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FUTEBOL
Qual animal será o Animal?
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Apesar do empate com gosto
amargo, foi boa a estréia de
Edmundo com a camisa do Santos. Ele deu pelo menos dois chutes perigosos a gol, movimentou-se, tentou tabelas e fez alguns
bons lançamentos, próprios de
um jogador diferenciado, que raciocina rápido e enxerga o jogo de
um modo diferente dos esforçados que só sabem fazer passes para o lado.
Apesar disso, os torcedores saíram da Vila com uma sensação
dividida: no primeiro tempo, ele
foi um craque, no segundo, caiu
como todo o time.
Diante de tal fato, fica no ar a
pergunta: que tipo de animal Edmundo será nos meses em que vai
vestir a camisa do alvinegro
praiano?
Todos os santistas querem, é
claro, que seja um Edmundo-cobra, um atacante que desliza em
campo, se insinua pela defesa inimiga, dá botes inesperados e deixa os adversários em pânico. Ou o
velho Edmundo-abelha, rápido,
perigoso e sempre dando uma ferroada em alguém, seja zagueiro
ou aeromoça.
Pode ser, como não? Futebol ele
tem de sobra e sempre se espera
que reedite as boas atuações dos
tempos de Palmeiras (1993) e
Vasco (1997).
Mas há quem pense de outra
maneira.
Sim, há quem espere um Edmundo-tigre, ou seja, que ele será
vaidoso, convencido e só se esforçará de vez em quando para
manter a fama e o respeito dos
outros animais da floresta. Era
mais ou menos isso que ele vinha
sendo no Vasco ultimamente e,
admitamos, são boas as chances
de isso acontecer.
Outros dizem que será um Edmundo-hiena: frequentará a noite santista, andará com grupos de
pagode, aproveitará o sol, faltará
nos treinos e rirá da cara dos ingênuos torcedores do alto de seu
alto salário. Há um pouco de
maldade aí, mas que infelizmente
há precedentes, há.
Num outro extremo, há quem
acredite que ele venha a se transformar num Edmundo-formiga,
esforçado operário que abre mão
do seu talento e da sua individualidade em nome do fortalecimento do grupo. Alegam estes que Edmundo está chegando aos trinta
anos, se deu conta de que é pai e
precisa deixar uma boa imagem
em sua saída dos campos.
Que melhor imagem do que a
do homem que ajudou o Santos a
superar sua desconfortável fila de
16 anos sem títulos importantes?
Enfim, entre tantas possibilidades animalescas, só espero que
não queira ser um Edmundo-preguiça, sequioso por sombra e
água fresca; um Edmundo-siri,
que só quer saber de praia; um
Edmundo-porco, que só faz lambança, ou um Edmundo-caranguejo, que anda para os lados e fica se escondendo em buracos.
O jeito é esperar pelas próximas
partidas, quando a onça vai beber água.
Caso a vaca vá para o brejo, teremos que recorrer a Júlio César,
Deivid e Weldon, porque quem
não tem cão, caça com gato.
Por ora, estou com a pulga atrás
da orelha.
Falando em animais, o leitor
Ronaldo Abreu Vaio, taxonomista nas horas vagas, criou interessante tipologia para torcedores.
Segundo ele, há o torcedor-gato:
aquele que marca território, faz
xixi no saquinho de pipoca e o
atira no bandeirinha; o torcedor-macaco: que carrega os filhos nas
costas e nunca pára no mesmo lugar; o torcedor-cachorro: que é o
melhor amigo do time e, mesmo
quando ele perde, no próximo jogo ele estará lá; o torcedor-veado:
que gosta do aperto da geral; o
torcedor-leão: aquele que anda
em grupos, vive rugindo e, no final, vai lutar com o grupo rival; o
torcedor-elefante: aquele que jamais esquece e fica os noventa minutos falando dos velhos tempos;
o torcedor-ruminante: que come
o jogo inteiro; e o torcedor-camelo: que bebe o jogo inteiro.
Nesse assunto zooatlético, uma
leitura interessante é "A simbologia animal no esporte" (editora
Scortecci), de Aristides Almeida
Rocha, que, como um rato de biblioteca, procurou símbolos, nomes, gírias e outras relações entre
animais e esportes, principalmente futebol.
E-mail torero@uol.com.br
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