São Paulo, terça-feira, 12 de junho de 2001

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FUTEBOL

O outono dos patriarcas

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Talvez seja o início de novos tempos, talvez seja o fim dos velhos, talvez seja apenas uma falsa esperança. Mas o fato é que alguns patriarcas já estão vendo rachaduras em suas fazendas.
Eurico Miranda, por exemplo, vive uma situação delicada. É verdade que foi estranhamente poupado pelo relatório final da CPI da CBF/Nike e também é verdade que o colega de PPB, Severino Cavalcânti, o vem protegendo caninamente toda vez que chegam processos de cassação na Corregedoria da Câmara; mesmo assim, é difícil acreditar que ele possa escapar ileso diante de tantas e tão pesadas acusações.
Há o caso do laranja Aremithas, que, mesmo recebendo um salário modesto, viu passar por suas contas bancárias mais de R$ 13 milhões; há também a mal explicada origem dos recursos que alavancaram sua eleição a deputado federal; há a acusação sobre recibos falsos; há ainda suspeitas sobre o rápido enriquecimento dos últimos anos e, finalmente, há o cheque da Confederação Sul-Americana que nunca chegou à contabilidade do clube.
Se a lógica prevalecer, Eurico pode esquecer seu mandato e ir pensando numa maneira de perpetuar sua ditadura no Vasco da Gama, onde ainda tem, reconheçamos, a estima de boa parte da torcida, mais preocupada com títulos do que com a busca de padrões éticos de comportamento.
E isso não só acontece apenas com vascaínos, mas com qualquer torcida. Infelizmente.
De todo modo, o caso Eurico é sinal de mudança. Aos poucos, a sociedade brasileira está começando a dar pontapés nos fundilhos dos velhos coronéis populistas: ACM teve que renunciar para não ser cassado, Maluf atrapalha-se com a denúncia de uma conta de US$ 200 milhões num paraíso fiscal, Jader Barbalho é alvo de tantas acusações (Banpará, ranário, desapropriação irregular de fazenda, desaparecimento de documentos incriminadores) que deve dar graças a Deus por não ser um cidadão comum e poder contar com a proteção da imunidade parlamentar.
Esses coronéis se apóiam num poder local, seja Salvador ou São Januário, e se esforçam para transferir qualquer golpe contra eles para a sua base.
Dois exemplos: ACM diz que sua cassação foi uma ofensa à Bahia; Eurico, em comunicado oficial, fala que o relatório é contra o Vasco.
Já Ricardo Teixeira parece ser um tanto mais moderno e sutil. Creio que ele já faz parte de uma nova geração, uma espécie de mutação do antigo vírus. Tanto que não se apóia num poder local, mas em algo maior, o mundo esportivo, tendo Pelé como viga mestra.
O importante é que a limpeza não pare por aí, nos velhos patriarcas.
Seria ótimo, por exemplo, se iniciássemos a busca daqueles velhos sonhos que são, no fundo, o respeito à lei e à racionalidade: menos torneios, campeonatos com menos clubes, calendário equilibrado, direito de acesso, respeito ao descenso, vendas e compras transparentes, tempo para a seleção fazer seu planejamento e por aí vai.
Mas isso, é claro, só vai acontecer quando chegar o outono dos patriarcas e eles forem levados pelo ventos como velhas folhas que já não pertencem mais a este tempo.

Outros tempos
Domingo tivemos futebol, automobilismo e tênis. E, quem diria, só o terceiro esporte conseguiu nos dar aquele estado de felicidade que tão bem combina com a macarronada dominical.

Má e boas notícias
A má é que o Palmeiras deverá encontrar um Boca Juniors fechado, determinado a levar a partida para os pênaltis. As boas são que Barijho desfalcará o ataque, Delgado e o terrível Schelotto são dúvida e Ubaldo Aquino, o melhor do time argentino em La Bombonera, não jogará.

Aremithas
Caso o senhor Aremithas prove ser inocente, sugiro que seja imediatamente empossado como ministro da Economia. Um homem com um salário modesto que consegue ter R$ 13 milhões em sua conta merece o posto. Greenspan que se cuide.

E-mail: torero@uol.com.br


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