São Paulo, segunda, 11 de maio de 1998

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Denílson e França personificam o campeão

ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas
Antes mesmo de a bola começar a rolar no Morumbi, o técnico Nelsinho já escrevia nos vestiários o primeiro capítulo da finalíssima. Foi quando ousou não só escalar Raí como abolir de vez a figura do cabeça-de-área típico, com Carlos Miguel no lugar de Gallo, deixando esse menino de ouro, Alexandre, com a função de iniciar a proteção à zaga.
Assim, o tricolor entrou em campo devidamente equilibrado para desequilibrar um jogo que se anunciava como simples extensão do primeiro jogo, vencido pelo Corinthians.
Então, o que se viu, ao longo de todo o primeiro tempo, foi um Corinthians bem plantado atrás, atento na marcação, sobretudo de Raí, mas, agora, diante de um outro São Paulo. Um São Paulo que foi se debruçando sobre o adversário, como uma jibóia paciente, enrolando-se em torno da presa, sufocando-a aos poucos, graças ao toque de bola impecável, que saía já desde lá detrás, com Capitão, um cabeça-de-área transformado em central pelo próprio Nelsinho, passava por Alexandre, e, a partir daí, um leque de alternativas, de Zé Carlos a Serginho, sem se falar em Raí e Denílson.
Sem condições de recorrer ao contragolpe, sua única arma até agora, já que o São Paulo atacava, sim, mas sempre com um olho no contra-ataque adversário, até mesmo depois da contusão de Márcio Santos, o Corithians apenas contava os minutos, enquanto se desenhava no ar o gol tricolor.
Por duas vezes, França quase chega lá. Em seguida, Raí fura na cara do gol aberto, para, na sequência, faturar, de cabeça.
E, mesmo ganhando de 1 a 0, o São Paulo voltou para o segundo tempo na mesma toada. E, mesmo antes de o Corinthians invocar todos os seus orixás concentrados na figura de Didi, o mais novo amuleto alvinegro, duas boas chances foram desperdiçadas. Coube, porém, a Didi injetar uma dose de indecisão ao jogo, numa jogada brilhante e pessoal: dominou na entrada da área e tocou de curva: gol.
Indecisão? Que nada. Eis o tricolor novamente tocando a bola, envolvendo o adversário e buscando o gol, que viria logo depois -tabelinha Raí-França, e o artilheiro impõe a justiça no placar.
Justiça que seria absoluta se esse mesmo placar estampasse uma goleada de quatro ou cinco gols, embora o terceiro gol, de França, valesse não só pelo título de campeão, mas sobretudo como um emblema dessa campanha fascinante do São Paulo, personificada pelos seus dois mais significativos craques: Denílson, sobre a superfície de uma folha de papel, entre o inimigo e a linha de fundo, infiltra-se e serve França, o artilheiro, que, de virada, põe um ponto final nesta epopéia, que resume um velho e sábio ensinamento -também se ganha com arte e ousadia. Só que, além de mais justo, é ainda mais saboroso.

Raí, simplesmente magnífico, insere-se defintivamente como o maior ídolo da história da torcida. Ninguém antes -nem Leônidas nem Zizinho nem Gerson ou Pedro Rocha, seu êmulo- entranhou-se na alma tricolor como ele.
Mas a pedra de toque desse time é um menino que resume no seu futebol raça, ciência e habilidade: Alexandre.


Alberto Helena Jr escreve às segundas, quartas e domingos



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