São Paulo, sábado, 11 de maio de 2002

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NATAÇÃO

Afro-Brasileiro reúne hoje mil atletas e tenta apagar a polêmica tese da raça como fator inibidor na modalidade

Torneio abre debate sobre "limite" negro

GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Eles são hegemônicos no atletismo, astros no futebol, ídolos no basquete e divindades no boxe. Mas na natação as performances de atletas negros raramente merecem registro. Por quê?
Além de buscar respostas práticas para essa questão, o 1º Torneio Afro-Brasileiro, que reúne hoje, no Baby Barioni, em São Paulo, quase mil nadadores, tenta pôr fim à polêmica tese de que a cor da pele faz diferença nas piscinas.
Promovida pela Federação Aquática Paulista, a competição contará com a presença do surinamês Anthony Nesty, único negro a conquistar uma medalha de ouro na história das Olimpíadas.
"Para conseguir bons resultados na natação, é preciso ter um bom suporte: pais que incentivem, bons treinadores e oportunidades para treinar. Com tudo isso, não há barreiras que impeçam o sucesso", disse Nesty.
O ex-nadador sabe, porém, que as teorias que condicionam a ausência quase total de negros na modalidade às diferenças genéticas ainda são amplamente difundidas. "Mas não acredito que elas tenham valor", afirmou.
"Também acho que existem razões sociais. Mas as diferenças genéticas entre brancos e negros devem ser consideradas", relatou à Folha o escritor americano Jon Entine, um dos mais veementes defensores das teorias raciais.
Autor de "Tabu - Por que atletas negros dominam o esporte e por que temos medo de falar sobre isso", lançado nos EUA ano passado, Entine acredita que a raça define resultados em todos os esportes. A natação não foge à regra.
"Populações com ascendência africana tendem a não produzir nadadores de elite, já que seus descendentes têm esqueletos mais pesados, o que compromete a flutuabilidade na água", explica.
No Brasil, alguns atletas já comprovaram os reflexos práticos das idéias defendidas por Entine.
"Até um treinador da seleção brasileira chegou a dizer que eu não tinha físico para nadar. Ele sugeriu o atletismo", lembra Eliane Pereira, 48, primeira negra medalhista em um Sul-Americano.
O próprio Entine faz uma ressalva quando questionado sobre a aplicação de sua tese em casos como o de Nesty, Eliane e Edvaldo Valério, único negro brasileiro a nadar em uma Olimpíada e também convidado da competição.
"Nesty, assim como os negros do Brasil, são produtos de uma miscigenação racial. São negros no conceito social, mas geneticamente fogem às teorias", disse.
Os inscritos no Afro-Brasileiro disputam as baterias da prova dos 50 m livre, a única programada para o evento, a partir das 8h30.


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