São Paulo, Segunda-feira, 12 de Abril de 1999
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F-1
GP Brasil ferve e esfria com Barrichello

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
FÁBIO SEIXAS
EDGARD ALVES
da Reportagem Local

Por 42 voltas, Interlagos acreditou ontem que Rubens Barrichello subiria ao pódio do GP Brasil. Por 23, imaginou um piloto brasileiro vencendo, algo que não acontecia desde 94, quando Ayrton Senna, na mesma pista, liderou 21 voltas.
A vitória, no entanto, foi do fin-landês Mika Hakkinen. Michael Schumacher foi o segundo, seguido por Heinz-Harald Frentzen.
Barrichello, 26, há sete anos na F-1, liderou pela primeira vez uma prova sem contar com o acaso.
Antes, em sua carreira na categoria, havia liderado apenas quatro voltas. Três no GP de Portugal de 94 e uma no GP da Itália de 95.
Foram lideranças etéreas, que surgiram de situações de corrida, logo derrubadas por pilotos que contavam com melhores carros.
Ontem, porém, o brasileiro tinha em mãos um carro decente. Não sem razão, levou no macacão uma bandeira do Brasil, para comemorar uma eventual vitória. Terceiro no grid, à frente de Schumacher, passou à vice-liderança logo na largada -segundo no grid, o escocês David Coulthard, da McLaren, teve uma falha no câmbio.
Barrichello perseguiu Hakkinen, companheiro de Coulthard, pole position e atual campeão mundial, por três voltas. Na quarta, ultrapassou o finlandês, que perdeu velocidade em plena Reta Oposta, com uma falha na embreagem.
"Acho que ele teve algum problema no câmbio. Quando vi que ele estava devagar, joguei o carro para a esquerda, mas ele foi para o mesmo lado. Então, joguei para a direita e acabei fazendo a ultrapassagem", disse Barrichello.
Com Schumacher em seu encalço, manteve a ponta por 23 voltas, sempre com uma vantagem de cerca de 3,5 segundos. A cada passagem pelas arquibancadas, levantava o público, até então eufórico.
Só perdeu a liderança na 27ª volta, quando entrou nos boxes da equipe Stewart para sua primeira troca de pneus e reabastecimento.
Voltou à pista em quarto, ultrapassou o ferrarista Eddie Irvine na entrada do S nove voltas depois e seguiu uma estratégia traçada para que terminasse a prova em terceiro lugar. "A (ultrapassagem) no Irvine foi boa. Na frente do público."
Porém, a quebra de seu motor Ford, quando percorria a Subida dos Boxes para completar a 43ª volta, encerrou suas esperanças.
Assim que parou seu Stewart, Barrichello levou as mãos à cabeça. Deixou o cockpit, olhou fixamente para o carro e andou de volta aos boxes. Aplaudido pelos 60 mil torcedores que lotaram as arquibancadas, abriu uma bandeira nacional que levara dobrada no bolso.
Segundo funcionários da Telefônica, empresa responsável pelo serviço de telefonia no autódromo, que estavam próximos ao ponto em que o carro parou, Barrichello atravessou o pit lane chorando.
"Sem nenhum alarde, o motor pifou. Quebrou", disse o piloto. "Agora, o que vem é a decepção porque não deu para terminar na posição que eu queria. Ficou um buraco bem no meio do peito."
Um pódio de Barrichello fecharia com êxito o mais bem-sucedido GP Brasil dos últimos anos. Desde a era Senna, a prova não recebia tanto investimento e público.
A boa perspectiva criada em cima do desempenho de Barrichello começou, de fato, na Austrália, na abertura da temporada.
Em dois dias de treino para o primeiro GP do ano, a equipe Stewart mudou todos os prognósticos desfavoráveis sobre sua capacidade.
Na ocasião, Barrichello foi o quarto no grid. Só não subiu ao pódio porque recebeu uma punição de 10 segundos por exceder a velocidade máxima nos boxes. Terminou em quinto.
"Em duas provas neste ano, tive chance de vencer duas vezes. Isso nunca tinha acontecido. Temos um bom carro. Mais para a frente, vai dar para lutar pela vitória."
Tanto ele como Jackie Stewart, dono de sua equipe, alegam que hoje o único problema sério do carro está na resistência do motor.
Para o tricampeão Stewart, "a performance do carro está boa. O motor é potente, só que ainda precisa de mais confiabilidade".
Ao lado de seu filho Paul, ele acompanhou com bastante apreensão o desenvolvimento da prova. "No fim das contas, foi um bom final de semana."
A liderança fez Barrichello lembrar de seu início no automobilismo. "Estava guiando com tranquilidade. Parecia que eu estava em uma corrida de F-3. Sempre que passava pelos boxes, olhava várias vezes para a placa de P1 (código usado pelas equipes para indicar que o piloto é o líder da prova)."
"Desde que o Ayrton morreu, tudo foi passado para mim. O ano de 95 foi o pior da minha vida, mas aprendi com aquela situação de cobrança", declarou.


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