RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ronaldo ofuscou as demais notícias esportivas na Europa durante a última semana. A possível transferência do atleta para o Real Madrid roubou a cena e, infelizmente, parte da boa imagem que o brasileiro tem.
Pessoas de diversas nacionalidades e que atuam em diferentes áreas no futebol criticaram com veemência a postura do atacante, que acenou com a saída do clube que o amparou de todas as formas nos quase dois anos de inatividade do ex-melhor do mundo.
Não adianta agora dizer que cumprirá o contrato de quatro anos com a Inter. Ronaldo perdeu grande parte do maior prêmio que ganhou na Europa: o carinho e o respeito de todos. A Itália, que o batizou de "Fenômeno", agora o chama de "Mercenaldo", "Robaldo" e por aí vai.
Sentindo-se traído, Massimo Moratti, presidente da Inter, divulgou os salários de seus atletas. Ronaldo figura ainda como o mais bem pago, diferentemente do que vinha sendo especulado. Recoba, que levava a fama de ter o maior salário, ganha 4,8 milhões por temporada, 400 mil a menos que Vieri e 900 mil a menos que o astro brasileiro. Com os contratos publicitários com parceiros da Inter, como a Pirelli ( 2,2 milhões) e a Nike ( 2,5 milhões), Ronaldo pode ganhar até mais que os 12 milhões/ano de Zidane no Real Madrid.
O poderoso clube espanhol, aliás, teria comprado, sim, Ronaldo se não existisse um pacto entre os membros do G-14, grupo que reúne os mais fortes clubes da Europa -um atleta só é negociado entre os grandes se os dois clubes envolvidos estão de acordo.
O brasileiro, que teria associado o Real a uma "alegria de viver", fecharia o elenco estelar do time espanhol, que celebra ainda seu centenário. Mais do que em qualquer outro ano, o Real Madrid está pensando grande e querendo mostrar seu poderio. Comprar Ronaldo um ano após adquirir Zidane e dois anos depois de contratar Figo seria um feito.
O presidente do Real Madrid, Florentino Pérez, disse que só não contratou Rivaldo porque a transação teria ficado muito fácil depois que o brasileiro havia se desligado do Barcelona. "Sairia de graça", disse. Para alguns, na verdade, o dinheiro que pagaria Rivaldo já estava destinado para Ronaldo desde o final da Copa.
Devido a essa mania de grandeza do Real -o time, que construiu um parque temático do centenário com 86 atrações, entrou mais uma vez para a história por ser o primeiro clube de futebol a ser recebido na sede da ONU-, uma série de torcedores, não somente de Atlético de Madrid e Barcelona, montou uma associação, com site na internet, de antimadridistas, grupo que torce para todos os rivais do Real.
Ronaldo não foi (ainda) para a badalada equipe de Madri, mas já estimulou certamente a criação de um grupo de anti-Ronaldos.
O brasileiro foi inscrito pela Inter na Copa dos Campeões, mas deve ficar fora do primeiro jogo, contra o Sporting, por um triste motivo: a reação dos "tifosis" italianos poderia não ser boa agora.
Se não existir mais clima para Ronaldo na Inter, o clube teria que aceitar negociar o atleta. Pediria ao Real Madrid 100 milhões, 20 milhões a mais do que o time de Roberto Carlos admite pagar. Seria a maior transação de todos os tempos. E a maior lenha para o fogo dos grupos contrários ao Real Madrid e a Ronaldo.

Antimadrid 1
Roberto Carlos, criticado por muitos, será eleito o melhor atleta de 2002. Isso é dado como certo na Espanha e em parte da Europa.

Anti-Ronaldo 1
A Nike viu Ronaldo de Kappa no Barcelona e de Umbro na Inter. Vê na boa Figo, por exemplo, vestir Adidas no Real. Não seria ela que teria melado a ida do brasileiro para o time de Madri.

Antimadrid 2
O Milan deu sinal verde para o Real Madrid comprar Shevchenko. O time espanhol tem 48 milhões para dar pelo ucraniano. Resta saber se o Milan aceita (e se Ronaldo não irá para o Real neste ano).

Anti-Ronaldo 2
Na Itália, Ronaldo disse que sua meta era fazer 30 gols em um Italiano (não conseguiu) e tirar a Inter da fila (não conseguiu).

E-mail: rbueno@folhasp.com.br

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