São Paulo, segunda-feira, 12 de junho de 2000


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FUTEBOL

O futebol geométrico do São Paulo

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O são-paulino Inácio Araujo, o maior crítico de cinema do Brasil, comparou certa vez o São Paulo de Telê Santana ao cinema enxuto, elegante e objetivo de Howard Hawks, diretor de "Levada da Breca", "Hatari" e "Rio Bravo", entre muitos outros grandes filmes.
O gol de França, no primeiro minuto do jogo de sábado contra o Santos, me fez lembrar esse paralelo. A jogada foi de uma precisão espantosa: bola de pé em pé, sempre de primeira, desenhando uma geometria letal.
A esse futebol retilíneo -quebrado apenas pelas volutas ocasionais de um Vágner ou um Souza-, o Santos opôs seu jogo feito de muitos rodeios, traçando semicírculos na intermediária tricolor e penetrando pouco rumo ao gol.
Mas houve um momento -o começo do segundo tempo- em que o Peixe ameaçou o domínio são-paulino. A entrada de Dodô renovou o ânimo do ataque e trouxe a esperança de jogadas que furassem a marcação tricolor.
Mas logo o São Paulo retomou as rédeas e voltou a ser o time mais perigoso em campo. Acabou perdendo mais chances de gol.
Além de contar com um bom elenco, Levir Culpi sabe como fazê-lo render. Sempre que o time está vencendo e precisa administrar a vantagem, ele coloca em campo Souza, que "esconde" bem a bola (quando não se esconde dela), cava muitas faltas e, eventualmente, enfia passes precisos para os atacantes.
Claro que nada está definido. O Santos pode muito bem vencer o próximo jogo e ficar com o título. Mas isso não é provável. Embalado e equilibrado, jogando com a vantagem do empate, o São Paulo está com uma mão na taça.

A vitória do Palmeiras sobre o Corinthians na semifinal da Libertadores mexeu tanto com os nervos dos torcedores de ambos os times que, mal acabou o jogo, choveram e-mails de desabafo: os alviverdes comemorando, os alvinegros xingando Marcelinho e, em menor medida, Oswaldo de Oliveira. Nos dois casos, trata-se de reações compreensíveis.
Os palmeirenses estavam engasgados não só com o Corinthians, mas com a tendência geral da mídia de apontar o rival como o melhor time do país.
Ora, o Corinthians, do meio-campo para a frente, é mesmo, a meu ver, o melhor time do país, seguido pelo Vasco e pelo São Paulo. Mas nos últimos jogos seus pontos fracos ficaram evidentes: a fraqueza do sistema defensivo, a ausência de alas fortes (principalmente na direita), a dificuldade de administrar resultados.
Oswaldo de Oliveira tem sua parcela de responsabilidade, claro, mas é besteira dizer que o problema é sua falta de autoridade. A pior "lição" que se poderá tirar da vitória palmeirense será a de que é preciso ser estúpido e truculento para se tornar vencedor.
Quanto a Marcelinho, é óbvio que ele está servindo como bode expiatório de toda a frustração da Fiel. Na longa história de sua relação de amor e ódio com a torcida, não é a primeira vez que ele cai em desgraça.
A questão é saber se tamanho desgaste ainda pode ser revertido. Um dos corintianos mais lúcidos que me escreveram, o professor de história Gabriel Luiz Bandouk, resumiu bem o pensamento da ala não-xiita da Fiel: "Reconheço os feitos de Marcelinho pelo Corinthians, e não é justo culpá-lo pelo pênalti perdido, mas acho que já deu. No último jogo não foi capaz de marcar o setor esquerdo de saída de bola, um dos pontos fortes do Palmeiras com Júnior. Foi uma festa por aquele lado".
O fato é que o "limitado" Palmeiras jogou muito bem, e mereceu vencer. Graças à competência de Felipão e ao esforço de seus operários -mas o que seria disso tudo se não fosse a arte de Alex e Júnior? Transpiração é fundamental, mas um pouco de inspiração é indispensável.

Por falar em transpiração e inspiração, Guga esbanjou as duas coisas na vitória histórica de ontem. Sei que esta é uma coluna de futebol, mas o ídolo do tênis merece invadir este espaço por ter transformado seu difícil esporte numa paixão nacional.


E-mail jgcouto@uol.com.br



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