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Escândalo da CBF não causa surpresa
ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas
Há jogadores que nasceram
predestinados aos grandes momentos. Muller, por certo, é um
deles. Faça um retrospecto de
sua carreira e verá que ele estava ali no centro dos grandes
momentos do São Paulo, do
Palmeiras e agora do Santos:
deu o passe para o gol de Caíco
e selou a sorte corintiana ele
mesmo, sábado, na Vila.
É o cara certo, no lugar certo,
na hora exata.
Os 3 a 1 sofridos pelo Palmeiras diante do União, em pleno
Parque Antarctica, lançam
uma luz sobre a súbita escapada de Brunoro. O homem tem
um sexto sentido de médium
de Conan Doyle.
Nos anos 60, em cada mesa
de bar, costumava-se brandir
a frase da época, exarada pelo
gênio não sei se de Sérgio Porto
-o Stanislaw Ponte Preta-,
de Millôr Fernandes ou de Don
Rosé Cavaca: "Que se instale a
moralidade, ou então, que nos
locupletemos todos!"
Já naqueles tempos, a cartolagem brasileira havia feito a
opção óbvia: o futebol sempre
foi para eles um atalho que
conduzia à realização de um
destes três desejos inconfessos,
quando não de todos juntos: 1)
aplacar o ego transbordante;
2) transbordar as próprias
contas correntes; 3) tomar de
assalto uma posição política
que lhes permitiria atender às
exigências anteriores, de preferência, sob a proteção de um
mandato parlamentar.
Por isso, quem acompanha o
vaivém da bola preta que quica nos bastidores do futebol
não se surpreendeu nem um
pouco com o escândalo da
CBF. E aqui quero cunhar com
todas as letras a expressão "escândalo da CBF", para não
compactuar com certa imprensa marota que tenta tipificar o
caso como uma excrescência
produzida isoladamente por
um só dirigente esportivo, o indigitado Ivens Mendes, com a
evidente intenção de poupar,
sobretudo, o presidente Ricardo Teixeira. Pois não há como
dissociá-lo do episódio. Muito
menos seu tio Marco Antonio.
Seja por incúria, seja por
cumplicidade de qualquer nível, Ricardo Teixeira é o maior
responsável. Afinal, foi ele
quem tirou do bolso o nome de
Ivens Mendes. Colocou-o numa posição de alto relevo estratégico da entidade e conferiu-lhe poderes absolutos. E ali
o manteve por quase dez anos.
Além do mais, Mendes, pelas
conversas telefônicas grampeadas e reveladas pelo repórter Marcelo Rezende, na Globo, deixa claro que não escondia de ninguém suas manobras. Para ele, eram legítimas.
Logo, jogava aberto. Até mesmo com o tio do presidente.
Ora, então só o presidente,
naquele malfadado prédio da
rua da Alfândega, colméia de
intrigas, não sabia de nada?
Nem mesmo o Eremildo, do
Elio Gaspari, acredita nisso.
Portanto, o mínimo de decência exige a suspensão pelo
Tribunal da CBF não apenas
dos presidentes do Corinthians
e do Atlético-PR, além de Ivens
Mendes, que, como ex, não está suspenso de coisa alguma.
Mas também toda a cúpula da
CBF, no mínimo por omissão,
senão por conivência.
Isso, sem se falar no próprio
Tribunal da CBF, cujos membros lá estão por instâncias de
Ricardo Teixeira.
Que se instale, definitivamente, a moralidade. Sem
"ou", pinóias!
Alberto Helena Jr. escreve aos domingos, segundas e quartas
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