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Não se guarda vela acesa no armário
ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas
O Santos, líder do nosso campeonato e sobrevivente das absurdas batalhas daquele outro
torneio com nome de remédio
antigripal, como é mesmo?, ah,
sim, Conmebol, pega hoje o
Vasco, campeão carioca, brasileiro e da América. É de arrepiar, não? Sei lá, pois quem garante como virá a campo esse
Vasco que resolveu elevar a Taça Toyota acima de todas as
coisas? Será aquele time irresistível, forte na defesa, ágil no
meio-campo e fatal no ataque
da primeira metade do ano, ou
esse aí que vem batendo ponto,
burocraticamente, à espera do
grande momento em Tóquio?
Claro que os cruz-maltinos
devem estar com os dois olhos
no sol nascente, onde repousa a
esperança da maior conquista
de sua história, gloriosa e centenária. Neste momento, o resto é
resto. Em termos, porém. Pois
ainda falta um bom tempo para
a disputa mundial, que, na verdade, se resume a apenas um
jogo, que vale por uma vida,
mas ainda um só jogo.
Está certo que se tomem todas
as precauções para evitar que o
Vasco chegue lá exausto, com
este ou aquele craque indispensável baleado e tal e cousa e
lousa e maripousa. Mas é também preciso estar atento para
que não chegue frouxo, inseguro, carregando o fardo da longa
e crescente expectativa, de
quem, no auge do êxito, resolveu deixar tudo de lado para jogar sua vida inteira num lance
de roleta.
O velho e saudoso mestre
Brandão podia tropeçar na gramática e se enredar nos arabescos numéricos das modernas
fórmulas táticas, mas mantinha ligação direta com a alma
do boleiro, que ele conseguia
decifrar como ninguém: "Jogador gosta de jogar. E quem joga
gosta de ganhar".
Querem ver? Vamos pegar
dois exemplos bem recentes: o
São Paulo bicampeão do mundo, e o Cruzeiro, nosso penúltimo campeão da América, que
se esboroou em Tóquio.
Aquele tricolor de Telê, nos
dois anos em que levantou o título, disputou até cuspe à distância, e ganhou quase tudo,
sobretudo, o bi mundial. Já o
Cruzeiro, ao vencer a Libertadores, resolveu poupar-se para
o grande final. Chegou a tentar
o lance do Grêmio de Renato
Gaúcho, que, às vésperas da
maior conquista, havia laçado
Paulo César Caju e quetais, só
para a decisão. Com os gaúchos, deu certo; com os mineiros, um desastre.
O que eu quero dizer é que a
melhor forma de se poupar é se
esmerando, se afiando para a
grande disputa. E isso só se consegue disputando tudo pra valer, mantendo no time, vivo, o
espírito da conquista, a chama
do vencedor. Como diziam os
antigos, não se guarda vela acesa no armário.
Pra usar uma expressão do
velho Brás, me dá nóia essa história de virada de mesa para
resgatar o Fluminense do fundo
do poço. O Flu está lá porque
cavou com suas próprias mãos.
Pois que saia com seu próprio
esforço e dentro da ética.
Agora, se esse tal de Caixa
D'Água está tão empenhado em
dar uma mãozinha ao glorioso
clube das Laranjeiras que, então, chame seus confrades de
Goiás, Minas e, quem sabe, Bahia, para, juntos, armarem um
belo torneio regional no lugar
do anacrônico campeonato estadual do Rio. E, aí, sim, reserve-se um lugar de honra ao Flu.
No Brasileirão, não.
²
Alberto Helena Jr. escreve aos domingos, segundas e quartas
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