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FUTEBOL
Mulheres abandonadas
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Hoje deu uma vontade de
falar de tênis... Mas ficarei
com os problemas de outra modalidade: futebol feminino. Uma categoria tão desprezada por estas
bandas que, após o Pré-Olímpico
do Chile, a maior parte da torcida
gritou: "O futebol brasileiro está
fora da Olimpíada!". Depois de
um tempo, a ficha caiu: "É mesmo, as mulheres vão jogar".
Não surpreende que o público se
esqueça das meninas. Que tratamento elas recebem da própria
entidade que as representa? São
cidadãs de segunda classe, que se
mudam para um hotel quando a
seleção masculina se instala na
Granja Comary...
Ninguém é louco de negar que a
cultura do futebol seja predominantemente masculina, mas a
missão de federações e confederações é promover o esporte em todas as suas categorias, investindo
especialmente nos setores mais
carentes -ou estou enganada?
O presidente da Federação Paulista de Luta Olímpica, por exemplo, não perde uma oportunidade
de dizer que mulheres também
podem lutar; cita exemplos de lutadoras e convida as interessadas
para um teste. E o que fazem a
FPF, a CBF? Nada, a não ser por
espasmos eventuais. Não incentivam mulheres a jogar (nem os homens, na verdade) e não criam
condições para as jogadoras já interessadas competirem.
A situação das atletas da seleção às vésperas da convocação
(que ninguém sabia quando viria) era lamentável. Muitas estavam inativas, tentando se manter
em forma no quintal de casa. Algumas jogavam futsal, outras batiam bola com os vizinhos.
Imagine se a seleção masculina
enfrentasse as mesmas condições
e conseguisse colocações razoáveis (ou muito boas!) em torneios
internacionais. Seria um feito tão
espetacular quanto a classificação de Andorra para uma Copa.
O programa "Histórias do Esporte", da ESPN Brasil, visitou a
casa de Maicon, no interior do RS
-uma jogadora que faz parte da
seleção brasileira há muito tempo
e parece tudo, menos uma pessoa
bem-sucedida em sua atividade.
Se fosse um documentário em um
país africano, diríamos: "Nossa,
como eles são pobres".
Na lista da convocação, consta
que ela é atleta do Grêmio. Mentira, o time nem existe mais. Outras informações estão incorretas,
o que é comum. No Pan, a CBF
informava que Kátia Cilene e
Pretinha estavam fora da seleção
porque seus times não as tinham
liberado. Mas Kátia se recuperava de cirurgia de emergência no
abdome, e Pretinha, de uma cirurgia no joelho (machucado
num amistoso da seleção!). É como se a CBV não soubesse o estado de saúde de uma atleta brasileira na Itália -um absurdo.
A CBF tem o que outras federações sonham conseguir: visibilidade e interesse natural por seu
esporte, muito dinheiro da TV e
dos patrocinadores. Ela não investe na massa e lucra com a elite.
Poderia perfeitamente manter
uma seleção feminina permanente. Não resolveria os problemas
do futebol feminino no Brasil,
mas garantiria a atividade e o
sustento das melhores jogadoras.
Uso de imagem
O contrato da CBF com a Nike
deveria prever a realização de
um comercial com as meninas,
nos moldes dos filmes espetaculares com os meninos. Com a
Pretinha e todas as pretinhas,
por favor... Tudo bem, podem
incluir a Milene.
Agora, o tênis
É muito difícil concordar com
algumas afirmações do presidente da CBT. Como esta, do
comunicado de anteontem:
"Entendo que o capitão [da Davis] é o elo entre a CBT e os jogadores". É para isso que serve
o capitão? Correndo o risco de
ser chamado de amarelão ou de
mascarado, Guga fez o que
muitas vezes cobramos dos
atletas: tomou posição firme
quanto aos rumos do seu esporte, dos quais discorda.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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