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FUTEBOL
O outono dos patriarcas
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Talvez seja o início de novos tempos, talvez seja o fim
dos velhos, talvez seja apenas
uma falsa esperança. Mas o fato
é que alguns patriarcas já estão
vendo rachaduras em suas fazendas.
Eurico Miranda, por exemplo,
vive uma situação delicada. É
verdade que foi estranhamente
poupado pelo relatório final da
CPI da CBF/Nike e também é
verdade que o colega de PPB,
Severino Cavalcânti, o vem protegendo caninamente toda vez
que chegam processos de cassação na Corregedoria da Câmara; mesmo assim, é difícil acreditar que ele possa escapar ileso
diante de tantas e tão pesadas
acusações.
Há o caso do laranja Aremithas, que, mesmo recebendo um
salário modesto, viu passar por
suas contas bancárias mais de
R$ 13 milhões; há também a mal
explicada origem dos recursos
que alavancaram sua eleição a
deputado federal; há a acusação
sobre recibos falsos; há ainda
suspeitas sobre o rápido enriquecimento dos últimos anos e,
finalmente, há o cheque da Confederação Sul-Americana que
nunca chegou à contabilidade
do clube.
Se a lógica prevalecer, Eurico
pode esquecer seu mandato e ir
pensando numa maneira de
perpetuar sua ditadura no Vasco da Gama, onde ainda tem,
reconheçamos, a estima de boa
parte da torcida, mais preocupada com títulos do que com a
busca de padrões éticos de comportamento.
E isso não só acontece apenas
com vascaínos, mas com qualquer torcida. Infelizmente.
De todo modo, o caso Eurico é
sinal de mudança. Aos poucos, a
sociedade brasileira está começando a dar pontapés nos fundilhos dos velhos coronéis populistas: ACM teve que renunciar para não ser cassado, Maluf atrapalha-se com a denúncia de
uma conta de US$ 200 milhões
num paraíso fiscal, Jader Barbalho é alvo de tantas acusações
(Banpará, ranário, desapropriação irregular de fazenda,
desaparecimento de documentos incriminadores) que deve
dar graças a Deus por não ser
um cidadão comum e poder
contar com a proteção da imunidade parlamentar.
Esses coronéis se apóiam num
poder local, seja Salvador ou
São Januário, e se esforçam para
transferir qualquer golpe contra
eles para a sua base.
Dois exemplos: ACM diz que
sua cassação foi uma ofensa à
Bahia; Eurico, em comunicado
oficial, fala que o relatório é
contra o Vasco.
Já Ricardo Teixeira parece ser
um tanto mais moderno e sutil.
Creio que ele já faz parte de
uma nova geração, uma espécie
de mutação do antigo vírus.
Tanto que não se apóia num poder local, mas em algo maior, o
mundo esportivo, tendo Pelé como viga mestra.
O importante é que a limpeza
não pare por aí, nos velhos patriarcas.
Seria ótimo, por exemplo, se
iniciássemos a busca daqueles
velhos sonhos que são, no fundo,
o respeito à lei e à racionalidade: menos torneios, campeonatos com menos clubes, calendário equilibrado, direito de acesso, respeito ao descenso, vendas
e compras transparentes, tempo
para a seleção fazer seu planejamento e por aí vai.
Mas isso, é claro, só vai acontecer quando chegar o outono
dos patriarcas e eles forem levados pelo ventos como velhas folhas que já não pertencem mais
a este tempo.
Outros tempos
Domingo tivemos futebol, automobilismo e tênis. E, quem diria, só o terceiro esporte conseguiu nos dar aquele estado de felicidade que tão bem combina com a macarronada dominical.
Má e boas notícias
A má é que o Palmeiras deverá encontrar um Boca Juniors fechado, determinado a levar a partida para os pênaltis. As boas
são que Barijho desfalcará o ataque, Delgado e o terrível Schelotto são dúvida e Ubaldo Aquino, o melhor do time argentino
em La Bombonera, não jogará.
Aremithas
Caso o senhor Aremithas prove ser inocente, sugiro que seja
imediatamente empossado como ministro da Economia. Um
homem com um salário modesto que consegue ter R$ 13 milhões em sua conta merece o posto. Greenspan que se cuide.
E-mail: torero@uol.com.br
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