São Paulo, segunda-feira, 11 de dezembro de 2000

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FUTEBOL
Brasileiro afirma que prêmio serve para argentino voltar à sociedade
Para Pelé, Maradona ganha chance de redimir "erros"

France Presse
Pelé, que dividirá o prêmio de melhor do século com Maradona, desembarca em Roma, na Itália


ENVIADO ESPECIAL A ROMA

Pelé chegou ontem a Roma para a premiação de melhor jogador do século da Fifa como em quase todas cidades do mundo, sendo aplaudido no aeroporto, ouvindo manifestações de carinho e tirando lágrimas de alguns simplesmente com sua presença.
À imprensa internacional, que lhe esperava com bastante ansiedade, disse rapidamente que já se contentava em ter sido eleito o ""Rei" do futebol após a Copa de 1958, quando foi campeão mundial com 17 anos na Suécia.
Sem contato com o pessoal da Fifa, foi ao hotel e dormiu até à noite. Depois, em entrevista à Folha, falou o que pensa da eleição promovida pela entidade e da divisão do prêmio com Maradona.
""O erro da eleição foi não ter sido divulgada. Ninguém sabia no Brasil. Nosso país tem 160 milhões de pessoas. Se a África participasse, poderiam ter 30 milhões de votos da Argentina que eu seria eleito", disse.
Pelé disse não estar magoado com a Fifa e viu a divisão do prêmio com Maradona como uma chance de vida para o argentino, que atualmente está em tratamento para encerrar a dependência de drogas.
""Não estou magoado. Vejo como um incentivo para o Maradona. Ele perdeu uns cinco ou oito anos da carreira dele por causa das drogas. É uma chance para ele voltar à sociedade", disse.
Sobre um possível contato com Maradona no momento de receber o prêmio, Pelé disse que não haverá qualquer animosidade -os dois trocaram farpas na semana passada. ""Da minha parte não vai ter nada disso", disse.
Pelé contou que desde o início de sua carreira foi colocado em comparação com outros nomes.
""Em 58, os franceses pensavam se eu seria melhor que o Fontaine ou o Kopa. Depois, me compararam com o Puskas e o Di Stéfano. Depois, pegaram o Mazzola, o italiano. Aí veio o George Best, o Eusébio. Mais tarde o Cruyff. Compararam até com o Falcão quando ele virou o "Rei de Roma". Começaram a falar do Zico e, depois, veio o Maradona."
Pelé não coloca o ex-meia argentino nem na segunda colocação entre os maiores jogadores de futebol de todos os tempos.
""Só no Brasil, para mim, o Zizinho foi o número 2."
Para Pelé, uma comparação ente números tira qualquer prova entre ele e Maradona.
""Ele ganhou um Mundial. Eu ganhei cinco, dois com o Santos. Ele ganhou um campeonato na Argentina. Eu ganhei uns dez no Santos. Eu marquei mais de 1.000 gols. Ele fez uns 400. Se faz comparação com êxitos, com títulos."
Pelé entende assim que supera mesmo os craques que não viu jogar. ""Não vi o Friendenreich, mas me dizem que era um grande jogador. Não vi o Leônidas. Mas com os números do Pelé não dá para comparar", afirmou.
O brasileiro, que no ano passado foi eleito o melhor jogador de futebol da história na mais importante votação dos melhores esportistas feita até hoje, também se orgulha do ótimo estado físico que apresenta aos 60 anos, melhor que o de Maradona aos 40.
""Com 50 anos, eu joguei na seleção brasileira", disse.
Pelé diz que tem no currículo inúmeras eleições para melhor do século. ""Ganhei na França, com o ""L'Équipe", nos EUA, na eleição da Reuters, até na eleição olímpica. E olha que o Pelé não foi muito de Olimpíada." (RODRIGO BUENO)



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