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FUTEBOL
A palavra da moda
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Durante e após a brilhante
vitória do Santos contra o
Corinthians, a palavra que mais
ouvi de jogadores, treinadores e
da imprensa esportiva foi marcação. Todos elogiavam a marcação
do Santos, que já tinha sido ótima
contra Grêmio e São Paulo, e criticavam a do Corinthians.
As grandes novidades do futebol brasileiro são os garotos da
Vila e a descoberta da importância de se marcar bem. No passado, e até hoje, marcação era sinônimo de antifutebol brasileiro, de
grossura e de defensivismo.
Para muitos, os grandes times
da história do Brasil nunca se
preocupavam com a marcação.
Só jogavam no ataque e venciam
porque os atletas, habilidosos,
moleques e artistas, resolviam tudo sem a participação dos técnicos. Craque não precisava marcar. Isso era problema do rival.
Não é bem assim. Corri muito
atrás do adversário, como fazem
Diego e Robinho. Na Copa de 70,
o que mais treinamos foi a marcação, dentro do estilo da época.
Em vez de pressionar, como faz o
time do Santos, a equipe recuava
e fechava os espaços defensivos.
Assim joga o Corinthians.
No imaginário de muitas pessoas, marcar duro significa fazer
faltas e jogar na defesa. Nem sempre é assim. A melhor maneira de
um time ser ofensivo não é ter
muitos típicos atacantes e sim
marcar por pressão e tomar a bola perto do outro gol, na hora em
que a defesa estiver desprotegida.
É o que faz o Santos.
O Corinthians está se tornando
freguês do Santos porque o Peixe
não deixa o Timão utilizar a sua
principal qualidade, que é a troca
de passes. Os defeitos do Corinthians são outros: pouca qualidade técnica de alguns jogadores e
falta de variações na maneira de
marcar e no desenho tático.
Além disso, quando o Corinthians perde a bola e tenta se posicionar defensivamente, não dá
tempo. Os meninos da Vila já estão longe, driblando e tocando a
bola com velocidade na direção
do gol. O jogo de domingo foi
uma repetição do anterior, na vitória do Santos por 4 a 2.
O Corinthians só marca por setor. Nunca pressiona nem marca
individualmente. É um erro em
determinadas partidas. Diego jogou livre. Com sua habilidade
técnica, criatividade e experiência (parece que tem mil anos),
deitou e rolou. Se o Diego, em alguns momentos, não demorasse
uma fração de segundo a mais
para dar o passe, ele teria sido
ainda mais brilhante, e o Santos
poderia fazer mais gols.
Essa forte marcação do Santos
não é novidade, mas é incomum.
É uma característica do futebol
do Sul. No ano passado, atuando
dessa forma, o Grêmio, comandado pelo Tite, não deixou São Paulo e Corinthians passarem do
meio-campo, pela Copa do Brasil.
Mas não adianta apenas marcar. É preciso ter talento quando
se recupera a posse de bola. O talento é muito mais importante do
que a marcação. Os melhores times do Rio Grande do Sul, como o
Internacional de Falcão na década de 70 e o Grêmio de Felipão,
marcavam bastante e possuíam
excelentes jogadores.
A Holanda surpreendeu o mundo em 1974 com uma excepcional
marcação na saída de bola. A diferença é que os zagueiros marcavam no meio-campo. Não havia
espaço entre defesa, meio-campo
e ataque. Onde estava a bola, havia dez holandeses. Era a pelada
organizada.
Outras equipes repetiram o carrossel holandês, sem sucesso. Havia muitos espaços nas costas do
zagueiros, e os jogadores não tinham preparo físico para tanto.
Essas equipes sofreram várias goleadas. O sonho do futebol total
foi abandonado.
Não é isso o que faz o Santos. Os
zagueiros não se adiantam e nem
correm atrás de atacantes. A
marcação é feita por zona e individual, no meio-campo, nas laterais e no ataque. De vez em quando, o time descansa mais atrás.
O estilo do Santos não é um retorno ao futebol romântico e moleque do passado. O Santos pratica o futebol do presente. Associa o
talento dos seus jogadores com
uma marcação por pressão que
nunca foi característica do futebol brasileiro.
Além do mais, os grandes times
do passado não jogavam futebol
de exibição. Atuavam para ganhar. Uniam eficiência e beleza,
dentro do estilo da época.
Dizem que craque é o que antevê a jogada. O excelente marcador, como o Renato do Santos,
antevê o passe e se antecipa ao
adversário.
Desarmar não é tão bonito
quanto um drible, um passe entre
os zagueiros e um belíssimo gol,
mas é também uma importante
qualidade técnica.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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