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Dois juízes "marelim, marelim"
MATINAS SUZUKI JR.
da Equipe de Articulistas
Sábado de sol, vou fazer um programa que não faço há tempos:
sentar à arquibancada, no meio
dos torcedores locais, de um pequeno estádio de futebol do interior de São Paulo, saquinho de
amendoim à mão (Gilberto Vasconcellos, observador da cultura
brasileira, muito tempo atrás
companheiro de algumas jornadas pelo estádio do Pacaembu, dizia que sem amendoim não existiria o torcedor da arquibancada).
O pequeno estádio lota, mas o
clima é acolhedor, as duas torcidas se misturam, mas não há brigas nem violência: Matão dá lições de civilidade, as meninas bonitas, sem serem molestadas, vão
olhar de perto os ídolos locais -o
time vinha embalado de uma festejada classificação para a segunda fase do Paulista- ou os novos
sex symbols do Corinthians. Os
marmanjos locais se deliciam,
olhares gulosos para os bumbuns
rebolantes das "farahzetes".
O jogo principal teve muitos
gols. A preliminar também. E é sobre ela que quero fazer algumas
observações. Não por causa dos
gols. Não por causa dos times.
Mas sim por causa dos juízes.
Eram dois em campo, na preliminar. Foi a primeira vez em que
acompanhei, de pertinho, porque
o alambrado praticamente acabava no primeiro piso da arquibancada, um jogo oficial de futebol com dois juízes. Vi e aprovei.
As vantagens são tão superiores
às desvantagens que, em pouco
tempo, será quase impossível se
lembrar da época em que havia
apenas um juiz em campo.
Os que criticam os dois juízes temem a diferença de critérios entre
um e outro, mas, se elas ocorreram, ali em Matão, foram quase
imperceptíveis (aliás, muitos torcedores nem sequer chegaram a
perceber que existiam dois árbitros "marelim, marelim", como se
diz no interior sobre a cor dos uniformes dos atuais juízes de futebol
em campo).
Com apenas meio campo para
correr (e um gramado pequeno
como aquele), os juízes podem ficar corpo a corpo com as jogadas,
o que os torna, portanto, mais capacitados para serem precisos.
A proximidade do lance gera,
ainda, outro elemento muito importante para o controle psicológico das partidas: como o juiz está
ali, ao lado do ocorrido, os jogadores ficam quase que bloqueados
psicologicamente para reclamar.
Na cara do juiz, dificilmente
têm tempo de esboçar uma reação
e contestar o decidido, principalmente quando atacantes procuram simular uma penalidade
dentro da área. O jogo fica mais
disciplinado.
O juiz mais perto da linha de defesa também favorece um melhor
acerto nas sempre polêmicas decisões sobre os impedimentos, mas,
como já está provado que é impossível olhar para a bola aos pés do
lançador e para o jogador lançado ao mesmo tempo, como quer a
regra, para essa questão nem um
árbitro para cada jogador em
campo haveria de ser a solução.
No domingo, pela TV, direto da
Florença dos Médicis e de Maquiavel, um espetáculo de dois
grandes meio-campistas da atualidade. Do lado dos visitantes, o
argentino Juan Sebastián "La
Brujita" Verón, que continua com
suas passadas largas e toques de
primeira na bola, aliados a uma
mobilidade impressionante (foi,
de longe, o jogador que mais tocou na bola no disputadíssimo jogo), dava o tom do jogo do Parma.
Do lado dos locais, e é para ele
que eu quero chamar a atenção, o
português Rui Costa, o regista do
time "purple" da Fiorentina. Se
Batistuta e Edmundo são o coração vibrante e aguerrido do time
da terra do "calcio" fiorentino, a
alma, lusitana, é a de Rui Costa,
um jogador hábil, com grande visão de jogo, em excelente fase.
Pena, para ele, que a contusão
de Gabriel Batistuta e as fanfarronices de Edmundo fizeram falta à
Fiorentina nas últimas rodadas e
deixaram, parece, a Lazio, o time
mais caro da Itália, abrir uma
frente que parece irrecuperável.
Matinas Suzuki Jr. escreve às quintas e é diretor-editorial adjunto da Abril S/A
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