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Mais de 2.000 jogadores espalham currículos pela Internet
Desempregados.com.br
"Peneira virtual" tem número de atletas igual a 10% dos profissionais inscritos na CBF
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FÁBIO VICTOR
FERNANDO MELLO
da Reportagem Local
No império da Internet, o surrado chavão radiofônico "bola na
rede" ganhou outro significado.
A rede mundial de computadores virou também esperança de
emprego para jogadores,
técnicos e outros profissionais do futebol.
Desde anônimos como os irmãos Rocco
até ex-astros como
Cláudio Adão, milhares de "boleiros"
brasileiros estão espalhando seus currículos eletrônicos em
busca de uma oportunidade em um mercado saturado.
Há pelo menos cinco
sites nacionais oferecendo aos clubes 2.089 atletas -número que corresponde a 10,2% dos
20.496 profissionais registrados na Confederação
Brasileira de Futebol (CBF).
Há ainda a oferta de 80
técnicos, 39 preparadores
físicos, 18 gerentes de futebol, dez preparadores de
goleiros, três massagistas,
seis psicólogos e seis fisioterapeutas.
"Estou há uns seis
meses na Internet.
A maioria dos clubes não está querendo procurar diretamente, então vai para a Internet", justifica
Cláudio Adão, 41, que tem seu
currículo no Acheiatleta, um dos
sites mais completos da área.
"Navegando na Internet, achei
essa página e resolvi cadastrá-lo.
Só coloquei o Cláudio mesmo em
função de ele ser um nome conhecido", relata Jeankarlo Gomes,
empresário de Adão.
Segundo o ex-jogador, dois clubes já o procuraram nesse período, mas ele não pôde acertar com
nenhum deles. "Tive um contato
do Paraná Clube e outro de um time da Espanha, de uma cidadezinha para os lados de Palma de
Mallorca. Mas não dei muita
atenção, porque estava com o
contrato com o beach soccer."
Adão é um dos poucos nomes
famosos que figuram entre os
mais de 2.000 currículos.
Outra estrela que buscou a Internet é o volante Dinho, campeão mundial pelo São Paulo em
1993 e capitão do Grêmio na conquista da Libertadores de 1995.
Tendo sofrido uma contusão
séria no joelho na Série B do Brasileiro-98, quando defendia o
América-MG, Dinho tem dificuldades para encontrar clube. "Resolvi colocar o nome dele no site
porque é uma maneira de os times do interior e do Nordeste localizarem-no", conta Paulo Brasil, empresário e amigo do atleta.
Brasil colocou na Internet outros atletas famosos, como o atacante Fabinho, campeão brasileiro pelo Corinthians em 90. Hoje,
o ex-corintiano defende o Rio
Branco, de Andradas (MG).
"Mas até agora não tive o retorno que esperava. Desde que cadastrei meus jogadores, há um
ano, não recebi telefonemas de
clubes interessados", afirma.
De acordo com os webmasters
ouvidos pela Folha, não há estimativa do número de transações
concluídas a partir dos currículos
na Internet. "Os jogadores que
encontram clubes têm medo de
nos contar porque acham que vamos querer comissão. Nossa intenção é ganhar dinheiro com
banner (publicidade nos sites), e
não com as transferências. O serviço é totalmente gratuito", declara Luís Fernando Borda Soares,
idealizador do Acheiatleta.
Trinta por cento dos currículos
eletrônicos pertencem a jogadores profissionais. A grande maioria é anônima, que vê na rede a última chance de realizar o sonho
de jogar futebol.
"Acabei minha faculdade de direito em 98, mas o que eu gosto
mesmo é de jogar futebol. Se me
derem uma oportunidade, largo
tudo", declara Alex Sandro Marcos, 24, em entrevista por telefone, de seu escritório, em Curitiba.
Alex Sandro diz que não recebeu propostas. "No começo, ia todo dia ver meu e-mail para ver se
alguém havia se interessado. Hoje
já não faço isso, sigo minha vida.
Mas não perco a esperança.
Quem sabe, com tanta gente navegando, um clube me acha."
O advogado diz que nunca contou a ninguém que tinha se cadastrado. "Iam ficar me gozando,
perguntando se o jogador de futebol tinha conseguido um time.
Preferi guardar em segredo."
A mesma situação de isolamento vive a estudante Beatriz Perazza de Ribeiro e Dias, uma das 23
mulheres que preencheram o formulário eletrônico.
"Não tinha oportunidade nos
clubes e achei que me cadastrando alguém poderia se interessar.
Mas até agora só você ligou", diz a
zagueira mineira de 15 anos, que
pretende seguir a carreira de relações públicas. "Ninguém nos incentivava. Até o meu pai falava
para eu largar a idéia. Perdi o ânimo para seguir profissionalmente. Já nem penso nisso."
Para Borda Soares, o grande
problema para que a "peneira"
virtual dê resultados é a falta de
divulgação. "Não tivemos capital
para investir. Somos como um
Dom Quixote. Acredito na idéia,
mas ainda não tive retorno."
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