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FUTEBOL
Mediocridade globalizada
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Tinha tudo para ser uma
quarta-feira gorda, de festa.
Em Berlim, voltavam a se enfrentar os dois finalistas da última Copa do Mundo, Alemanha e
Brasil. Por aqui, o duelo era entre
os dois líderes do Campeonato
Brasileiro, Santos e Atlético-PR.
Mas os dois jogos decepcionaram. É difícil dizer qual dos dois
foi mais monótono e sem brilho.
Em ambos faltou tudo: ousadia,
imaginação, alegria.
Claro que há razões concretas
para a ruindade de cada uma
dessas partidas, mas dois jogos
tão medíocres no mesmo dia me
fizeram pensar num artigo publicado há algumas semanas na "Time", assinado por Tony Karon.
Diz o articulista norte-americano que, até algumas décadas
atrás, era fácil identificar a maneira de jogar de cada país. Cada
seleção tinha um "idioma" próprio, intransferível.
"O jogo inglês era todo "chutão e
correria", com a bola sendo alçada com a maior freqüência possível na área, onde um atacante
durão abria caminho à força entre os zagueiros para enfiar sua
cabeça na bola, fosse em direção
ao gol, fosse para o chute de um
companheiro que vinha de trás",
resume Karon.
"Já os italianos", prossegue o artigo, "jogavam um futebol ambulante, tocando a bola um para o
outro ao longo de quase todo o
campo, escolhendo companheiros
para passar com a lenta precisão
de um jogo de xadrez, com o intuito de tirar um dos defensores
adversários de posição e criar um
espaço vazio onde se poderia desfechar um ataque rápido e um
chute a gol". Os alemães, em resumo, praticariam uma combinação da força física do jogo inglês
com a organização e a disciplina
tática dos italianos.
E o Brasil? Responde Karon,
nostálgico: "Ah, o Brasil, cuja
poesia com a bola fazia todas as
variedades do futebol europeu
parecerem prosaicas. Eles enfatizavam aquele tipo de exibição do
talento e da criatividade individual que a maioria dos sistemas
de treinamento europeus tinha
extirpado de seus jovens já na
adolescência. Criavam uma forma vertiginosa e melódica do jogo (personificada no jovem Pelé)
na qual os jogadores faziam rotineiramente o imprevisível".
Pois bem. Segundo o articulista,
isso tudo é coisa do passado. Com
a globalização econômica, que,
no futebol, se traduz no êxodo dos
melhores jogadores da América
Latina, da África e da Ásia para
os clubes europeus, o jogo se estandardizou, adotou um idioma
universal e anódino.
Claro que o brasileiro continua
sendo valorizado por sua habilidade e sua fantasia, mas essas virtudes são "enquadradas" num
sistema mais pragmático, que dá
ênfase à competitividade e à disciplina do jogo coletivo.
Do mesmo modo, a seleção brasileira adota esquemas e precauções originalmente "europeus".
Karon lamenta que o Brasil, mesmo nos triunfos de 1994 e 2002,
não dê mais a impressão de ser
"um bando de sujeitos se divertindo como se estivessem jogando na
praia". Depois de ver Alemanha x
Brasil, lamento com ele.
Clássicos quentes
Fim de semana de clássicos em
São Paulo e no Rio de Janeiro.
No confronto paulista, o Palmeiras precisa desesperadamente da vitória para interromper seu declínio, e o Santos precisa voltar a convencer seu
torcedor de que é o melhor time do país. No Rio, nada seria
melhor para selar a recuperação rubro-negra que uma vitória no Fla-Flu, mas o tricolor
vem embalado pela sua primeira vitória fora de casa.
De grão em grão
De 1 a 0 em 1 a 0, o Corinthians
sobe na tabela. Mesmo sem um
futebol vistoso, já está só a um
ponto dos rivais Palmeiras e
São Paulo. O jogo de amanhã,
contra o Atlético-PR, será um
bom teste para ver até onde pode ir o fôlego do time que renasceu das cinzas nas mãos de Tite.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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