São Paulo, quarta-feira, 11 de dezembro de 2002

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FUTEBOL

A palavra da moda

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Durante e após a brilhante vitória do Santos contra o Corinthians, a palavra que mais ouvi de jogadores, treinadores e da imprensa esportiva foi marcação. Todos elogiavam a marcação do Santos, que já tinha sido ótima contra Grêmio e São Paulo, e criticavam a do Corinthians.
As grandes novidades do futebol brasileiro são os garotos da Vila e a descoberta da importância de se marcar bem. No passado, e até hoje, marcação era sinônimo de antifutebol brasileiro, de grossura e de defensivismo.
Para muitos, os grandes times da história do Brasil nunca se preocupavam com a marcação. Só jogavam no ataque e venciam porque os atletas, habilidosos, moleques e artistas, resolviam tudo sem a participação dos técnicos. Craque não precisava marcar. Isso era problema do rival.
Não é bem assim. Corri muito atrás do adversário, como fazem Diego e Robinho. Na Copa de 70, o que mais treinamos foi a marcação, dentro do estilo da época. Em vez de pressionar, como faz o time do Santos, a equipe recuava e fechava os espaços defensivos. Assim joga o Corinthians.
No imaginário de muitas pessoas, marcar duro significa fazer faltas e jogar na defesa. Nem sempre é assim. A melhor maneira de um time ser ofensivo não é ter muitos típicos atacantes e sim marcar por pressão e tomar a bola perto do outro gol, na hora em que a defesa estiver desprotegida. É o que faz o Santos.
O Corinthians está se tornando freguês do Santos porque o Peixe não deixa o Timão utilizar a sua principal qualidade, que é a troca de passes. Os defeitos do Corinthians são outros: pouca qualidade técnica de alguns jogadores e falta de variações na maneira de marcar e no desenho tático.
Além disso, quando o Corinthians perde a bola e tenta se posicionar defensivamente, não dá tempo. Os meninos da Vila já estão longe, driblando e tocando a bola com velocidade na direção do gol. O jogo de domingo foi uma repetição do anterior, na vitória do Santos por 4 a 2.
O Corinthians só marca por setor. Nunca pressiona nem marca individualmente. É um erro em determinadas partidas. Diego jogou livre. Com sua habilidade técnica, criatividade e experiência (parece que tem mil anos), deitou e rolou. Se o Diego, em alguns momentos, não demorasse uma fração de segundo a mais para dar o passe, ele teria sido ainda mais brilhante, e o Santos poderia fazer mais gols.
Essa forte marcação do Santos não é novidade, mas é incomum. É uma característica do futebol do Sul. No ano passado, atuando dessa forma, o Grêmio, comandado pelo Tite, não deixou São Paulo e Corinthians passarem do meio-campo, pela Copa do Brasil.
Mas não adianta apenas marcar. É preciso ter talento quando se recupera a posse de bola. O talento é muito mais importante do que a marcação. Os melhores times do Rio Grande do Sul, como o Internacional de Falcão na década de 70 e o Grêmio de Felipão, marcavam bastante e possuíam excelentes jogadores.
A Holanda surpreendeu o mundo em 1974 com uma excepcional marcação na saída de bola. A diferença é que os zagueiros marcavam no meio-campo. Não havia espaço entre defesa, meio-campo e ataque. Onde estava a bola, havia dez holandeses. Era a pelada organizada.
Outras equipes repetiram o carrossel holandês, sem sucesso. Havia muitos espaços nas costas do zagueiros, e os jogadores não tinham preparo físico para tanto. Essas equipes sofreram várias goleadas. O sonho do futebol total foi abandonado.
Não é isso o que faz o Santos. Os zagueiros não se adiantam e nem correm atrás de atacantes. A marcação é feita por zona e individual, no meio-campo, nas laterais e no ataque. De vez em quando, o time descansa mais atrás.
O estilo do Santos não é um retorno ao futebol romântico e moleque do passado. O Santos pratica o futebol do presente. Associa o talento dos seus jogadores com uma marcação por pressão que nunca foi característica do futebol brasileiro.
Além do mais, os grandes times do passado não jogavam futebol de exibição. Atuavam para ganhar. Uniam eficiência e beleza, dentro do estilo da época.
Dizem que craque é o que antevê a jogada. O excelente marcador, como o Renato do Santos, antevê o passe e se antecipa ao adversário.
Desarmar não é tão bonito quanto um drible, um passe entre os zagueiros e um belíssimo gol, mas é também uma importante qualidade técnica.

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