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NATAÇÃO
Afro-Brasileiro reúne hoje mil atletas e tenta apagar a polêmica tese da raça como fator inibidor na modalidade
Torneio abre debate sobre "limite" negro
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
Eles são hegemônicos no atletismo, astros no futebol, ídolos no
basquete e divindades no boxe.
Mas na natação as performances
de atletas negros raramente merecem registro. Por quê?
Além de buscar respostas práticas para essa questão, o 1º Torneio
Afro-Brasileiro, que reúne hoje,
no Baby Barioni, em São Paulo,
quase mil nadadores, tenta pôr
fim à polêmica tese de que a cor
da pele faz diferença nas piscinas.
Promovida pela Federação
Aquática Paulista, a competição
contará com a presença do surinamês Anthony Nesty, único negro a conquistar uma medalha de
ouro na história das Olimpíadas.
"Para conseguir bons resultados na natação, é preciso ter um
bom suporte: pais que incentivem, bons treinadores e oportunidades para treinar. Com tudo
isso, não há barreiras que impeçam o sucesso", disse Nesty.
O ex-nadador sabe, porém, que
as teorias que condicionam a ausência quase total de negros na
modalidade às diferenças genéticas ainda são amplamente difundidas. "Mas não acredito que elas
tenham valor", afirmou.
"Também acho que existem razões sociais. Mas as diferenças genéticas entre brancos e negros devem ser consideradas", relatou à
Folha o escritor americano Jon
Entine, um dos mais veementes
defensores das teorias raciais.
Autor de "Tabu - Por que atletas
negros dominam o esporte e por
que temos medo de falar sobre isso", lançado nos EUA ano passado, Entine acredita que a raça define resultados em todos os esportes. A natação não foge à regra.
"Populações com ascendência
africana tendem a não produzir
nadadores de elite, já que seus
descendentes têm esqueletos
mais pesados, o que compromete
a flutuabilidade na água", explica.
No Brasil, alguns atletas já comprovaram os reflexos práticos das
idéias defendidas por Entine.
"Até um treinador da seleção
brasileira chegou a dizer que eu
não tinha físico para nadar. Ele
sugeriu o atletismo", lembra Eliane Pereira, 48, primeira negra medalhista em um Sul-Americano.
O próprio Entine faz uma ressalva quando questionado sobre a
aplicação de sua tese em casos como o de Nesty, Eliane e Edvaldo
Valério, único negro brasileiro a
nadar em uma Olimpíada e também convidado da competição.
"Nesty, assim como os negros
do Brasil, são produtos de uma
miscigenação racial. São negros
no conceito social, mas geneticamente fogem às teorias", disse.
Os inscritos no Afro-Brasileiro
disputam as baterias da prova dos
50 m livre, a única programada
para o evento, a partir das 8h30.
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