São Paulo, sexta-feira, 11 de julho de 2008

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XICO SÁ

Carençolândia Futebol Clube


Felipão sabe que no futebol mais vale um abraço tipo paizão do que todos os desenhos táticos do universo

AMIGO TORCEDOR , amigo secador, sincero e passional, o Felipão vai reinventar Shakespeare para os ingleses, anote o que eu digo. É tudo o que aquela gente cool, fria, estava precisando, quer dizer, merecendo. Felipão será também definitivamente o quinto Beatle, embora esteja mais para o velho Ringo Star. No mais, com o time que tem, o Chelsea anda sozinho, é mais fácil treiná-lo do que governar a Suíça ou empurrar bêbado em ladeira.
O importante é que Felipão sabe usar a maior virtude da humanidade. Seja na zaga do CSA, na qual foi um Jack Estripador de atacantes do CRB -o bravo galo da Pajuçara-, seja com o título de nobiliárquico Sir na terra da Rainha. Aí você indaga, que virtude é essa do gaúcho que nunca me passou pela cabeça?! Respondo: Felipão sabe que o mundo é uma grande Carençolândia. Seja Passo Fundo, Olímpico, Parque Antarctica, Lisboa ou Inglaterra. No planeta dos boleiros, essa carência atinge o infinito. Mire-se no exemplo dos nossos Ronaldos, que mesmo com toda grana, exibem assustadora falta de colo. Felipão conseguiu decifrar até mesmo a fome atávica de afeto que atrapalhava o craque Rivaldo. Viu nos seus olhos, sem veadagem, tchê, um sertão de carências, um Jequitinhonha de necessidades, um raso da Catarina, a geografia de todas as ""precisões".
Ele sabe que mais vale um abraço tipo paizão, um colo, um ombro amigo, do que todos os desenhos táticos do universo. Não entendo porque uns crânios como o PVC, por exemplo, perdem tempo com tantos estudos ludopédicos. Brincadeira, o chapa ganha a vida honestamente com o riscado. Futebol, porém, é apenas uma mistura do ""vamos lá moçada" com paternalismo. Claro que, se o salário tiver em dia, ajuda.
E como. Acrescente-se mais uma pitada, um naco de misticismo: o Sobrenatural de Almeida, o corvo Edgar, o Saci, a mula-sem-cabeça...
Embora alguns privilegiados consigam quase um milagre: decifrar todas as pulhas da esfinge, como tem ocorrido ao Sócrates, no ""Cartão Verde", e ao Tostão, nesta Folha.
Impressionante como cantaram a bola nas maiores tragédias cariocas dos últimos tempos, a do Fla e do Flu na Libertadores.
Felipão, porém, mais do que Shakespeare, sabe que o futebol é maior do que a vida, portanto não é feito apenas da matéria de sonhos, carece da argamassa e do rejunte, carece de um homem meia-boca (""so,so", no seu bom inglês dos pampas), mas de coração gigante.

CARENÇOLÂNDIA II
Nada contra o envolvimento com as trabalhadoras do sexo ou garotas de programa, pode ser tão lindo quanto um ensaio de amor sincero.
Mas desde que se cumpram as cláusulas da civilidade. Agredir as damas, não, meu caro Marcinho. Merecida a orgia do Fla em Ribeirão das Neves, afinal o time está unido e na ponta do Brasileiro, mas só vale com carinho, dengo, cafuné e todo afeto que se encerra. Mais respeito com as moças, sejam as profissionais, sejam as amadoras.

CARENÇOLÂNDIA III
Leitores se queixaram da minha injustiça, ao citar a música ""Notícia de Jornal" na última crônica. Esqueci seus autores, os bravíssimos Haroldo Barbosa e Luis Reis.

xico.folha@uol.com.br


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