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XADREZ
Atrás do Mundial, Alexandra Kosteniuk abre mão de ensaios fotográficos por 6 horas diárias tentando o xeque-mate
Modelo troca flashes por glória máxima no tabuleiro
TALES TORRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
"Quero provar que beleza e inteligência podem andar juntas."
Para evidenciar seu lema, a modelo russa Alexandra Kosteniuk,
21, escolheu o xadrez, ainda na infância. E surpreendeu. Atual campeã russa e européia, ela iniciou
ontem a busca pelo único título
que lhe falta: o mundial, disputado na cidade de Ekaterinburgo
(1.500 km ao leste de Moscou).
Em busca do objetivo, abriu
mão de sua principal fonte de renda: os ensaios fotográficos que fazia para revistas e catálogos de
moda na Europa. "Agora sou
uma profissional do xadrez, treino de cinco a seis horas por dia. O
resto virou hobby", declarou a
russa à Folha na última quarta-feira, ao encerrar sua preparação
para viajar à sede do Mundial.
Trocar os estúdios pelos tabuleiros não causou dramas. Ao
contrário. Teve apoio da família.
O pai de Alexandra, Konstantin
Vladimirovich, chegou a abandonar o emprego de oficial do Exército para treinar a filha de então
cinco anos. A carreira no xadrez,
lembra Konstantin, surgiu para
amenizar a frustração de Alexandra não ter nascido homem.
Aos nove anos, ela conquistou o
Europeu sub-10. Um mês depois,
foi vice mundial na categoria.
Aos 13, tornou-se Mestre Internacional entre as mulheres. Aos
14, o ápice: conquistou o título de
Grande Mestre feminina, a mais
alta graduação do esporte, que ela
ostenta também entre os homens.
A insólita imagem da bela jovem desafiando homens de meia-idade chamou a atenção de agências de modelos. Alexandra, então, passou a conciliar seus torneios com propagandas para a relojoaria suíça Balmain. Fez anúncios também para redes de eletrônicos, softwares e telefonia móvel.
A conta bancária crescia. Sua reputação no xadrez também. Na
categoria adulta, arrebatou os títulos nacional e continental que
hoje ostenta. Tornou-se uma das
mais fortes jogadoras de todos os
tempos e escreveu um livro em
companhia do pai, "Como me
tornei uma Grande Mestre aos 14
anos", lançado na Europa em russo, espanhol e inglês. Alexandra
ainda domina outros dois idiomas: o francês e o alemão.
A irrequieta morena de 1,63 metro e 48 kg arriscou carreira também nos poemas. Alguns podem
ser conferidos em seu site, o
www.kosteniuk.com. A própria
Alexandra abastece, com a ajuda
do pai e do empresário, todo o
conteúdo da página. "Nenhum
outro site de enxadristas tem tantos acessos", ressalta, orgulhoso, o
marido e manager da russa, o suíço Diego Garces, 45, que abandonou os torneios de xadrez para se
dedicar integralmente à carreira
da mulher, de apenas 18 anos
quando ambos se casaram.
Os dois moram em Moscou,
mas viajam a maior parte do tempo. O assédio, segundo Garces,
tem crescido: "Várias revistas
masculinas nos procuraram para
ensaios de nu, mas recusamos os
convites imediatamente".
A mais bem paga enxadrista do
mundo teme a pressão. "A Rússia
ama xadrez, e o Mundial está sendo seguido por todo o país." Para
chegar ao título, Alexandra terá a
concorrência de 63 jogadoras, de
29 países -não há brasileiras. Na
estréia, ontem, Alexandra jogou
com as peças brancas e derrotou a
canadense Natalia Khoudgarian,
que desistiu no 53º lance, após 3
horas e meia de partida. Disputado em mata-matas de dois jogos,
o Mundial acaba no dia 27.
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