São Paulo, sábado, 11 de maio de 2002

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MOTOR

Omertà

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A ZELTWEG

"Não vi, não sei de nada. E, se estivesse lá, estaria dormindo."
Esse é o preceito básico da Omertà, a lei do silêncio adotada pela máfia italiana e retratada pelo nova-iorquino Mario Puzo na sua trilogia sobre os chefões.
Encontrei outra explicação em "A Cozinha da Máfia", do siciliano Joe Cipolla, chefe de cozinha de Al Capone, Luck Luciano e Vito Cascio Ferro. Todos eméritos integrantes da Cosa Nostra.
"Por que será que as testemunhas se fazem de surdas diante da Corte? Por que sempre dão respostas imprecisas? Simples. É por que elas respeitam a Omertà."
Esta coluna não pretende estabelecer nenhuma ligação entre as atividades criminosas da máfia e a Ferrari. Longe disso. A escuderia de Maranello, honestamente, fabrica e vende seus carros. Só.
Mas a origem da equipe, o conceito de "famiglia" e o silêncio de Rubens Barrichello antes de anunciar sua renovação tornam a comparação tentadora demais.
Embora já estivesse conversando com a Ferrari -em "jantares, coisa assim", como definiu-, Barrichello manteve-se calado nas últimas provas. Quando alguém tocava no assunto renovação, fazia-se de surdo, assemelhando-se às tais testemunhas relatadas pelo cozinheiro Cipolla.
E assim, trabalhando calado, seguindo as normas da Omertà ferrarista, o brasileiro conseguiu o melhor contrato de sua vida.
Pela primeira vez, desde que chegou à escuderia, terá estabilidade e tranquilidade. No ano que vem, não terá que aturar a enxurrada de boatos sobre o Mundial seguinte, novos nomes, coisa e tal.
Barrichello vai trabalhar sem pressão, situação inédita para ele desde 1994, quando involuntariamente assumiu o papel de "substituto de Senna". Depois, em 2000, de macacão vermelho, tornou-se o "salvador da pátria", aquele que iria tirar do marasmo as manhãs de domingo.
Hoje, o cenário é outro. Todo mundo (inclusive o próprio) sabe do que ele é capaz. Todos sabem que Barrichello não vai desembestar a ganhar corridas, não vai ameaçar Schumacher, não vai se transformar no primeiro piloto da Ferrari a não ser que o alemão volte a quebrar a perna.
E talvez, sem pressão, ele trabalhe melhor, possa andar mais próximo do alemão para agarrar as chances quando elas aparecerem. Em português bem claro: possa vencer quando o carro de Schumacher quebrar.
Pesou na renovação, é claro, a lealdade de Barrichello -e aqui, outro ponto em comum com as famílias sicilianas. Nas 39 corridas com a Ferrari, poucas vezes entrou em atrito com o time. No começo, as besteiras eram mais frequentes, é verdade. Mas, do começo do ano para cá -com uma escorregada no GP Brasil-, Barrichello passou a seguir à risca o código de honra ferrarista.
O resultado apareceu na quinta-feira, no comunicado seco, de apenas três linhas, distribuído aos jornalistas em Zeltweg: Barrichel-lo foi aceito na família e irá com Schumacher, Brawn, Byrne, Martinelli e Todt até o final.
Como acontece em todas as decisões que envolvem a competitividade da equipe, o alemão foi consultado sobre a renovação de Barrichello, é claro. E aprovou.
Afinal, como dizia Al Capone, "você tem que confiar no seu guarda-costas".

Dia das mães
O governo da Estíria, Estado austríaco onde fica Zeltweg, convidou as mães de todos os pilotos para a corrida. Pelo último "censo", 14 delas passaram pelo autódromo ontem. No fim da tarde, tomariam chá em um hotel. Lorena Bernoldi e Ana Massa vieram. Idely Barrichello preferiu comemorar seu dia em Mônaco.

Recomeço
Sem lugar na F-1, Ricardo Zonta tenta um reinício neste fim de semana. Amanhã, disputa em Valencia a primeira rodada da Super Nissan, que recebe pesado investimento da Telefonica. O objetivo ainda é cavar uma vaga na categoria máxima do automobilismo.

500 Milhas
Não dá para levar a sério uma categoria que resgata Raul Boesel da stock car brasileira para a principal corrida do seu calendário. É por essas e outras que Hélio Castro Neves fala em deixar a IRL.

E-mail fseixas@folhasp.com.br


Excepcionalmente hoje José Henrique Mariante não escreve neste espaço



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