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Roteiro da Copa ignora ícone africano
Preocupação com segurança faz com que Fifa não sugira a visitantes passeio pela casa onde viveu Nelson Mandela
Apesar de "esquecidos" pela organização do torneio, comerciantes de Soweto investem em novos hotéis e restaurantes para faturar
EDUARDO ARRUDA
ENVIADO ESPECIAL A JOHANNESBURGO
A casa em que viveu Nelson
Mandela, o maior líder sul-africano em todos os tempos, anda
vazia. Seus poucos cômodos,
que contam em fotos, vídeos,
áudios e objetos um pouco da
história do homem que simbolizou o fim do apartheid no
país, têm recebido bem poucas
visitas ultimamente.
O endereço mais famoso da
África do Sul, a Vilakazi Street,
onde Mandela morou por mais
de 15 anos, foi alijado do roteiro
da Copa do Mundo.
E a Copa das Confederações,
que começará no domingo, tem
sido um ótimo termômetro para isso. A "bolha de segurança"
arquitetada pelas autoridades,
preocupadas com a onda de
violência no país, exclui seu
bairro mais simbólico.
Pesquisa divulgada pelo governo constatou que o crime é a
razão mais forte pela qual visitantes evitariam o país durante
o Mundial do próximo ano.
A visita a Soweto, distrito nas
cercanias de Johannesburgo,
não é recomendada por quem
cuida da segurança nos campeonatos da Fifa. Apesar disso,
o local ganhou investimentos
nos últimos meses, como restaurantes e hotéis, de gente que
busca faturar com os visitantes
durante a Copa de 2010. No entanto a preocupação em expor
os visitantes a áreas consideradas de risco tem sido um empecilho para o desenvolvimento
dessa região específica.
"Minha concepção de violência é diferente. Soweto hoje é
um lugar tranquilo para os turistas, só que muita gente não
tem coragem de vir aqui", afirma Ishmail Mbhokodo, gerente
da Casa Mandela.
Os índices de criminalidade
de Soweto, onde vivem cerca de
3 milhões de pessoas, estão entre os mais altos do país, apesar
de terem diminuído.
"Existe ainda uma percepção
da velha Soweto, que é conhecida pelos conflitos ocorridos durante o apartheid, mas há muitas coisas positivas por aqui",
afirma Anastacia Makgato, que
transformou sua casa em um
pequeno hotel.
Reservas para a Copa das
Confederações? "Eu não tenho
mais esperança", diz ela, ressaltando que o distrito carrega
uma fama "injusta". Mesmo assim, Anastacia confidencia instruir seus hóspedes a não andar
desacompanhados pelo lugar
durante a noite.
Khulani Vilakazi, que tem
um sofisticado restaurante em
Soweto e é neto do homem que
deu nome à rua habitada entre
1946 e 1961 por Nelson Mandela, culpa as operadoras de turismo por "não dar aos visitantes
estrangeiros a verdadeira experiência em Soweto".
"Pessoas não querem ficar,
mas querem fazer turismo
aqui. Preferem ficar na cidade
por causa do estigma de que
aqui não é seguro", diz.
Mbhokodo, o gerente da Casa Mandela, acredita que existe
uma ação em conjunto no distrito para mudar a imagem de
Soweto para o mundo.
"Temos certeza de que
vamos impulsionar nosso potencial turístico por aqui. Essa
é uma África que não pode ser
esquecida jamais", discursa ele,
enquanto apenas duas garotas
turcas são as primeiras turistas,
em horas, a visitar a casa do
líder sul-africano.
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