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MOTOR
Olhos vermelhos
FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Antonio Pizzonia chegou
perto do pódio em Spa. Era o
terceiro, mas, a 12 voltas do fim,
ficou pela pista, sem câmbio. Saiu
do Williams, apoiou-se no muro,
levou as mãos à cabeça. Voltou
aos boxes com os olhos vermelhos,
contam. Ele nega o choro. Diz só
que ficou "desapontado".
Pizzonia sabe que o "chegar
perto" não existe. Ou chega-se ou
não se chega. Ou vira-se ou não se
vira. Ele teve a chance, na pista
que revelou Schumacher em 91,
de fazer algo parecido. De, na sua
terceira chance real na F-1, ir ao
pódio, virar. Vítima de uma pane, não foi, não virou.
Mas há um problema mais grave, e daí a "decepção" na Bélgica:
chances são artigo de luxo na F-1.
Em Monza, ele terá a última. Recuperado da batida que sofreu
em Indianápolis, o dono da vaga,
Ralf Schumacher, volta na China.
Se o amazonense repetir na Itália o que fez nos testes da semana
passada, aqui mesmo, vai largar e
chegar no pelotão da frente. Imagine então que ele vá ao pódio. Na
segunda-feira, estará na mesa
com David Richards negociando
uma vaga na ascendente BAR para 2005. Também poderá abrir as
portas na hoje hermética Sauber.
(As duas são as únicas alternativas viáveis para o ano que vem.
Para a Jaguar, ele não volta. Jordan e Minardi cobram pelo cockpit e seriam um baita retrocesso.)
Uma vez na BAR, Pizzonia poderia lutar por mais pódios e talvez beliscar uma vitória em um
eventual espasmo da Ferrari.
Contratado pela equipe que mais
faz relações públicas na F-1, viajaria o mundo, entre um GP e outro, para divulgar seu nome, o da
equipe, o da marca de cigarro.
Viraria. Como Button virou,
uma alternativa para quem não
agüenta mais os pilotos de discurso pronto da trinca Ferrari,
McLaren e Williams. Teria pela
frente, enfim, uma carreira.
Não é um cenário impossível.
Mas imagine que ele fracasse no
treino de hoje. Ou que seja tocado
na primeira curva. Ou que simplesmente faça uma corrida insossa. Terá desperdiçado a última
chance. Muito provavelmente, ficará na Williams. Mas se tornará
uma espécie de Luca Badoer, o
eterno piloto de testes da Ferrari.
Não é um cenário impossível.
O objetivo de uma vida, uma
carreira, estará em jogo no Parco
di Monza. O esforço de um moleque que voava às quintas-feiras
de Manaus a São Paulo para correr de kart e que, mesmo sem treinar, porque não havia pista em
sua cidade, tornou-se campeão
brasileiro. Na Europa, só não ganhou a F-3000: levou a Vauxhall
Jr., a F-Renault, a F-3.
Histórias e currículo que pouco
importam para a F-1. O que vale
são resultados certos na hora certa, e há por aí dezenas de exemplos para comprovar isso.
Cena corriqueira, os paddocks
da categoria são pontos de encontro de carreiras fracassadas, de
anônimos atuais que foram celebridades fugazes no passado.
Que, em algum momento, voltaram aos boxes de olhos vermelhos, por terem desperdiçado a última chance de suas carreiras.
Não, não acabei de perder nenhuma chance. Recebi, sim, de
um grande amigo, uma das
maiores da minha vida.
Chance 1
Nelsinho Piquet pode fechar hoje o Inglês de F-3. Na única corrida
fora do Reino Unido, em Spa, precisa marcar três pontos a mais do
que James Rossiter para conseguir o título que o pai ganhou em 1978.
Caso não consiga, terá nova oportunidade amanhã.
Chance 2
Tony Kanaan corre em Chicago para se tornar o primeiro brasileiro
campeão da IRL. Precisa vencer e esperar que nem Dan Wheldon
nem Buddy Rice cheguem entre os top 5.
Chance 3
F-1 chata? Crise? Não em Monza. Ontem, os tifosi tiveram a primeira
chance de comprar o boné do hepta. O preço: 30. Havia fila.
E-mail fseixas@folhasp.com.br
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