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FUTEBOL
Alegria e ambição em preto e branco
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Às vezes, o torcedor espera
que uma análise seja na base
do "preto" ou "branco", como as
cores das camisas dos campeões
em São Paulo e no Rio. Não cabem nuances, ou mesmo o listrado... É tudo ou nada, ótimo ou
péssimo. Por isso aparecem comentários do tipo "vocês vão ter
de engolir as críticas" -se um time criticado for campeão, tudo
de negativo que foi dito a respeito
dele tem de ser retirado.
O Brasil foi penta em 2002, então ninguém mais pode dizer que
aquela seleção não era das mais
lindas, que passamos um sufoco
danado contra a Bélgica e que fomos beneficiados por alguns erros
de arbitragem? Ronaldo foi decisivo, então quem duvidava da capacidade dele tem de ajoelhar no
milho, em penitência?
Passei o campeonato resmungando que não via graça no futebol do Santos. Não é porque ele foi
confirmado campeão que vou dizer que mudei de idéia... O próprio Luxemburgo, na coletiva
após o jogo, recusou-se a considerar o Santos superior aos outros
grandes ("Ainda falta muito; precisamos melhorar").
Precisa melhorar o ataque, por
exemplo. Anteontem, diante de
uma defesa fraquíssima -pobre
Portuguesa, que desastre, marcou
até contra-, só fez um gol... (Na
verdade, dois -um, legítimo, foi
anulado. Ainda assim, é pouco.)
Também concordo com Luxemburgo quando ele critica a mania
de desvalorizar o time para valorizar o treinador, e vice-versa. Ver
um grupo de bons jogadores e dizer "com esse grupo, até eu" é
uma injustiça que já cometeram
muitas vezes contra o próprio Luxemburgo. Escolher os nomes certos e fazer com que suas qualidades se manifestem também são
méritos do treinador... Mas é óbvio que o elenco do Santos não
causa inveja nos rivais e que o técnico foi decisivo na conquista.
Já quando ele diz que "o grupo
ficou fortalecido depois que decidi
dispensar o Luizão, o Giovanni e
o Cláudio Pitbull", não concordo,
não... Pode até ser que os jogadores tenham se unido, se "fechado". Mas ainda acho que o grupo
poderia ter se beneficiado da presença do Giovanni, cuja categoria
cairia bem nesse meio-campo.
Nos desabafos compreensíveis
dos jogadores depois da conquista
-não deve ser fácil ouvir o tempo todo que "o time é fraco e não
dá espetáculo"-, alguns chegaram a "prometer" que o time vai
continuar "jogando feio" em busca de novos títulos. Bobagem. O
maior destaque da equipe, o volante Maldonado, joga "bonito".
Ele se mata, se desdobra, mas não
perde a lucidez...
O importante agora, sem precisar abrir mão da alegria, é reconhecer que a conquista final, como várias das vitórias que levaram a ela, foi apertada. Terminar
o Paulista à frente do São Paulo e
seu belo elenco, do Corinthians e
seus astros e do Palmeiras... bem,
do Palmeiras de Leão, é um feito
digno de orgulho. Mas a ambição
ressuscitada nos últimos anos tem
de se fazer presente agora, e os
santistas precisam querer mais do
que já têm. Se parte dos atletas e
da torcida não está convencida
disso, Luxemburgo deve estar.
Alegria e ambição 2
No ano passado, depois do milagre contra o Cianorte, muitos
apostaram: "Agora vai". Depois da virada incrível da semana passada no Chile, os corintianos ficaram justificadamente
alegres e orgulhosos -mas um
tanto confiantes demais. Assim
como a derrota do São Paulo no
Morumbi não é prova de decadência, as vitórias de Corinthians e Palmeiras não são demonstrações inequívocas de
que esses times estão ótimos.
Recapitulando
Não achava a seleção de 2002
uma maravilha e continuo não
achando. E, apesar de torcer pela convocação de outros atacantes nas eliminatórias, apostei, no final, que Ronaldo podia
fazer uma boa Copa -mas não
condeno quem duvidava.
E-mail - soninha.folha@uol.com.br
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