São Paulo, domingo, 11 de outubro de 1998

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JUCA KFOURI
Liga indecente

Tem razão o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, quando diz que, se a liga dos clubes nascer para dar lugar ao Fluminense, já nascerá ilegítima.
Tão ilegítima, aliás, como a própria CBF, que virou a mesa dois anos atrás e só fez prolongar a agonia tricolor, embora tenha oxigenado o Bragantino - cujos patronos, Nabi e Marquinho Chedid, foram gloriosamente rebaixados pelas urnas.
Se a liga nascesse de uma ruptura com a ordem vigente, em oposição à CBF, ainda seria aceitável que seus fundadores ocupassem as primeiras posições no campeonato que viessem a criar.
Mas essa oportunidade foi desperdiçada.
Em 1987, por exemplo, com a criação do Clube dos 13 e da Copa União, poderia ter surgido uma nova era para o futebol brasileiro, algo que se perdeu logo no ano seguinte.
Dois anos atrás, quando se descobriu que dentro da CBF as arbitragens eram manipuladas, houve nova oportunidade para uma revolução -e uma revolução se caracteriza exatamente por romper com a velha ordem.
Mas novamente a chance foi desperdiçada.
Hoje, mesmo que tal revolução possa ser feita com o respaldo da Lei Pelé, os cartolas que estão à frente dos clubes são incapazes de fazer até uma reforma.
Ou são todos representantes da velha ordem, ou são cúmplices do atual estado de coisas ou foram cooptados para satisfazer suas vaidades.
É cômico ouvir alguém dizer que "o Fluminense não cabe na terceira divisão", como se lá não tivesse chegado pelos próprios pés.
A terceira divisão é que não cabe no Fluminense, clube dos mais gloriosos do país e cuja cartolagem traiu sua tradição -algo que poderá acontecer com outro grande clube brasileiro ainda neste ano.
É redundante afirmar que o futebol carioca representa com absoluta fidelidade a cara do nosso futebol.
Só mesmo o Vasco, e por caminhos invariavelmente condenáveis, escapa à derrocada imposta pelos Caixas D'Água da vida, mas nem no Rio Grande do Sul nem no Paraná, muito menos em Minas Gerais, Bahia ou Pernambuco, a situação é muito diferente.
E é por isso que vem de São Paulo, cuja força econômica consegue disfarçar um pouco mais o caos que também prevalece, o nome de quem se arvora como grande modernizador, embora seja apenas mais um predador.



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