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MOTOR
Omertà
FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A ZELTWEG
"Não vi, não sei de nada. E,
se estivesse lá, estaria dormindo."
Esse é o preceito básico da
Omertà, a lei do silêncio adotada
pela máfia italiana e retratada
pelo nova-iorquino Mario Puzo
na sua trilogia sobre os chefões.
Encontrei outra explicação em
"A Cozinha da Máfia", do siciliano Joe Cipolla, chefe de cozinha
de Al Capone, Luck Luciano e Vito Cascio Ferro. Todos eméritos
integrantes da Cosa Nostra.
"Por que será que as testemunhas se fazem de surdas diante da
Corte? Por que sempre dão respostas imprecisas? Simples. É por
que elas respeitam a Omertà."
Esta coluna não pretende estabelecer nenhuma ligação entre as
atividades criminosas da máfia e
a Ferrari. Longe disso. A escuderia de Maranello, honestamente,
fabrica e vende seus carros. Só.
Mas a origem da equipe, o conceito de "famiglia" e o silêncio de
Rubens Barrichello antes de
anunciar sua renovação tornam
a comparação tentadora demais.
Embora já estivesse conversando com a Ferrari -em "jantares,
coisa assim", como definiu-,
Barrichello manteve-se calado
nas últimas provas. Quando alguém tocava no assunto renovação, fazia-se de surdo, assemelhando-se às tais testemunhas relatadas pelo cozinheiro Cipolla.
E assim, trabalhando calado,
seguindo as normas da Omertà
ferrarista, o brasileiro conseguiu
o melhor contrato de sua vida.
Pela primeira vez, desde que
chegou à escuderia, terá estabilidade e tranquilidade. No ano que
vem, não terá que aturar a enxurrada de boatos sobre o Mundial
seguinte, novos nomes, coisa e tal.
Barrichello vai trabalhar sem
pressão, situação inédita para ele
desde 1994, quando involuntariamente assumiu o papel de "substituto de Senna". Depois, em
2000, de macacão vermelho, tornou-se o "salvador da pátria",
aquele que iria tirar do marasmo
as manhãs de domingo.
Hoje, o cenário é outro. Todo
mundo (inclusive o próprio) sabe
do que ele é capaz. Todos sabem
que Barrichello não vai desembestar a ganhar corridas, não vai
ameaçar Schumacher, não vai se
transformar no primeiro piloto
da Ferrari a não ser que o alemão
volte a quebrar a perna.
E talvez, sem pressão, ele trabalhe melhor, possa andar mais próximo do alemão para agarrar as
chances quando elas aparecerem.
Em português bem claro: possa
vencer quando o carro de Schumacher quebrar.
Pesou na renovação, é claro, a
lealdade de Barrichello -e aqui,
outro ponto em comum com as
famílias sicilianas. Nas 39 corridas com a Ferrari, poucas vezes
entrou em atrito com o time. No
começo, as besteiras eram mais
frequentes, é verdade. Mas, do começo do ano para cá -com uma
escorregada no GP Brasil-, Barrichello passou a seguir à risca o
código de honra ferrarista.
O resultado apareceu na quinta-feira, no comunicado seco, de
apenas três linhas, distribuído aos
jornalistas em Zeltweg: Barrichel-lo foi aceito na família e irá com
Schumacher, Brawn, Byrne, Martinelli e Todt até o final.
Como acontece em todas as decisões que envolvem a competitividade da equipe, o alemão foi
consultado sobre a renovação de
Barrichello, é claro. E aprovou.
Afinal, como dizia Al Capone,
"você tem que confiar no seu
guarda-costas".
Dia das mães
O governo da Estíria, Estado austríaco onde fica Zeltweg, convidou
as mães de todos os pilotos para a corrida. Pelo último "censo", 14
delas passaram pelo autódromo ontem. No fim da tarde, tomariam chá em um hotel. Lorena Bernoldi e Ana Massa vieram. Idely
Barrichello preferiu comemorar seu dia em Mônaco.
Recomeço
Sem lugar na F-1, Ricardo Zonta tenta um reinício neste fim de semana. Amanhã, disputa em Valencia a primeira rodada da Super
Nissan, que recebe pesado investimento da Telefonica. O objetivo
ainda é cavar uma vaga na categoria máxima do automobilismo.
500 Milhas
Não dá para levar a sério uma categoria que resgata Raul Boesel da
stock car brasileira para a principal corrida do seu calendário. É
por essas e outras que Hélio Castro Neves fala em deixar a IRL.
E-mail fseixas@folhasp.com.br
Excepcionalmente hoje José Henrique
Mariante não escreve neste espaço
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