São Paulo, domingo, 12 de março de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mais de 2.000 jogadores espalham currículos pela Internet
Desempregados.com.br


"Peneira virtual" tem número de atletas igual a 10% dos profissionais inscritos na CBF


FÁBIO VICTOR
FERNANDO MELLO
da Reportagem Local

No império da Internet, o surrado chavão radiofônico "bola na rede" ganhou outro significado.
A rede mundial de computadores virou também esperança de emprego para jogadores, técnicos e outros profissionais do futebol.
Desde anônimos como os irmãos Rocco até ex-astros como Cláudio Adão, milhares de "boleiros" brasileiros estão espalhando seus currículos eletrônicos em busca de uma oportunidade em um mercado saturado.
Há pelo menos cinco sites nacionais oferecendo aos clubes 2.089 atletas -número que corresponde a 10,2% dos 20.496 profissionais registrados na Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Há ainda a oferta de 80 técnicos, 39 preparadores físicos, 18 gerentes de futebol, dez preparadores de goleiros, três massagistas, seis psicólogos e seis fisioterapeutas.
"Estou há uns seis meses na Internet. A maioria dos clubes não está querendo procurar diretamente, então vai para a Internet", justifica Cláudio Adão, 41, que tem seu currículo no Acheiatleta, um dos sites mais completos da área.
"Navegando na Internet, achei essa página e resolvi cadastrá-lo. Só coloquei o Cláudio mesmo em função de ele ser um nome conhecido", relata Jeankarlo Gomes, empresário de Adão.
Segundo o ex-jogador, dois clubes já o procuraram nesse período, mas ele não pôde acertar com nenhum deles. "Tive um contato do Paraná Clube e outro de um time da Espanha, de uma cidadezinha para os lados de Palma de Mallorca. Mas não dei muita atenção, porque estava com o contrato com o beach soccer."
Adão é um dos poucos nomes famosos que figuram entre os mais de 2.000 currículos.
Outra estrela que buscou a Internet é o volante Dinho, campeão mundial pelo São Paulo em 1993 e capitão do Grêmio na conquista da Libertadores de 1995.
Tendo sofrido uma contusão séria no joelho na Série B do Brasileiro-98, quando defendia o América-MG, Dinho tem dificuldades para encontrar clube. "Resolvi colocar o nome dele no site porque é uma maneira de os times do interior e do Nordeste localizarem-no", conta Paulo Brasil, empresário e amigo do atleta.
Brasil colocou na Internet outros atletas famosos, como o atacante Fabinho, campeão brasileiro pelo Corinthians em 90. Hoje, o ex-corintiano defende o Rio Branco, de Andradas (MG).
"Mas até agora não tive o retorno que esperava. Desde que cadastrei meus jogadores, há um ano, não recebi telefonemas de clubes interessados", afirma.
De acordo com os webmasters ouvidos pela Folha, não há estimativa do número de transações concluídas a partir dos currículos na Internet. "Os jogadores que encontram clubes têm medo de nos contar porque acham que vamos querer comissão. Nossa intenção é ganhar dinheiro com banner (publicidade nos sites), e não com as transferências. O serviço é totalmente gratuito", declara Luís Fernando Borda Soares, idealizador do Acheiatleta.
Trinta por cento dos currículos eletrônicos pertencem a jogadores profissionais. A grande maioria é anônima, que vê na rede a última chance de realizar o sonho de jogar futebol.
"Acabei minha faculdade de direito em 98, mas o que eu gosto mesmo é de jogar futebol. Se me derem uma oportunidade, largo tudo", declara Alex Sandro Marcos, 24, em entrevista por telefone, de seu escritório, em Curitiba.
Alex Sandro diz que não recebeu propostas. "No começo, ia todo dia ver meu e-mail para ver se alguém havia se interessado. Hoje já não faço isso, sigo minha vida. Mas não perco a esperança. Quem sabe, com tanta gente navegando, um clube me acha."
O advogado diz que nunca contou a ninguém que tinha se cadastrado. "Iam ficar me gozando, perguntando se o jogador de futebol tinha conseguido um time. Preferi guardar em segredo."
A mesma situação de isolamento vive a estudante Beatriz Perazza de Ribeiro e Dias, uma das 23 mulheres que preencheram o formulário eletrônico.
"Não tinha oportunidade nos clubes e achei que me cadastrando alguém poderia se interessar. Mas até agora só você ligou", diz a zagueira mineira de 15 anos, que pretende seguir a carreira de relações públicas. "Ninguém nos incentivava. Até o meu pai falava para eu largar a idéia. Perdi o ânimo para seguir profissionalmente. Já nem penso nisso."
Para Borda Soares, o grande problema para que a "peneira" virtual dê resultados é a falta de divulgação. "Não tivemos capital para investir. Somos como um Dom Quixote. Acredito na idéia, mas ainda não tive retorno."



Texto Anterior: Agenda
Próximo Texto: Anúncio em jornal vira alternativa
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.