jogaram bem. Não entendi por que o Emerson foi cortado da seleção por causa de uma contusão. Já Mancini é um ala, e não um lateral apoiador. São funções bem diferentes.
O famoso técnico do Arsenal, Arsene Wenger, pôs o Gilberto Silva de meia-direita. Não foi por falta de opção. Isso é tão estranho quanto colocar Ronaldinho ou Kaká de volante. Por esse e outros fatos, os melhores técnicos brasileiros são superiores à maior parte dos treinadores europeus.

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