São Paulo, quinta-feira, 11 de março de 2004

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FUTEBOL

Mulheres abandonadas

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Hoje deu uma vontade de falar de tênis... Mas ficarei com os problemas de outra modalidade: futebol feminino. Uma categoria tão desprezada por estas bandas que, após o Pré-Olímpico do Chile, a maior parte da torcida gritou: "O futebol brasileiro está fora da Olimpíada!". Depois de um tempo, a ficha caiu: "É mesmo, as mulheres vão jogar".
Não surpreende que o público se esqueça das meninas. Que tratamento elas recebem da própria entidade que as representa? São cidadãs de segunda classe, que se mudam para um hotel quando a seleção masculina se instala na Granja Comary...
Ninguém é louco de negar que a cultura do futebol seja predominantemente masculina, mas a missão de federações e confederações é promover o esporte em todas as suas categorias, investindo especialmente nos setores mais carentes -ou estou enganada?
O presidente da Federação Paulista de Luta Olímpica, por exemplo, não perde uma oportunidade de dizer que mulheres também podem lutar; cita exemplos de lutadoras e convida as interessadas para um teste. E o que fazem a FPF, a CBF? Nada, a não ser por espasmos eventuais. Não incentivam mulheres a jogar (nem os homens, na verdade) e não criam condições para as jogadoras já interessadas competirem.
A situação das atletas da seleção às vésperas da convocação (que ninguém sabia quando viria) era lamentável. Muitas estavam inativas, tentando se manter em forma no quintal de casa. Algumas jogavam futsal, outras batiam bola com os vizinhos.
Imagine se a seleção masculina enfrentasse as mesmas condições e conseguisse colocações razoáveis (ou muito boas!) em torneios internacionais. Seria um feito tão espetacular quanto a classificação de Andorra para uma Copa.
O programa "Histórias do Esporte", da ESPN Brasil, visitou a casa de Maicon, no interior do RS -uma jogadora que faz parte da seleção brasileira há muito tempo e parece tudo, menos uma pessoa bem-sucedida em sua atividade. Se fosse um documentário em um país africano, diríamos: "Nossa, como eles são pobres".
Na lista da convocação, consta que ela é atleta do Grêmio. Mentira, o time nem existe mais. Outras informações estão incorretas, o que é comum. No Pan, a CBF informava que Kátia Cilene e Pretinha estavam fora da seleção porque seus times não as tinham liberado. Mas Kátia se recuperava de cirurgia de emergência no abdome, e Pretinha, de uma cirurgia no joelho (machucado num amistoso da seleção!). É como se a CBV não soubesse o estado de saúde de uma atleta brasileira na Itália -um absurdo.
A CBF tem o que outras federações sonham conseguir: visibilidade e interesse natural por seu esporte, muito dinheiro da TV e dos patrocinadores. Ela não investe na massa e lucra com a elite. Poderia perfeitamente manter uma seleção feminina permanente. Não resolveria os problemas do futebol feminino no Brasil, mas garantiria a atividade e o sustento das melhores jogadoras.

Uso de imagem
O contrato da CBF com a Nike deveria prever a realização de um comercial com as meninas, nos moldes dos filmes espetaculares com os meninos. Com a Pretinha e todas as pretinhas, por favor... Tudo bem, podem incluir a Milene.

Agora, o tênis
É muito difícil concordar com algumas afirmações do presidente da CBT. Como esta, do comunicado de anteontem: "Entendo que o capitão [da Davis] é o elo entre a CBT e os jogadores". É para isso que serve o capitão? Correndo o risco de ser chamado de amarelão ou de mascarado, Guga fez o que muitas vezes cobramos dos atletas: tomou posição firme quanto aos rumos do seu esporte, dos quais discorda.

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


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