São Paulo, domingo, 12 de março de 2006

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XADREZ

Atrás do Mundial, Alexandra Kosteniuk abre mão de ensaios fotográficos por 6 horas diárias tentando o xeque-mate

Modelo troca flashes por glória máxima no tabuleiro

TALES TORRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Quero provar que beleza e inteligência podem andar juntas."
Para evidenciar seu lema, a modelo russa Alexandra Kosteniuk, 21, escolheu o xadrez, ainda na infância. E surpreendeu. Atual campeã russa e européia, ela iniciou ontem a busca pelo único título que lhe falta: o mundial, disputado na cidade de Ekaterinburgo (1.500 km ao leste de Moscou).
Em busca do objetivo, abriu mão de sua principal fonte de renda: os ensaios fotográficos que fazia para revistas e catálogos de moda na Europa. "Agora sou uma profissional do xadrez, treino de cinco a seis horas por dia. O resto virou hobby", declarou a russa à Folha na última quarta-feira, ao encerrar sua preparação para viajar à sede do Mundial.
Trocar os estúdios pelos tabuleiros não causou dramas. Ao contrário. Teve apoio da família.
O pai de Alexandra, Konstantin Vladimirovich, chegou a abandonar o emprego de oficial do Exército para treinar a filha de então cinco anos. A carreira no xadrez, lembra Konstantin, surgiu para amenizar a frustração de Alexandra não ter nascido homem.
Aos nove anos, ela conquistou o Europeu sub-10. Um mês depois, foi vice mundial na categoria.
Aos 13, tornou-se Mestre Internacional entre as mulheres. Aos 14, o ápice: conquistou o título de Grande Mestre feminina, a mais alta graduação do esporte, que ela ostenta também entre os homens.
A insólita imagem da bela jovem desafiando homens de meia-idade chamou a atenção de agências de modelos. Alexandra, então, passou a conciliar seus torneios com propagandas para a relojoaria suíça Balmain. Fez anúncios também para redes de eletrônicos, softwares e telefonia móvel.
A conta bancária crescia. Sua reputação no xadrez também. Na categoria adulta, arrebatou os títulos nacional e continental que hoje ostenta. Tornou-se uma das mais fortes jogadoras de todos os tempos e escreveu um livro em companhia do pai, "Como me tornei uma Grande Mestre aos 14 anos", lançado na Europa em russo, espanhol e inglês. Alexandra ainda domina outros dois idiomas: o francês e o alemão.
A irrequieta morena de 1,63 metro e 48 kg arriscou carreira também nos poemas. Alguns podem ser conferidos em seu site, o www.kosteniuk.com. A própria Alexandra abastece, com a ajuda do pai e do empresário, todo o conteúdo da página. "Nenhum outro site de enxadristas tem tantos acessos", ressalta, orgulhoso, o marido e manager da russa, o suíço Diego Garces, 45, que abandonou os torneios de xadrez para se dedicar integralmente à carreira da mulher, de apenas 18 anos quando ambos se casaram.
Os dois moram em Moscou, mas viajam a maior parte do tempo. O assédio, segundo Garces, tem crescido: "Várias revistas masculinas nos procuraram para ensaios de nu, mas recusamos os convites imediatamente".
A mais bem paga enxadrista do mundo teme a pressão. "A Rússia ama xadrez, e o Mundial está sendo seguido por todo o país." Para chegar ao título, Alexandra terá a concorrência de 63 jogadoras, de 29 países -não há brasileiras. Na estréia, ontem, Alexandra jogou com as peças brancas e derrotou a canadense Natalia Khoudgarian, que desistiu no 53º lance, após 3 horas e meia de partida. Disputado em mata-matas de dois jogos, o Mundial acaba no dia 27.


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