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BASQUETE
Justiça em dobro
MELCHIADES FILHO
COLUNISTA DA FOLHA
Em menos de um ano, o Dallas Mavericks deixou de ser
um time vulnerável, ridicularizado pela falta de ímpeto e qualidade na marcação. Hoje, ostenta a
sétima defesa menos vazada e
ocupa posições de destaque nos
rankings coletivos de rebotes (terceira) e tocos (segunda). Não à
toa, ascendeu na tabela, com a
terceira melhor campanha da
NBA (58 vitórias em 77 rodadas).
Dirk Nowitzki teve papel importante nessa pequena revolução. Ele aprendeu a dar combate
aos corta-luzes, a não tropeçar no
vaivém das coberturas. Passou a
ser usado como uma segunda linha na retaguarda, deslocando-se para coibir chutes de média
distância e afunilar infiltrações.
Parece pouco, mas fez muita diferença. O ala-pivô alemão era
justamente a peça mais frágil do
sistema defensivo texano.
Mas isso bastaria para legitimar a presença do cestinha entre
os concorrentes ao troféu de craque da temporada? Faria sentido
premiá-lo só porque parou de dar
vexame na marcação? Não e não.
Contudo, como já alertei aqui,
analisar o basquete em metades é
assumir o risco de entendê-lo...
pela metade. O ataque nasce antes de a equipe retomar a bola (a
posição e a atitude dos marcadores definem o desenho e o sucesso
da ação ofensiva). E a defesa é delineada pela estratégia (cadência,
itinerário e envolvimento) adotada para criar os arremessos.
Nesse sentido, à revolução na
defesa do Dallas corresponde
uma outra, no ataque. O azar de
Nowitzki é que poucos falam dela, dessa revolução silenciosa.
Em 2003/2004, ninguém corria
mais e melhor do que os texanos.
Steve Nash puxava os contra-ataques, e o alemão ganhava notoriedade por traduzi-los em cestas.
No campeonato passado, apesar da saída de Nash para o Phoenix, o ritmo manteve-se acelerado. O time cravou o nono lugar
em posses de bola por minuto, e o
alemão pontuou como nunca.
Neste ano, porém, o clube desligou o motor e despencou para
25º. É isso mesmo. Só cinco adversário são tão cautelosos (quer dizer, lentos) quanto o Dallas.
A mão do técnico Avery Johnson não parou por aí. Na contramão da liga, que tem privilegiado
o basquete de troca de passes, ele
orientou os comandados a procurar a cesta por meio de "isolamentos": um atleta cria, os colegas esperam para ver no que dá.
Por isso os Mavericks aparecem
na penúltima colocação em assistências por jogo (18,1) e na lanterna em cestas "financiadas" por
assistências (50% do total).
Se você gosta de apontar o LA
Lakers como símbolo de equipe-de-um-jogador-só (no caso, o fabuloso Kobe Bryant), está na hora
de rever o discurso. Os californianos são bem mais solidários do
que os texanos. Registram em média 20,9 passes perfeitos e uma relação assistência/cesta de 57,7%.
O principal "one man show" da
NBA está em cartaz em Dallas.
Do alto do garrafão, Nowitzki define a sorte de todo ataque da
equipe, um desafio novo (e ingrato!) a que ele respondeu com recordes pessoais de pontos (26,6) e
pontaria (48,3% nos arremessos,
41,2% nos de três pontos e 89,6%
nos lances livres). Eis o homem!
MVP 1
Dos candidatos à taça de "most valuable player", Nowitzki é o único
que não usufrui a companhia de outro All-Star na formação titular
de seu time. Recompensá-lo significaria, também, reconhecer a valiosa contribuição internacional à NBA (Manu, D'Antoni...).
MVP 2
Lakers de volta aos playoffs, 81 pontos em uma partida, cestinha da
liga... Foi duro não dar o troféu a Kobe, que, com a decadência física
de Tim Duncan, assumiu o trono de melhor jogador do mundo.
MVP 3
Não sabe (ou se lembra) por que tirei do páreo LeBron, Nash, Billups
e outros gênios? A coluna passada está no melk.blog.uol.com.br.
E-mail - melk@uol.com.br
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