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A família da F-1
da Reportagem Local
Dona de um universo restrito e
bastante exclusivo, a F-1 movimenta milhões de dólares em torno de 22 seres que, por habilidade,
sorte ou oportunismo, constituem
o que se costuma considerar a nata
do automobilismo mundial.
Entre os US$ 33 milhões do salário anual da estrela maior, Michael
Schumacher, aos US$ 200 mil que
Stéphane Sarrazin está pagando
para correr na pior equipe do grid,
a Minardi, há todo o tipo de piloto.
Em comum, apenas a vontade de
vencer, seja por dinheiro e fama,
seja para saciar algum desejo íntimo inexplicável.
Dos 22 inscritos na corrida de
hoje, apenas dez chegaram lá. Só
quatro foram campeões. Um único
repetiu o feito. Para muitos, prova
cabal de que a F-1 atual perdeu o
brilho e o charme de outros tempos, quando a disputa, pelo menos
na memória, parecia equilibrada.
Na última semana, o australiano
Jack Brabham, tricampeão mundial entre 1959 e 1966, hoje com 73
anos, afirmou que ser piloto de F-1
nos dias atuais "é muito fácil".
Certo ou errado, Brabham viveu
o apogeu e o declínio da chamada
era romântica da F-1, quando os
dirigentes do esporte resolveram
transformar uma competição de
cavalheiros (alguns, nem tão cavalheiros assim) em uma complexa
máquina de fazer dinheiro.
Iniciou-se, então, a era profissional: a invasão dos patrocinadores,
o envolvimento das grandes montadoras, a transmissão via satélite,
uma verdadeira revolução.
Um mundo extremo, de contratos leoninos, donos de equipe inescrupulosos, pilotos ingênuos, empresários espertos.
Ser piloto de F-1 hoje exige mais
do que o apertar de botões que
Brabham tanto critica. Exige estar
cercado por especialistas, fazer esse time funcionar, aproveitar as
oportunidades e, por vezes, ultrapassar alguns limites do razoável.
Nesse cenário, fica difícil imaginar que existam amizades dentro
da F-1. Que haja uma unidade em
um grupo tão heterogêneo, de hábitos tão diferentes.
Mas ela existe, mesmo que de
forma tênue e sem um motivo aparente. Para o público, por exemplo,
os rivais pela disputa do título de
1997, Schumacher e Jacques Villeneuve nunca se falam.
Sim, é verdade. Mas são capazes
também de se embriagarem juntos, no mesmo dia em que o alemão inutilmente jogou o carro no
canadense, na festa de encerramento da temporada.
Ou de disputarem rachas nas
ruas de Buenos Aires, a caminho
do autódromo, em plena manhã
de treinos -prática comum entre
os pilotos que, invariavelmente,
andam de carro alugado.
O mais fácil é acreditar que nenhum deles está ali para fazer amigos. Como em uma sala de aula, estão ali, frequentando o mesmo ambiente, muitas vezes sem poder escolher quem vai sentar ao lado.
Às vezes dá certo. Eddie Irvine e
Schumacher são um exemplo, apesar de muita gente acreditar que o
bom relacionamento dos ferraristas seja mero fruto de um contrato.
Assim como se acredita que Mika Hakkinen seja uma pessoa simpática e, na verdade, não passe de
um sujeito reservado, capaz de se
casar sem ninguém ficar sabendo.
Ou que Villeneuve continue
aquele "outsider" proveniente da
Indy, hoje, uma das figuras mais
ranzinzas da categoria, transformação que reflete, de certa forma,
a sua própria trajetória na pista.
Mesmo assim, no Japão, quando
for tirada a segunda foto oficial do
ano (a primeira, abaixo, é da Austrália), eles se parecerão iguais. A
não ser pelo fato de que um deles
será certamente campeão.
(JOSÉ HENRIQUE MARIANTE e FÁBIO SEIXAS)
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