São Paulo, terça-feira, 11 de abril de 2006

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FUTEBOL

Alegria e ambição em preto e branco

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Às vezes, o torcedor espera que uma análise seja na base do "preto" ou "branco", como as cores das camisas dos campeões em São Paulo e no Rio. Não cabem nuances, ou mesmo o listrado... É tudo ou nada, ótimo ou péssimo. Por isso aparecem comentários do tipo "vocês vão ter de engolir as críticas" -se um time criticado for campeão, tudo de negativo que foi dito a respeito dele tem de ser retirado.
O Brasil foi penta em 2002, então ninguém mais pode dizer que aquela seleção não era das mais lindas, que passamos um sufoco danado contra a Bélgica e que fomos beneficiados por alguns erros de arbitragem? Ronaldo foi decisivo, então quem duvidava da capacidade dele tem de ajoelhar no milho, em penitência?
Passei o campeonato resmungando que não via graça no futebol do Santos. Não é porque ele foi confirmado campeão que vou dizer que mudei de idéia... O próprio Luxemburgo, na coletiva após o jogo, recusou-se a considerar o Santos superior aos outros grandes ("Ainda falta muito; precisamos melhorar").
Precisa melhorar o ataque, por exemplo. Anteontem, diante de uma defesa fraquíssima -pobre Portuguesa, que desastre, marcou até contra-, só fez um gol... (Na verdade, dois -um, legítimo, foi anulado. Ainda assim, é pouco.)
Também concordo com Luxemburgo quando ele critica a mania de desvalorizar o time para valorizar o treinador, e vice-versa. Ver um grupo de bons jogadores e dizer "com esse grupo, até eu" é uma injustiça que já cometeram muitas vezes contra o próprio Luxemburgo. Escolher os nomes certos e fazer com que suas qualidades se manifestem também são méritos do treinador... Mas é óbvio que o elenco do Santos não causa inveja nos rivais e que o técnico foi decisivo na conquista.
Já quando ele diz que "o grupo ficou fortalecido depois que decidi dispensar o Luizão, o Giovanni e o Cláudio Pitbull", não concordo, não... Pode até ser que os jogadores tenham se unido, se "fechado". Mas ainda acho que o grupo poderia ter se beneficiado da presença do Giovanni, cuja categoria cairia bem nesse meio-campo.
Nos desabafos compreensíveis dos jogadores depois da conquista -não deve ser fácil ouvir o tempo todo que "o time é fraco e não dá espetáculo"-, alguns chegaram a "prometer" que o time vai continuar "jogando feio" em busca de novos títulos. Bobagem. O maior destaque da equipe, o volante Maldonado, joga "bonito". Ele se mata, se desdobra, mas não perde a lucidez...
O importante agora, sem precisar abrir mão da alegria, é reconhecer que a conquista final, como várias das vitórias que levaram a ela, foi apertada. Terminar o Paulista à frente do São Paulo e seu belo elenco, do Corinthians e seus astros e do Palmeiras... bem, do Palmeiras de Leão, é um feito digno de orgulho. Mas a ambição ressuscitada nos últimos anos tem de se fazer presente agora, e os santistas precisam querer mais do que já têm. Se parte dos atletas e da torcida não está convencida disso, Luxemburgo deve estar.

Alegria e ambição 2
No ano passado, depois do milagre contra o Cianorte, muitos apostaram: "Agora vai". Depois da virada incrível da semana passada no Chile, os corintianos ficaram justificadamente alegres e orgulhosos -mas um tanto confiantes demais. Assim como a derrota do São Paulo no Morumbi não é prova de decadência, as vitórias de Corinthians e Palmeiras não são demonstrações inequívocas de que esses times estão ótimos.

Recapitulando
Não achava a seleção de 2002 uma maravilha e continuo não achando. E, apesar de torcer pela convocação de outros atacantes nas eliminatórias, apostei, no final, que Ronaldo podia fazer uma boa Copa -mas não condeno quem duvidava.


E-mail - soninha.folha@uol.com.br

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