São Paulo, domingo, 12 de maio de 2002

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VÔLEI
Levantadora volta a jogar pelo BCN para ganhar 10º título, um ano após despedida com o Vasco, mas descarta seleção
"Não podia parar derrotada", diz Fernanda

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ela estava com "as mãos coçando" para jogar. Na semana passada, Fernanda Porto Venturini, 31, selou sua volta às quadras um ano após a melancólica despedida com a derrota de seu Vasco para o Flamengo na final da Superliga.
Nesse período, muita coisa mudou em sua vida pessoal. Casada com o técnico da seleção masculina, Bernardinho, viu o nascimento da primeira filha do casal, Júlia. Com a maternidade, veio o difícil exercício da paciência.
Mas seu lugar no vôlei continuou intocado. "Mesmo que voltasse após dez anos, ainda seria a melhor levantadora do mundo", derrete-se o campeão olímpico José Roberto Guimarães, que irá comandá-la no BCN/Osasco.
Fernanda já está em forma (63,5 kg, dois a menos que em 2001) para tentar conquistar seu décimo título nacional e o primeiro do BCN. Nem que precise de todos seus "duendes, bruxas e anjos".
Enquanto amamentava Júlia, Fernanda falou à Folha, por telefone, de sua casa no Rio, sobre a nova vida. Com um contrato especial, que dá direito a privilégios que poucas atletas conquistaram, ela só jogará a partir de setembro.

Folha - Quando você encerrou a carreira disse que deixava o vôlei sem saudade. A saudade bateu?
Fernanda Venturini -
Fiquei bastante tempo parada, pude pensar em outras coisas, me dedicar só à família. Mas sempre fui agitada, e uma hora a mão começou a coçar. Vendo as finais da Superliga, me deu vontade de voltar, coisa que até então eu não tinha. Arranjei uma motivação, ganhar meu décimo título. Não poderia encerrar minha carreira com uma derrota.

Folha - Como foi se despedir com derrota e salários atrasados?
Fernanda -
Depois de uma carreira tão vitoriosa, foi frustrante. Se eu pudesse voltar, nunca teria ido para o Vasco. É lamentável existir gente como Eurico Miranda, que faz essas coisas.

Folha - O Vasco já acertou sua situação? Ainda te deve salários?
Fernanda -
Tive uma audiência, mas nada foi resolvido. Quando minha filha tiver uns 20 anos, acho que será. Aí ela fará uma boa faculdade, vai morar nos EUA...

Folha - Como surgiu a idéia de ir para o BCN/Osasco?
Fernanda -
De uma conversa com a Virna em que eu disse que precisávamos jogar juntas. Aí ela foi cornetar no BCN, o Zé Roberto mandou seu irmão me ligar para saber se era verdade. Deu certo.

Folha - Como você fará para cuidar da Júlia?
Fernanda -
Já renovei com a enfermeira por mais um ano. Pelo meu contrato, ela e a Júlia podem viajar comigo. Minha mãe mora em Ribeirão Preto [interior de SP" e também ficará mais perto agora.

Folha - Nesse um ano, qual sua avaliação do vôlei nacional?
Fernanda -
Não houve evolução técnica. As jogadoras estão no mesmo nível de dois anos trás.

Folha - Você voltaria à seleção?
Fernanda -
Se não voltei quando meu marido, que é o melhor, era técnico, não vai ser agora. Se me vir na seleção, pode me internar.

Folha - Você sempre foi conhecida pela competitividade. Continua não gostando de perder nada?
Fernanda -
Nem par-ou-ímpar, nem xadrez para o Bernardo. Você tem que ter tesão para ganhar. Uma das coisas que me motiva é buscar o título. Será o décimo, um número redondo, que eu gosto.

Folha - Nem a maternidade mudou essa característica?
Fernanda -
Fiquei mais paciente. Você tem que se doar o tempo todo. É muito legal, mas é cansativo.



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