São Paulo, Domingo, 11 de Abril de 1999
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A família da F-1

da Reportagem Local

Dona de um universo restrito e bastante exclusivo, a F-1 movimenta milhões de dólares em torno de 22 seres que, por habilidade, sorte ou oportunismo, constituem o que se costuma considerar a nata do automobilismo mundial.
Entre os US$ 33 milhões do salário anual da estrela maior, Michael Schumacher, aos US$ 200 mil que Stéphane Sarrazin está pagando para correr na pior equipe do grid, a Minardi, há todo o tipo de piloto.
Em comum, apenas a vontade de vencer, seja por dinheiro e fama, seja para saciar algum desejo íntimo inexplicável.
Dos 22 inscritos na corrida de hoje, apenas dez chegaram lá. Só quatro foram campeões. Um único repetiu o feito. Para muitos, prova cabal de que a F-1 atual perdeu o brilho e o charme de outros tempos, quando a disputa, pelo menos na memória, parecia equilibrada.
Na última semana, o australiano Jack Brabham, tricampeão mundial entre 1959 e 1966, hoje com 73 anos, afirmou que ser piloto de F-1 nos dias atuais "é muito fácil".
Certo ou errado, Brabham viveu o apogeu e o declínio da chamada era romântica da F-1, quando os dirigentes do esporte resolveram transformar uma competição de cavalheiros (alguns, nem tão cavalheiros assim) em uma complexa máquina de fazer dinheiro.
Iniciou-se, então, a era profissional: a invasão dos patrocinadores, o envolvimento das grandes montadoras, a transmissão via satélite, uma verdadeira revolução.
Um mundo extremo, de contratos leoninos, donos de equipe inescrupulosos, pilotos ingênuos, empresários espertos.
Ser piloto de F-1 hoje exige mais do que o apertar de botões que Brabham tanto critica. Exige estar cercado por especialistas, fazer esse time funcionar, aproveitar as oportunidades e, por vezes, ultrapassar alguns limites do razoável.
Nesse cenário, fica difícil imaginar que existam amizades dentro da F-1. Que haja uma unidade em um grupo tão heterogêneo, de hábitos tão diferentes.
Mas ela existe, mesmo que de forma tênue e sem um motivo aparente. Para o público, por exemplo, os rivais pela disputa do título de 1997, Schumacher e Jacques Villeneuve nunca se falam.
Sim, é verdade. Mas são capazes também de se embriagarem juntos, no mesmo dia em que o alemão inutilmente jogou o carro no canadense, na festa de encerramento da temporada.
Ou de disputarem rachas nas ruas de Buenos Aires, a caminho do autódromo, em plena manhã de treinos -prática comum entre os pilotos que, invariavelmente, andam de carro alugado.
O mais fácil é acreditar que nenhum deles está ali para fazer amigos. Como em uma sala de aula, estão ali, frequentando o mesmo ambiente, muitas vezes sem poder escolher quem vai sentar ao lado.
Às vezes dá certo. Eddie Irvine e Schumacher são um exemplo, apesar de muita gente acreditar que o bom relacionamento dos ferraristas seja mero fruto de um contrato.
Assim como se acredita que Mika Hakkinen seja uma pessoa simpática e, na verdade, não passe de um sujeito reservado, capaz de se casar sem ninguém ficar sabendo.
Ou que Villeneuve continue aquele "outsider" proveniente da Indy, hoje, uma das figuras mais ranzinzas da categoria, transformação que reflete, de certa forma, a sua própria trajetória na pista.
Mesmo assim, no Japão, quando for tirada a segunda foto oficial do ano (a primeira, abaixo, é da Austrália), eles se parecerão iguais. A não ser pelo fato de que um deles será certamente campeão. (JOSÉ HENRIQUE MARIANTE e FÁBIO SEIXAS)



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