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MOTOR
Vale um Oscar
FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Primeiro ato: GP da Itália,
três meses atrás, última prova do ano na Europa. Chance
derradeira para aparecer, já que
boa parte da mídia não viaja ao
outro lado do mundo, principalmente com o Mundial decidido.
Montezemolo convoca os repórteres para reclamar da divisão de
verbas. Ele, como os outros chefes
de equipe, acha que sobra muito
pouco para quem dá o espetáculo.
Ecclestone surge de surpresa,
puxa uma cadeira, senta-se em
meio aos jornalistas, ouve atentamente. Ao final, levanta-se, junta-se ao italiano, abraça-o. Afirma que se esforçará para melhorar a situação. Faz juras de amor.
Segundo ato: Londres, última
segunda-feira. Fato raro na sua
vida, Ecclestone leva uma rasteira. A Justiça inglesa dá ganho de
causa aos bancos que no papel detêm 75% da F-1 mas que, na prática, nunca apitaram nada.
Esse desfecho era esperado. Surpreendente é a primeira reação
do inglês. Em vez de espernear, de
gritar bravatas e injúrias, mantém a calma. Diz que a decisão,
para ele, não tem importância e
lança uma apropriada analogia
com o mercado imobiliário: os
bancos teriam herdado a casa,
mas não a querem e, agora, apenas estão tentando valorizá-la.
A explicação estaria no entreato, e a estrela é a GPWC. Aquela
empresa formada por montadoras que, exatamente pelo problema de divisão do bolo, ameaçam
lançar uma "nova F-1" ao fim do
Pacto de Concórdia, o contrato
que amarra os times a Ecclestone.
Imaginemos que o negócio saia
do papel e que hajam duas categorias em 2008, a exemplo do que
ocorre nos EUA. Qual dos dois
campeonatos será a "verdadeira
F-1"? O que tiver a Ferrari, é claro.
Sim, Ecclestone é maquiavélico.
O bastante para deixar o mico
nas mãos dos bancos e se bandear
com Ferrari (Fiat), McLaren
(Mercedes), Williams (BMW) e
Renault para a GPWC. Usando a
analogia anterior, o inquilino colocaria fogo na casa antes de devolvê-la para o proprietário.
Ecclestone já cortejou a Ferrari
publicamente. Nos bastidores,
certamente flerta com as demais.
E por que interessaria às montadoras uma associação com o
homem de quem tentam fugir
agora? Porque Ecclestone sabe o
caminho das pedras. Foi ele que
transformou a F-1 quase amadora do início dos 80 no espetáculo
ultraprofissional de agora. É ele, e
não os chefes de equipe, que negocia com cada promotor de GP,
que luta por centavos com emissoras de TV, que há anos enfrenta
o lobby anticigarro na Europa.
Para as montadoras, um Ecclestone devidamente enquadrado
seria ideal. A chance que surge
agora é perfeita. Talvez única. E
ele, embora embolsando menos
do que agora, sairia da confusão
de cabeça erguida, ainda como o
grande chefe. Sairia vitorioso.
Há uma outra possibilidade. De
que tudo isso, dos abraços em
Montezemolo ao desdém pela
derrota na Alta Corte, seja, de fato, um grande blefe. Os bancos
acreditariam estar numa enrascada e correriam para se livrar
das ações. Ecclestone, aqui, também seria o grande vitorioso.
Deve ser por isso que ele se dá
tão bem com Schumacher.
Melhor ator
Ecclestone encenou excluir Silverstone do calendário, Stewart tirou
dinheiro não se sabe de onde e garantiu o GP. O Mundial terá mesmo
19 etapas. Será que a F-1 de hoje preenche tudo isso?
Melhor roteiro
Danica Patrick, 22, vai correr a IRL em 2005 pela Rahal. Nesse caso,
nenhuma encenação, nenhuma jogada de marketing: terceira na F-Atlantic, ela ganhou a vaga no braço. E ainda é bonita.
Melhor ator coadjuvante
De Webber, na "Autosport": "O Michael chega para conversar e
quando você percebe ele já te fez 20 perguntas. Esse é um dos segredos dele".
E-mail fseixas@folhasp.com.br
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