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PAREDÃO
Como "falar" francês em 5 horas
DO ENVIADO A PARIS
Em entrevista coletiva concedida logo após seu triunfo em Roland Garros, Gustavo Kuerten
confirma que se sentiu perdido
no primeiro set contra Alex Corretja. Conta também como
"aprendeu" francês em cinco horas e porque desenhou a inscrição "eu te amo Roland Garros" na
véspera da partida.
(PC)
Pergunta - Você estava preocupado com o vento? Que ele atrapalhasse suas esperanças na partida
de hoje [ontem"?
Gustavo Kuerten - No começo isso estava me frustrando um pouco, mas nada iria me fazer desistir.
No fim do segundo set e início do
terceiro, a situação melhorou e
meu jogo cresceu de nível. Talvez
fosse a confiança.
Pergunta - Qual é seu problema
com o vento?
Kuerten - Eu gosto de jogar perto
da linha, para arriscar meus golpes. Comecei a errar mais do que
o normal com o vento. Comecei a
jogar mais defensivamente. Eu tenho lentes de contato também. A
areia que vem para os meus olhos
dificulta muito as coisas. É o tipo
de coisa que algumas vezes deixa
você preocupado um pouco. Mas
eu tentei manter o foco no jogo
durante todo o tempo.
Pergunta - Era mais o vento ou o
Corretja que atrapalhava? Ele jogou tão defensivamente.
Kuerten - Os dois. Eu acho que
ele jogou melhor do que eu no
primeiro set, com certeza, mais
profundo e com bolas mais pesadas do que as minhas. Então eu
comecei a ser mais agressivo, tentar meus golpes, com ou sem vento. Meu saque começou a ficar
melhor, eu acho. Tive também alguns pontos de graça que precisava. Mas acho que fiz uma boa tática e joguei muito bem desde o início do segundo set. No terceiro,
comecei a jogar em um grande nível. No final, as coisas estavam tão
boas que ele realmente não podia
fazer nada.
Perdendo ou ganhando, queria fazer isso [a camisa] para expressar as coisas mágicas daqui
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Pergunta - Você pode descrever a
sensação de vencer três vezes em
Roland Garros?
Kuerten - Acho que hoje é um
dia muito emocionante para
mim. Eu estou gostando muito.
Como disse antes, nem nos meus
melhores sonhos eu poderia me
ver vencendo aqui três vezes. Eu
me vejo realmente como um cara
abençoado.
Pergunta - Se você pudesse resumir suas duas semanas aqui em
uma palavra, qual seria?
Kuerten - Acho que é difícil de
dizer. Mágico, talvez. Toda vez
que eu venho aqui é algo especial.
Esses sentimentos mágicos. Eu
me sinto muito melhor aqui. Para
mim, é um torneio especial e sempre será. Como eu disse na quadra, tudo o que acontece comigo é
maravilhoso. É um lugar que eu
amo estar.
Pergunta - O que faz Roland Garros tocar você?
Kuerten - Eu não posso descrever. É o jeito das coisas. As quadras, o jeito das pessoas, a forma
como as coisas vêm para mim. Fazem me sentir muito mais confortável aqui.
Pergunta - Após sua vitória do
ano passado, você começou a ter lições de francês?
Kuerten - Ontem, por 5 horas [ri
ao responder".
Pergunta - Tudo você aprendeu
em uma sessão de 5 horas?
Kuerten - Eu tentei lembrar as
palavras que conheço e colocá-las
juntas. Eu falo um pouco. Acho
que foi a forma, o que eu poderia
fazer para me aproximar das pessoas. Eu me sinto mais próximo
delas. Elas fizeram eu me sentir
muito bem nessas duas semanas.
Não foi fácil, mas eu tentei fazer
por elas.
Pergunta - Você preparou a camisa com o "eu te amo Roland Garros" antes do jogo?
Kuerten - Sim. Perdendo ou ganhando, queria fazer isso para expressar as coisas mágicas que
acontecem aqui.
Pergunta - Quando você desenhou a camiseta?
Kuerten - Ontem [sábado]. Como disse, ganhando ou perdendo,
eu iria usar a camiseta.
Sei que sou um ídolo, que tenho muito carisma com a torcida, da felicidade que posso passar a ela
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Pergunta - Você pode contar sobre os três match points que você
perdeu. Em dois deles, desperdiçados perto da rede, você estava sorrindo?
Kuerten - Eu me vi vencendo todos eles. Eu estava tão emocionado naquela hora que queria terminar logo. Então eu corri um
pouco mais que o normal. Acho
que é impossível controlar esses
sentimentos quando você está
nessa situação, quando está próximo de vencer aqui pela terceira
vez nesse grande torneio.
Pergunta - Olhando para o futuro, você confirma que não vai jogar
em Wimbledon?
Kuerten - Sim.
Pergunta - Você não jogará?
Kuerten - Não, não irei.
Pergunta - O que você vai fazer
agora?
Kuerten - Descansar por duas semanas. Eu ainda tenho alguns
problemas no púbis, que preciso
cuidar, tomar conta disso de forma correta. Se eu estiver jogando
muito, não tiver tempo para recuperação, posso começar a ter problemas de novo.
Pergunta - Larri Passos tem boa
parte nos méritos de seus títulos
aqui. Você pode falar porque a relação de vocês dois é tão especial?
Kuerten - Eu não vejo como poderia fazer tudo isso sozinho. Então ele é muito importante. Eu comecei com ele muito jovem, então
ele tem uma grande influência na
minha vida pessoal também.
Pergunta - O Brasil sofre muito no
futebol, com a corrupção, e agora
até com apagão. Como é ser um
ídolo em um país com todos esses
problemas?
Kuerten - Eu sou um cara com 24
anos, no auge da minha carreira.
Se parar para me preocupar com
esses problemas, vou descuidar
do meu foco. Sou um cara trabalhador e batalhador. Sei que há
dois ou três anos sou um grande
ídolo, que tenho muito carisma
com a torcida, da felicidade que
posso passar a ela.
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