São Paulo, Quinta-feira, 11 de Março de 1999
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Dois juízes "marelim, marelim"

MATINAS SUZUKI JR.
da Equipe de Articulistas

Sábado de sol, vou fazer um programa que não faço há tempos: sentar à arquibancada, no meio dos torcedores locais, de um pequeno estádio de futebol do interior de São Paulo, saquinho de amendoim à mão (Gilberto Vasconcellos, observador da cultura brasileira, muito tempo atrás companheiro de algumas jornadas pelo estádio do Pacaembu, dizia que sem amendoim não existiria o torcedor da arquibancada).
O pequeno estádio lota, mas o clima é acolhedor, as duas torcidas se misturam, mas não há brigas nem violência: Matão dá lições de civilidade, as meninas bonitas, sem serem molestadas, vão olhar de perto os ídolos locais -o time vinha embalado de uma festejada classificação para a segunda fase do Paulista- ou os novos sex symbols do Corinthians. Os marmanjos locais se deliciam, olhares gulosos para os bumbuns rebolantes das "farahzetes".
O jogo principal teve muitos gols. A preliminar também. E é sobre ela que quero fazer algumas observações. Não por causa dos gols. Não por causa dos times. Mas sim por causa dos juízes.
Eram dois em campo, na preliminar. Foi a primeira vez em que acompanhei, de pertinho, porque o alambrado praticamente acabava no primeiro piso da arquibancada, um jogo oficial de futebol com dois juízes. Vi e aprovei.
As vantagens são tão superiores às desvantagens que, em pouco tempo, será quase impossível se lembrar da época em que havia apenas um juiz em campo.
Os que criticam os dois juízes temem a diferença de critérios entre um e outro, mas, se elas ocorreram, ali em Matão, foram quase imperceptíveis (aliás, muitos torcedores nem sequer chegaram a perceber que existiam dois árbitros "marelim, marelim", como se diz no interior sobre a cor dos uniformes dos atuais juízes de futebol em campo).
Com apenas meio campo para correr (e um gramado pequeno como aquele), os juízes podem ficar corpo a corpo com as jogadas, o que os torna, portanto, mais capacitados para serem precisos.
A proximidade do lance gera, ainda, outro elemento muito importante para o controle psicológico das partidas: como o juiz está ali, ao lado do ocorrido, os jogadores ficam quase que bloqueados psicologicamente para reclamar.
Na cara do juiz, dificilmente têm tempo de esboçar uma reação e contestar o decidido, principalmente quando atacantes procuram simular uma penalidade dentro da área. O jogo fica mais disciplinado.
O juiz mais perto da linha de defesa também favorece um melhor acerto nas sempre polêmicas decisões sobre os impedimentos, mas, como já está provado que é impossível olhar para a bola aos pés do lançador e para o jogador lançado ao mesmo tempo, como quer a regra, para essa questão nem um árbitro para cada jogador em campo haveria de ser a solução.

No domingo, pela TV, direto da Florença dos Médicis e de Maquiavel, um espetáculo de dois grandes meio-campistas da atualidade. Do lado dos visitantes, o argentino Juan Sebastián "La Brujita" Verón, que continua com suas passadas largas e toques de primeira na bola, aliados a uma mobilidade impressionante (foi, de longe, o jogador que mais tocou na bola no disputadíssimo jogo), dava o tom do jogo do Parma.
Do lado dos locais, e é para ele que eu quero chamar a atenção, o português Rui Costa, o regista do time "purple" da Fiorentina. Se Batistuta e Edmundo são o coração vibrante e aguerrido do time da terra do "calcio" fiorentino, a alma, lusitana, é a de Rui Costa, um jogador hábil, com grande visão de jogo, em excelente fase.
Pena, para ele, que a contusão de Gabriel Batistuta e as fanfarronices de Edmundo fizeram falta à Fiorentina nas últimas rodadas e deixaram, parece, a Lazio, o time mais caro da Itália, abrir uma frente que parece irrecuperável.


Matinas Suzuki Jr. escreve às quintas e é diretor-editorial adjunto da Abril S/A


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