São Paulo, quinta-feira, 11 de junho de 2009

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Roteiro da Copa ignora ícone africano

Preocupação com segurança faz com que Fifa não sugira a visitantes passeio pela casa onde viveu Nelson Mandela

Apesar de "esquecidos" pela organização do torneio, comerciantes de Soweto investem em novos hotéis e restaurantes para faturar


EDUARDO ARRUDA
ENVIADO ESPECIAL A JOHANNESBURGO

A casa em que viveu Nelson Mandela, o maior líder sul-africano em todos os tempos, anda vazia. Seus poucos cômodos, que contam em fotos, vídeos, áudios e objetos um pouco da história do homem que simbolizou o fim do apartheid no país, têm recebido bem poucas visitas ultimamente.
O endereço mais famoso da África do Sul, a Vilakazi Street, onde Mandela morou por mais de 15 anos, foi alijado do roteiro da Copa do Mundo.
E a Copa das Confederações, que começará no domingo, tem sido um ótimo termômetro para isso. A "bolha de segurança" arquitetada pelas autoridades, preocupadas com a onda de violência no país, exclui seu bairro mais simbólico.
Pesquisa divulgada pelo governo constatou que o crime é a razão mais forte pela qual visitantes evitariam o país durante o Mundial do próximo ano.
A visita a Soweto, distrito nas cercanias de Johannesburgo, não é recomendada por quem cuida da segurança nos campeonatos da Fifa. Apesar disso, o local ganhou investimentos nos últimos meses, como restaurantes e hotéis, de gente que busca faturar com os visitantes durante a Copa de 2010. No entanto a preocupação em expor os visitantes a áreas consideradas de risco tem sido um empecilho para o desenvolvimento dessa região específica.
"Minha concepção de violência é diferente. Soweto hoje é um lugar tranquilo para os turistas, só que muita gente não tem coragem de vir aqui", afirma Ishmail Mbhokodo, gerente da Casa Mandela.
Os índices de criminalidade de Soweto, onde vivem cerca de 3 milhões de pessoas, estão entre os mais altos do país, apesar de terem diminuído.
"Existe ainda uma percepção da velha Soweto, que é conhecida pelos conflitos ocorridos durante o apartheid, mas há muitas coisas positivas por aqui", afirma Anastacia Makgato, que transformou sua casa em um pequeno hotel.
Reservas para a Copa das Confederações? "Eu não tenho mais esperança", diz ela, ressaltando que o distrito carrega uma fama "injusta". Mesmo assim, Anastacia confidencia instruir seus hóspedes a não andar desacompanhados pelo lugar durante a noite.
Khulani Vilakazi, que tem um sofisticado restaurante em Soweto e é neto do homem que deu nome à rua habitada entre 1946 e 1961 por Nelson Mandela, culpa as operadoras de turismo por "não dar aos visitantes estrangeiros a verdadeira experiência em Soweto".
"Pessoas não querem ficar, mas querem fazer turismo aqui. Preferem ficar na cidade por causa do estigma de que aqui não é seguro", diz.
Mbhokodo, o gerente da Casa Mandela, acredita que existe uma ação em conjunto no distrito para mudar a imagem de Soweto para o mundo.
"Temos certeza de que vamos impulsionar nosso potencial turístico por aqui. Essa é uma África que não pode ser esquecida jamais", discursa ele, enquanto apenas duas garotas turcas são as primeiras turistas, em horas, a visitar a casa do líder sul-africano.


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