São Paulo, segunda-feira, 11 de junho de 2001

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PAREDÃO



Como "falar" francês em 5 horas

DO ENVIADO A PARIS

Em entrevista coletiva concedida logo após seu triunfo em Roland Garros, Gustavo Kuerten confirma que se sentiu perdido no primeiro set contra Alex Corretja. Conta também como "aprendeu" francês em cinco horas e porque desenhou a inscrição "eu te amo Roland Garros" na véspera da partida. (PC)

Pergunta - Você estava preocupado com o vento? Que ele atrapalhasse suas esperanças na partida de hoje [ontem"?
Gustavo Kuerten -
No começo isso estava me frustrando um pouco, mas nada iria me fazer desistir. No fim do segundo set e início do terceiro, a situação melhorou e meu jogo cresceu de nível. Talvez fosse a confiança.

Pergunta - Qual é seu problema com o vento?
Kuerten -
Eu gosto de jogar perto da linha, para arriscar meus golpes. Comecei a errar mais do que o normal com o vento. Comecei a jogar mais defensivamente. Eu tenho lentes de contato também. A areia que vem para os meus olhos dificulta muito as coisas. É o tipo de coisa que algumas vezes deixa você preocupado um pouco. Mas eu tentei manter o foco no jogo durante todo o tempo.

Pergunta - Era mais o vento ou o Corretja que atrapalhava? Ele jogou tão defensivamente.
Kuerten -
Os dois. Eu acho que ele jogou melhor do que eu no primeiro set, com certeza, mais profundo e com bolas mais pesadas do que as minhas. Então eu comecei a ser mais agressivo, tentar meus golpes, com ou sem vento. Meu saque começou a ficar melhor, eu acho. Tive também alguns pontos de graça que precisava. Mas acho que fiz uma boa tática e joguei muito bem desde o início do segundo set. No terceiro, comecei a jogar em um grande nível. No final, as coisas estavam tão boas que ele realmente não podia fazer nada.


Perdendo ou ganhando, queria fazer isso [a camisa] para expressar as coisas mágicas daqui


Pergunta - Você pode descrever a sensação de vencer três vezes em Roland Garros?
Kuerten -
Acho que hoje é um dia muito emocionante para mim. Eu estou gostando muito. Como disse antes, nem nos meus melhores sonhos eu poderia me ver vencendo aqui três vezes. Eu me vejo realmente como um cara abençoado.

Pergunta - Se você pudesse resumir suas duas semanas aqui em uma palavra, qual seria?
Kuerten -
Acho que é difícil de dizer. Mágico, talvez. Toda vez que eu venho aqui é algo especial. Esses sentimentos mágicos. Eu me sinto muito melhor aqui. Para mim, é um torneio especial e sempre será. Como eu disse na quadra, tudo o que acontece comigo é maravilhoso. É um lugar que eu amo estar.

Pergunta - O que faz Roland Garros tocar você?
Kuerten -
Eu não posso descrever. É o jeito das coisas. As quadras, o jeito das pessoas, a forma como as coisas vêm para mim. Fazem me sentir muito mais confortável aqui.

Pergunta - Após sua vitória do ano passado, você começou a ter lições de francês?
Kuerten -
Ontem, por 5 horas [ri ao responder".

Pergunta - Tudo você aprendeu em uma sessão de 5 horas?
Kuerten -
Eu tentei lembrar as palavras que conheço e colocá-las juntas. Eu falo um pouco. Acho que foi a forma, o que eu poderia fazer para me aproximar das pessoas. Eu me sinto mais próximo delas. Elas fizeram eu me sentir muito bem nessas duas semanas. Não foi fácil, mas eu tentei fazer por elas.

Pergunta - Você preparou a camisa com o "eu te amo Roland Garros" antes do jogo?
Kuerten -
Sim. Perdendo ou ganhando, queria fazer isso para expressar as coisas mágicas que acontecem aqui.

Pergunta - Quando você desenhou a camiseta?
Kuerten -
Ontem [sábado]. Como disse, ganhando ou perdendo, eu iria usar a camiseta.


Sei que sou um ídolo, que tenho muito carisma com a torcida, da felicidade que posso passar a ela


Pergunta - Você pode contar sobre os três match points que você perdeu. Em dois deles, desperdiçados perto da rede, você estava sorrindo?
Kuerten -
Eu me vi vencendo todos eles. Eu estava tão emocionado naquela hora que queria terminar logo. Então eu corri um pouco mais que o normal. Acho que é impossível controlar esses sentimentos quando você está nessa situação, quando está próximo de vencer aqui pela terceira vez nesse grande torneio.

Pergunta - Olhando para o futuro, você confirma que não vai jogar em Wimbledon?
Kuerten -
Sim.

Pergunta - Você não jogará?
Kuerten -
Não, não irei.

Pergunta - O que você vai fazer agora?
Kuerten -
Descansar por duas semanas. Eu ainda tenho alguns problemas no púbis, que preciso cuidar, tomar conta disso de forma correta. Se eu estiver jogando muito, não tiver tempo para recuperação, posso começar a ter problemas de novo.

Pergunta - Larri Passos tem boa parte nos méritos de seus títulos aqui. Você pode falar porque a relação de vocês dois é tão especial?
Kuerten -
Eu não vejo como poderia fazer tudo isso sozinho. Então ele é muito importante. Eu comecei com ele muito jovem, então ele tem uma grande influência na minha vida pessoal também.

Pergunta - O Brasil sofre muito no futebol, com a corrupção, e agora até com apagão. Como é ser um ídolo em um país com todos esses problemas?
Kuerten -
Eu sou um cara com 24 anos, no auge da minha carreira. Se parar para me preocupar com esses problemas, vou descuidar do meu foco. Sou um cara trabalhador e batalhador. Sei que há dois ou três anos sou um grande ídolo, que tenho muito carisma com a torcida, da felicidade que posso passar a ela.


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