São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 2003 |
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XADREZ Tira-teima entre azerbaijano e computador acontece em três dimensões Cenário virtual abriga novo duelo Kasparov x máquina
GUILHERME ROSEGUINI DA REPORTAGEM LOCAL Ele já foi taxado de imbatível, de gênio do xadrez. Também já o chamaram de impostor, mercenário, oportunista. Alheio a tudo isso, Gary Kasparov trilhou uma carreira que extrapolou os limites dos tabuleiros. Mas, a partir de hoje, estará em xeque-mate. Em Nova York, o enxadrista mais premiado da história desafia pela quarta vez um programa de computador. É o tira-teima do confronto homem x máquina. O placar registra até aqui uma vitória para cada lado e um empate. Só que Kasparov joga agora em território inimigo. A disputa será realizada em terceira dimensão. O cenário vai flutuar na frente do enxadrista, que visualizará tudo com óculos especiais. Para jogar, Kasparov precisa apenas dizer os movimentos que deseja. O computador mexe as peças. "Já treinei neste formato e gostei. Só que isso não vai facilitar minha vida. Vencer será muito complicado", disse Kasparov à Folha. Complicar, aliás, é o que ele mais fez na carreira. Sempre procurou fugir dos padrões e elevar o grau de dificuldade de seus jogos. Ganhou fama, fãs e inimigos. Garry Kimovich Kasparov nasceu em Baku, capital do Azerbaijão, em abril de 1963. Aprendeu a jogar aos cinco anos e, com nove, já era chamado de prodígio. Em 1976, triunfou no Campeonato Soviético. Novas vitórias surgiram, mas só em 1985 ele ganhou a alcunha de gênio ao sagrar-se campeão mundial aos 22 anos. Na época, estava invicto havia quatro anos. E ficou por mais seis. Até que, em 1991, se cansou. A partir daí, Kasparov começou a inventar novas maneiras de se promover e de promover seu esporte. Complicou o jogo e tornou o xadrez uma atividade lucrativa. Suas partidas de exibições, nas quais chegou a enfrentar mais de 30 adversários ao mesmo tempo, atraíam mais público e patrocínio do que os tradicionais Mundiais. Em 1996, encarou um programa de computador. Na Filadélfia (EUA), sem alarde, Kasparov venceu o Deep Blue, da IBM. Os técnicos, porém, aperfeiçoaram o programa. Em vez de 100 milhões de jogadas por segundo, o Deep Blue passou a analisar 250 milhões. Novo embate foi marcado para 1997. Dessa vez, Kasparov caiu, mas não sem espernear. Após a derrota, ele praguejou, reclamando de uma possível "intervenção humana" nas partidas. O resultado foi mantido, e a reputação de Kasparov, abalada. Seus detratores disseram que ele já não era o mesmo, que havia cometido erros banais. Não houve nova revanche. Kasparov só voltou a duelar com uma máquina em janeiro deste ano. Enfrentou Deep Junior, "filho" do Deep Blue, empatou em 3 a 3 e disse ter aprendido a lição. "Os computadores não ficam presos no trânsito, não têm dor de cabeça, não passam mal com comida estraga. Por isso, são inimigos mortais. Sei que o 3D Fritz vai cometer, no máximo, um deslize por jogo. Preciso aproveitar esse momento", contou Kasparov. A série virtual será disputada em uma melhor de quatro jogos, que pode se estender até o dia 14, e vai levar o xadrez às telas da TV. O novo formato tornou a disputa mais palatável às emissoras. Parte dos jogos do "Campeonato Mundial Homem x Máquina", como foi batizado o evento, será transmitida pela ESPN dos EUA, uma das patrocinadoras. A ESPN International, porém, não repassará o sinal para o Brasil. O site www.X3D.com acompanhará os jogos e exibirá comentários. O 3D Fritz foi criado por Frans Morsch, um holandês especialista em jogos de xadrez, em 1991. Ele se uniu à empresa Chess Base, que desenvolveu a tecnologia para trabalhar em três dimensões. Em 1995, o programa venceu o ainda desconhecido Deep Blue e conquistou o título de campeão do mundo entre as máquinas. Texto Anterior: O que ver na TV Próximo Texto: Memória: Confronto já teve influência no pregão da Bolsa Índice |
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