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F-1
GP Brasil ferve e esfria com Barrichello
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
FÁBIO SEIXAS
EDGARD ALVES
da Reportagem Local
Por 42 voltas, Interlagos acreditou ontem que Rubens Barrichello
subiria ao pódio do GP Brasil. Por
23, imaginou um piloto brasileiro
vencendo, algo que não acontecia
desde 94, quando Ayrton Senna,
na mesma pista, liderou 21 voltas.
A vitória, no entanto, foi do fin-landês Mika Hakkinen. Michael
Schumacher foi o segundo, seguido por Heinz-Harald Frentzen.
Barrichello, 26, há sete anos na F-1, liderou pela primeira vez uma
prova sem contar com o acaso.
Antes, em sua carreira na categoria, havia liderado apenas quatro
voltas. Três no GP de Portugal de
94 e uma no GP da Itália de 95.
Foram lideranças etéreas, que
surgiram de situações de corrida,
logo derrubadas por pilotos que
contavam com melhores carros.
Ontem, porém, o brasileiro tinha
em mãos um carro decente. Não
sem razão, levou no macacão uma
bandeira do Brasil, para comemorar uma eventual vitória. Terceiro
no grid, à frente de Schumacher,
passou à vice-liderança logo na
largada -segundo no grid, o escocês David Coulthard, da McLaren,
teve uma falha no câmbio.
Barrichello perseguiu Hakkinen,
companheiro de Coulthard, pole
position e atual campeão mundial,
por três voltas. Na quarta, ultrapassou o finlandês, que perdeu velocidade em plena Reta Oposta,
com uma falha na embreagem.
"Acho que ele teve algum problema no câmbio. Quando vi que ele
estava devagar, joguei o carro para
a esquerda, mas ele foi para o mesmo lado. Então, joguei para a direita e acabei fazendo a ultrapassagem", disse Barrichello.
Com Schumacher em seu encalço, manteve a ponta por 23 voltas,
sempre com uma vantagem de cerca de 3,5 segundos. A cada passagem pelas arquibancadas, levantava o público, até então eufórico.
Só perdeu a liderança na 27ª volta, quando entrou nos boxes da
equipe Stewart para sua primeira
troca de pneus e reabastecimento.
Voltou à pista em quarto, ultrapassou o ferrarista Eddie Irvine na
entrada do S nove voltas depois e
seguiu uma estratégia traçada para
que terminasse a prova em terceiro
lugar. "A (ultrapassagem) no Irvine foi boa. Na frente do público."
Porém, a quebra de seu motor
Ford, quando percorria a Subida
dos Boxes para completar a 43ª
volta, encerrou suas esperanças.
Assim que parou seu Stewart,
Barrichello levou as mãos à cabeça.
Deixou o cockpit, olhou fixamente
para o carro e andou de volta aos
boxes. Aplaudido pelos 60 mil torcedores que lotaram as arquibancadas, abriu uma bandeira nacional que levara dobrada no bolso.
Segundo funcionários da Telefônica, empresa responsável pelo
serviço de telefonia no autódromo,
que estavam próximos ao ponto
em que o carro parou, Barrichello
atravessou o pit lane chorando.
"Sem nenhum alarde, o motor
pifou. Quebrou", disse o piloto.
"Agora, o que vem é a decepção
porque não deu para terminar na
posição que eu queria. Ficou um
buraco bem no meio do peito."
Um pódio de Barrichello fecharia
com êxito o mais bem-sucedido
GP Brasil dos últimos anos. Desde
a era Senna, a prova não recebia
tanto investimento e público.
A boa perspectiva criada em cima do desempenho de Barrichello
começou, de fato, na Austrália, na
abertura da temporada.
Em dois dias de treino para o primeiro GP do ano, a equipe Stewart
mudou todos os prognósticos desfavoráveis sobre sua capacidade.
Na ocasião, Barrichello foi o
quarto no grid. Só não subiu ao pódio porque recebeu uma punição
de 10 segundos por exceder a velocidade máxima nos boxes. Terminou em quinto.
"Em duas provas neste ano, tive
chance de vencer duas vezes. Isso
nunca tinha acontecido. Temos
um bom carro. Mais para a frente,
vai dar para lutar pela vitória."
Tanto ele como Jackie Stewart,
dono de sua equipe, alegam que
hoje o único problema sério do
carro está na resistência do motor.
Para o tricampeão Stewart, "a
performance do carro está boa. O
motor é potente, só que ainda precisa de mais confiabilidade".
Ao lado de seu filho Paul, ele
acompanhou com bastante
apreensão o desenvolvimento da
prova. "No fim das contas, foi um
bom final de semana."
A liderança fez Barrichello lembrar de seu início no automobilismo. "Estava guiando com tranquilidade. Parecia que eu estava em
uma corrida de F-3. Sempre que
passava pelos boxes, olhava várias
vezes para a placa de P1 (código
usado pelas equipes para indicar
que o piloto é o líder da prova)."
"Desde que o Ayrton morreu, tudo foi passado para mim. O ano de
95 foi o pior da minha vida, mas
aprendi com aquela situação de
cobrança", declarou.
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