São Paulo, sexta-feira, 11 de agosto de 2000


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FUTEBOL
Qual animal será o Animal?

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Apesar do empate com gosto amargo, foi boa a estréia de Edmundo com a camisa do Santos. Ele deu pelo menos dois chutes perigosos a gol, movimentou-se, tentou tabelas e fez alguns bons lançamentos, próprios de um jogador diferenciado, que raciocina rápido e enxerga o jogo de um modo diferente dos esforçados que só sabem fazer passes para o lado.
Apesar disso, os torcedores saíram da Vila com uma sensação dividida: no primeiro tempo, ele foi um craque, no segundo, caiu como todo o time.
Diante de tal fato, fica no ar a pergunta: que tipo de animal Edmundo será nos meses em que vai vestir a camisa do alvinegro praiano?
Todos os santistas querem, é claro, que seja um Edmundo-cobra, um atacante que desliza em campo, se insinua pela defesa inimiga, dá botes inesperados e deixa os adversários em pânico. Ou o velho Edmundo-abelha, rápido, perigoso e sempre dando uma ferroada em alguém, seja zagueiro ou aeromoça.
Pode ser, como não? Futebol ele tem de sobra e sempre se espera que reedite as boas atuações dos tempos de Palmeiras (1993) e Vasco (1997).
Mas há quem pense de outra maneira.
Sim, há quem espere um Edmundo-tigre, ou seja, que ele será vaidoso, convencido e só se esforçará de vez em quando para manter a fama e o respeito dos outros animais da floresta. Era mais ou menos isso que ele vinha sendo no Vasco ultimamente e, admitamos, são boas as chances de isso acontecer.
Outros dizem que será um Edmundo-hiena: frequentará a noite santista, andará com grupos de pagode, aproveitará o sol, faltará nos treinos e rirá da cara dos ingênuos torcedores do alto de seu alto salário. Há um pouco de maldade aí, mas que infelizmente há precedentes, há.
Num outro extremo, há quem acredite que ele venha a se transformar num Edmundo-formiga, esforçado operário que abre mão do seu talento e da sua individualidade em nome do fortalecimento do grupo. Alegam estes que Edmundo está chegando aos trinta anos, se deu conta de que é pai e precisa deixar uma boa imagem em sua saída dos campos.
Que melhor imagem do que a do homem que ajudou o Santos a superar sua desconfortável fila de 16 anos sem títulos importantes?
Enfim, entre tantas possibilidades animalescas, só espero que não queira ser um Edmundo-preguiça, sequioso por sombra e água fresca; um Edmundo-siri, que só quer saber de praia; um Edmundo-porco, que só faz lambança, ou um Edmundo-caranguejo, que anda para os lados e fica se escondendo em buracos.
O jeito é esperar pelas próximas partidas, quando a onça vai beber água.
Caso a vaca vá para o brejo, teremos que recorrer a Júlio César, Deivid e Weldon, porque quem não tem cão, caça com gato.
Por ora, estou com a pulga atrás da orelha.

Falando em animais, o leitor Ronaldo Abreu Vaio, taxonomista nas horas vagas, criou interessante tipologia para torcedores.
Segundo ele, há o torcedor-gato: aquele que marca território, faz xixi no saquinho de pipoca e o atira no bandeirinha; o torcedor-macaco: que carrega os filhos nas costas e nunca pára no mesmo lugar; o torcedor-cachorro: que é o melhor amigo do time e, mesmo quando ele perde, no próximo jogo ele estará lá; o torcedor-veado: que gosta do aperto da geral; o torcedor-leão: aquele que anda em grupos, vive rugindo e, no final, vai lutar com o grupo rival; o torcedor-elefante: aquele que jamais esquece e fica os noventa minutos falando dos velhos tempos; o torcedor-ruminante: que come o jogo inteiro; e o torcedor-camelo: que bebe o jogo inteiro.

Nesse assunto zooatlético, uma leitura interessante é "A simbologia animal no esporte" (editora Scortecci), de Aristides Almeida Rocha, que, como um rato de biblioteca, procurou símbolos, nomes, gírias e outras relações entre animais e esportes, principalmente futebol.
E-mail torero@uol.com.br


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