São Paulo, Sábado, 11 de Setembro de 1999
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TÊNIS
Empresário prevê que brasileiro, que prefere surfar a aparecer na TV, atingirá fama mundial em 2 anos
Kuerten aguarda o estrelato em casa

ROBERTO DIAS
enviado especial a Nova York

Em dois anos, o brasileiro Gustavo Kuerten vai se tornar uma estrela mundial. A previsão é de seu empresário, Jorge Salked.
"A única coisa de que ele precisa é tempo", diz o peruano Salked. "Veja outros jogadores. (Pete) Sampras tem muitos anos (12) de carreira, (Andre) Agassi também (14 anos). Até o (australiano Mark) Phillippoussis tem mais tempo no circuito do que ele (seis, contra cinco)", argumenta.
A consolidação da imagem do brasileiro -e de seu apelido, Guga, que tenta emplacar como sua marca- não deve passar por um intenso marketing extraquadra.
A razão principal talvez seja o próprio comportamento do tenista. Se, dentro de quadra exibe um lado extrovertido, fora dela mantém-se discreto, caseiro.
Enquanto algumas figuras ascendentes do tênis, como a russa Anna Kournikova ou as irmãs Venus e Serena Williams flertam com Hollywood, Kuerten recusa convites, seja para aparições em novelas da Rede Globo, seja para participar de desfiles de moda.
"Faço apenas os filmes e as fotos para meus patrocinadores. Já sobra tão pouco tempo. Então, quando sobra, eu prefiro ficar em casa, curtir, surfar. Acabo recusando quase todos os convites que recebo", diz ele.
"Ele é muito profissional, sabe exatamente o que tem de fazer, suas responsabilidades com os patrocinadores. Mas não tem de ir a Hollywood. Tem é que ganhar torneios", afirma Salked.
Em geral, Kuerten, no máximo, se permite dedicar tempo aos jornalistas. Suas entrevistas coletivas são seguidas por longas falas a rádios e televisões, um fato incomum no tênis.
Às vezes, comenta partidas do Avaí, a equipe para a qual torce em Santa Catarina. Mas são poucas suas idas a programas de TV. Até hoje, foi a apenas dois: o "Jô Soares Onze e Meia" e o "Programa Livre". O número poderá aumentar nas duas próximas semanas em que ficará no Brasil -ele já estuda novos convites.
"A estratégia para desenvolver sua imagem é cautelosa. A principal preocupação é não sobrecarregá-lo. Não podemos tirar seu tempo para jogos e treinos. E tem de ter cuidado para não desgastar sua imagem", diz Salked.
De qualquer forma, a boa campanha no Aberto dos EUA -chegou às quartas-de-final- parece ter sido uma peça-chave em seu caminho para se consagrar como um nome mundial.
Até esse torneio, o brasileiro era um fenômeno sobretudo europeu. Desde 1997, quando venceu o Aberto da França (Roland Garros), a mídia de lá o trata como um ídolo. Como o continente concentra os principais torneios em saibro, seu piso favorito, acabou sendo lá que Kuerten venceu também suas outras quatro competições -dois em 99.
O aumento de sua fama colocou o tenista ao lado do astro do futebol italiano Roberto Baggio na campanha européia da Diadora, empresa italiana de material esportivo que patrocina os dois.
Mas, nos EUA, até 12 dias atrás, a situação era diferente. Sem grandes resultados nos torneios daquele país, o brasileiro chegou a esta edição do US Open quase ignorado pela mídia local, a despeito de ter atingido as quartas-de-final na grama de Wimbledon.
Mas, à medida que foi vencendo no torneio, Kuerten acabou descoberto pelos norte-americanos. Destacou-se sobretudo por seu estilo peculiar na quadra -gritando sozinho ou para a torcida o tempo todo- e por causa de seu estilo "surfista". Ganhou espaço nos principais jornais do país e despertou interesse até da conceituada revista "Sports Illustrated".


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