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FUTEBOL
O futebol geométrico do São Paulo
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O são-paulino Inácio
Araujo, o maior crítico de cinema do Brasil, comparou certa
vez o São Paulo de Telê Santana
ao cinema enxuto, elegante e objetivo de Howard Hawks, diretor
de "Levada da Breca", "Hatari" e
"Rio Bravo", entre muitos outros
grandes filmes.
O gol de França, no primeiro
minuto do jogo de sábado contra
o Santos, me fez lembrar esse paralelo. A jogada foi de uma precisão espantosa: bola de pé em pé,
sempre de primeira, desenhando
uma geometria letal.
A esse futebol retilíneo -quebrado apenas pelas volutas ocasionais de um Vágner ou um Souza-, o Santos opôs seu jogo feito
de muitos rodeios, traçando semicírculos na intermediária tricolor
e penetrando pouco rumo ao gol.
Mas houve um momento -o
começo do segundo tempo- em
que o Peixe ameaçou o domínio
são-paulino. A entrada de Dodô
renovou o ânimo do ataque e
trouxe a esperança de jogadas
que furassem a marcação tricolor.
Mas logo o São Paulo retomou
as rédeas e voltou a ser o time
mais perigoso em campo. Acabou
perdendo mais chances de gol.
Além de contar com um bom
elenco, Levir Culpi sabe como fazê-lo render. Sempre que o time
está vencendo e precisa administrar a vantagem, ele coloca em
campo Souza, que "esconde" bem
a bola (quando não se esconde
dela), cava muitas faltas e, eventualmente, enfia passes precisos
para os atacantes.
Claro que nada está definido. O
Santos pode muito bem vencer o
próximo jogo e ficar com o título.
Mas isso não é provável. Embalado e equilibrado, jogando com a
vantagem do empate, o São Paulo
está com uma mão na taça.
A vitória do Palmeiras sobre o
Corinthians na semifinal da Libertadores mexeu tanto com os
nervos dos torcedores de ambos os
times que, mal acabou o jogo,
choveram e-mails de desabafo: os
alviverdes comemorando, os alvinegros xingando Marcelinho e,
em menor medida, Oswaldo de
Oliveira. Nos dois casos, trata-se
de reações compreensíveis.
Os palmeirenses estavam engasgados não só com o Corinthians, mas com a tendência geral
da mídia de apontar o rival como
o melhor time do país.
Ora, o Corinthians, do meio-campo para a frente, é mesmo, a
meu ver, o melhor time do país,
seguido pelo Vasco e pelo São
Paulo. Mas nos últimos jogos seus
pontos fracos ficaram evidentes: a
fraqueza do sistema defensivo, a
ausência de alas fortes (principalmente na direita), a dificuldade
de administrar resultados.
Oswaldo de Oliveira tem sua
parcela de responsabilidade, claro, mas é besteira dizer que o problema é sua falta de autoridade.
A pior "lição" que se poderá tirar
da vitória palmeirense será a de
que é preciso ser estúpido e truculento para se tornar vencedor.
Quanto a Marcelinho, é óbvio
que ele está servindo como bode
expiatório de toda a frustração da
Fiel. Na longa história de sua relação de amor e ódio com a torcida, não é a primeira vez que ele
cai em desgraça.
A questão é saber se tamanho
desgaste ainda pode ser revertido.
Um dos corintianos mais lúcidos
que me escreveram, o professor de
história Gabriel Luiz Bandouk,
resumiu bem o pensamento da
ala não-xiita da Fiel: "Reconheço
os feitos de Marcelinho pelo Corinthians, e não é justo culpá-lo
pelo pênalti perdido, mas acho
que já deu. No último jogo não foi
capaz de marcar o setor esquerdo
de saída de bola, um dos pontos
fortes do Palmeiras com Júnior.
Foi uma festa por aquele lado".
O fato é que o "limitado" Palmeiras jogou muito bem, e mereceu vencer. Graças à competência
de Felipão e ao esforço de seus
operários -mas o que seria disso
tudo se não fosse a arte de Alex e
Júnior? Transpiração é fundamental, mas um pouco de inspiração é indispensável.
Por falar em transpiração e inspiração, Guga esbanjou as duas
coisas na vitória histórica de ontem. Sei que esta é uma coluna de
futebol, mas o ídolo do tênis merece invadir este espaço por ter
transformado seu difícil esporte
numa paixão nacional.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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