São Paulo, sábado, 11 de junho de 2011

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RITA SIZA

Mistura indigesta


A campanha em Portugal mostrou à saciedade que misturar política e futebol dá sempre asneira

A CAMPANHA eleitoral que agora terminou em Portugal demonstrou, mais uma vez e à saciedade, como misturar política e futebol dá sempre asneira. Ambos os lados saem a perder, inevitavelmente. Entretanto a sucessão de erros do passado parece não servir de exemplo nem obrigar os intervenientes a reflectir.
Escrevo sobre isto com uma semana de atraso por ter estado a acompanhar a campanha do Partido Socialista para o jornal "Público".
Estava lá quando o craque do Benfica Fábio Coentrão, acompanhado por mais uma mão cheia de jogadores de futebol, subiu para o palanque durante um comício, aparentemente em demonstração do seu apoio pela recandidatura do primeiro- -ministro demissionário José Sócrates (que veio a perder as eleições).
Se é duvidoso que o beneplácito de um futebolista seja suficiente para validar determinada proposta política e arrepanhar mais alguns votos numa disputa eleitoral, de certeza que o efeito do apoio de Fábio Coentrão foi contraproducente.
O jogador apareceu envergonhado, de cara no chão, não falou, não provou o mínimo entusiasmo ou empenho na causa.
Enquanto isso, o candidato exagerava nos elogios, enumerando as qualidades e virtudes técnicas e esportivas de Coentrão como uma metáfora para a campanha em curso -e também não é certo que a conversa sobre a determinação, a força de vontade e o facto de "nunca virar a cara à luta" tenha caído bem sobre a audiência.
Depois do episódio Fábio Coentrão, a campanha insinuou que outros nomes sonantes do mundo da bola também se juntariam ao candidato em ações públicas.
Os jornalistas entraram em frenesim especulativo. Quem poderia ser: José Mourinho, Cristiano Ronaldo, o impagável Paulo Futre, que, de repente, tomou o espaço público de assalto e aparece em todo o lado?
Agora que começa o defeso do verão, o país está mais sintonizado para as transferências de jogadores entre clubes do que para as transferências da chamada troika (FMI, Banco Central Europeu e União Europeia) em ação de emergência para resgatar as finanças públicas nacionais.
Que políticos ansiosos por ter responsabilidades governativas continuem a prestar-se a esse jogo de falsa popularidade num período particularmente difícil é lamentável.
E que futebolistas com carreiras meteóricas não lhes saibam dizer que não é só mais um sintoma de como este país ainda tem muito para aprender.


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