São Paulo, terça-feira, 12 de junho de 2001

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BASQUETE

Criança esperança

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Oi, meu nome é Gustavo. Tenho 16 anos e sou jogador da categoria infanto-juvenil de São José do Rio Preto.
Meu time disputa o campeonato da Federação Paulista e infelizmente está em penúltimo lugar. Tivemos cinco jogos, perdemos os cinco. Amanhã, temos nova chance de buscar a primeira vitória. Este está sendo o ano mais difícil desde que o time se formou, em 1998. Desde então, já mudamos três vezes de nome, clube e patrocinador. É a realidade atual do basquete aqui.
Na verdade, nós, jogadores, temos sorte em disputar a Federação este ano. Houve uma mobilização por parte dos pais, que criaram uma associação para garantir nossa participação no campeonato e ajudar as outras categorias. Devemos muito a esses pais e pessoas, que vão atrás de patrocinadores e verbas.
Falei tudo isso só para mostrar como faltam pessoas lutando pelo basquete no Brasil e como uma safra de novos e ótimos jogadores pode se perder devido à falta de vontade de muitos.
Agora, esperamos retribuir amanhã. Nosso time tem garra e vontade, só conta com garotos de Rio Preto, e nosso maior jogador não passa de 1,95 m. Mesmo assim, jogamos pau a pau.

Oi, aqui é o Gustavo de Rio Preto. Bom, o sexto jogo foi inesperado. Tínhamos tudo para vencer. Mas, como sempre (neste campeonato), não deu certo. No final, eles fecharam bem a defesa. Faltou um líder no nosso time para pegar a bola e decidir.

Oi, é o Gustavo. O sétimo jogo, contra Garça, lá em Garça, foi o verdadeiro limite. No começo, parecíamos dispostos. Nosso pivô até quebrou a tabela de acrílico no aquecimento, e tivemos que mudar de ginásio.
O jogo em si foi muito ruim, ninguém estava bem, a marcação estava péssima. No final do primeiro tempo, a desvantagem chegou a 29 pontos. Às vezes, parecia que nosso time ia acordar, mas ficava só no "ia". No ultimo quarto, com uma pressão pesada, roubamos várias bolas e pegamos muitos rebotes. Perdemos por 24 pontos.

Oi. Sábado era tudo ou nada. Pegamos o Santo André, aqui em casa. Houve até uma mudança de técnico. O novo treinador já foi campeão cadete há quatro anos com um time daqui de Rio Preto, que infelizmente acabou (um daqueles jogadores é o Alex, do Ribeirão Preto).
A mudança foi meio estranha. Pegamos um ritmo mais pesado, meu jogo sumiu. Tomamos uma vantagem logo no começo de uns 25 pontos, que se manteve até o fim. Foi uma partida estranha, chata, a oitava derrota.

Oi, aqui é o Gustavo, de São José do Rio Preto. Fomos para cima do Banespa. Consegui jogar bem na defesa, o que compensou minha falta de iniciativa no ataque. Nosso time conseguiu virar no terceiro quarto e acabou vencendo por oito pontos. Para mim, foi o meu melhor jogo. Fiz somente três pontos. Só que roubei muitas bolas e peguei muitos rebotes, tanto é que eu estou totalmente machucado do jogo. Meus joelhos estão ralados, meu braço, estourado, e, um dia depois da partida, não conseguia respirar fundo de tanto que meu peito doía. E assim foi o fim do jejum.

Puericultura 1
Por conta do racionamento de energia, os clubes paulistas enxugaram em até 30% a rotina de treinos das categorias de base. Algumas sessões são realizadas já no escuro. Isso é mau.

Puericultura 2
Também foram cancelados os jogos no início da noite. Os pais corujas que me perdoem, mas a garotada vai se ver livre da pressão de familiares corneteiros na "happy hour". Isso é bom.

Puericultura 3
A NBA e a WNBA acabam de anunciar um convênio com a Gatorade e a Nike para criar uma superliga infantil nos EUA. Escolas e comunidades de bairro receberão cartilhas (regras e dicas), num primeiro momento, e camisetas e bolas, num segundo, para turbinar -e unificar- seus torneios. Cerca de 21 milhões de crianças norte-americanas entre 5 e 14 anos jogam basquete.

E-mail: melk@uol.com.br


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