São Paulo, domingo, 12 de maio de 2002

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"O Romário não se preocupou nem com a seleção nem comigo"

Folha - O Romário foi a uma igreja evangélica depois de ter ficado fora da lista. Ele também chorou. Esses atos não te comovem?
Scolari -
É claro, eu acho interessante. Acho que é normal uma pessoa mudar. Ele está mudando alguns conceitos na vida dele, a espiritualidade dele está mudando. É ótimo, fico contente, porque eu sou amigo do Romário, eu gosto dele, não tenho nenhuma diferença. Assim como eu, no sábado fui à Nossa Senhora do Caravaggio. Faz parte do dia-a-dia, faz parte da nossa vida. Mas isso nada tem a ver com a escolha.

Folha - O que mais pesou?
Scolari -
Sempre disse que foram aspectos técnicos, táticos e de confiança, de fidelidade.

Folha - Dentro do aspecto de confiança e fidelidade, o que contou mais para ele ficar fora?
Scolari -
Quando eu te convido para ir à minha casa e te abro a porta, é sinal de que eu tenho confiança. Quando eu convoco pela primeira vez a seleção, levo para jogar contra o Uruguai e dou a tarja de capitão, é porque tenho confiança. Aí preciso de referência na Copa América e não tenho. Preciso de força para eu ficar até mais forte em termos de seleção, porque eu estou chegando, e não sou atendido. E vejo que depois viaja com o clube [Vasco" e, quando nós estamos na competição, ainda tem um passeio em Cancún. Sinal de que ele não está preocupado nem com a seleção nem comigo. Então, nesse momento, meu coração, que é um coração aberto, tem que se fechar.

Folha - Ele te procurou?
Scolari -
Não.

Folha - E se tivesse te procurado.
Scolari -
Se, se, se, se... Não adianta nada. Está fora, o assunto está encerrado.

Folha - E as insinuações de que as convocações seriam pautadas por padrinho, empresário...
Scolari -
Insinuação eu não vou responder.

Folha - Ele disse que isso ocorria na seleção, e o técnico é você...
Scolari -
Perguntem vocês a quem ele estava se referindo. A seleção já teve 300 técnicos. Peçam a ele para confirmar meu nome. Tomem nota e gravem, que eu o processo.

Folha - O que achou de a mãe dele ter dito que você não tem coração?
Scolari -
Achei normal a atitude dela. Atitude de mãe, eu entendi.

Folha - O que espera do Ronaldo? Como você avaliou o choro dele após ter perdido o Italiano?
Scolari -
Aquilo foi uma reação espontânea. [Frisa" Aquilo foi reação espontânea, não fabricada. Aquilo foi uma reação espontânea, de um envolvimento de um atleta numa decisão de um título.

Folha - O jogador ganha pontos com você com isso?
Scolari -
Eu admiro. Ele valorizou, sentiu o trabalho dele e dos companheiros ser perdido no último dia, em 30 minutos, o trabalho de um ano. Isso é envolvimento profissional.

Folha - O que o levou a apostar no Ronaldo mesmo com o risco de ele não estar pronto na Copa?
Scolari -
Tive certeza de que poderia dar chance a ele. A certeza de que ele poderia jogar só foi me dada depois que o doutor Runco trabalhou com ele. Mas, quando fui para Milão, na primeira convocação dele, ele estava trabalhando muito bem, alegre, feliz e dizendo que queria voltar. Senti que ele tinha se dedicado para jogar na Inter e na Copa.


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