São Paulo, sexta-feira, 12 de julho de 2002

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Interesse comercial e desgaste de atletas encolhem a Copa dos Campeões

Europa se rende e enxuga o calendário

DA REPORTAGEM LOCAL

Três dias após o final da Copa do Mundo, os principais clubes do Brasil, o maior vencedor do futebol mundial, entravam em campo para mais uma competição do inchado calendário do país.
Uma semana depois, a Europa, continente que conquistou oito dos 17 títulos do Mundial e que abriga os principais atletas do planeta, resolveu adotar medidas para diminuir o excesso de jogos.
Ontem, Lennart Johansson, presidente da Uefa, entidade que comanda o futebol na Europa, anunciou o enxugamento da Copa dos Campeões, principal torneio interclubes do planeta, a partir da temporada 2003/2004.
É um movimento inédito. Na última década, especialmente, os europeus viram seu calendário apenas inchar, ano após ano, ao condicionarem o futebol às exigências das emissoras de TV.
O torneio continuará sendo disputado por 32 equipes, em oito grupos de quatro, mas a segunda fase foi extinta -os 16 times que passarem pela etapa inicial já entrarão nos mata-matas.
Com a alteração, os finalistas disputarão 13 partidas -são 17 do atual formato-, se não jogarem a fase preliminar. ""A redução de competição é de interesse, a longo prazo, de todos: dos clubes, dos jogadores, da torcida, dos meios de comunicação, dos patrocinadores e do futebol europeu em geral", disse Johansson.
A final da última edição do torneio, na qual o Real Madrid (ESP) venceu o Bayer Leverkusen (ALE), foi realizada só 16 dias antes do jogo de abertura da Copa.
Foi a 34ª partida oficial da equipe espanhola em 2002. No final dos anos 80, um time de ponta da Europa disputava uma média de 45 confrontos por temporada.
Além disso, o período entre o término dos campeonatos nacionais do continente e o início da disputa do Mundial foi o menor das quatro últimas décadas.
Com isso, muitas estrelas chegaram "baleadas" aos campos asiáticos, já que jogaram muito e não tiveram tempo para recuperação.
O principal dirigente europeu destacou a questão dizendo que "vários jogadores terminaram contundidos pois estavam esgotados após tantas partidas". Johansson, porém, reconheceu que interesses comerciais pesaram na decisão da Uefa. "Temos razões para crer que o novo formato é um produto mais atrativo".
Entre os motivos que fizeram a entidade modificar sua principal competição interclubes estão o interesse do público e a capacidade econômica dos meios de comunicação para bancar os direitos de transmissão do torneio.
De acordo com Johansson, ""os torcedores não conseguem absorver tantas disputas, e as empresas de comunicação não têm como pagar tantos eventos".
Até para a venda de direitos de TV da Copa, o principal produto do futebol, houve problemas.
A empresa suíça de marketing ISL, parceira histórica da Fifa, faliu em 2001. Os direitos foram comprados pelo grupo alemão Kirch, que, após dificuldades para revendê-los, também quebrou.
A participação da Uefa na redução do calendário dos clubes europeus não ficará restrita ao formato da Copa dos Campeões.
Na próxima reunião do Comitê Executivo, em dezembro, deve ser discutida a situação da Copa da Uefa, outro torneio da entidade.
Johansson aproveitou para alfinetar o Mundial de Clubes da Fifa, dizendo que não vai proibir a participação dos times europeus, mas que não está muito entusiasmado. "Deixarei que eles decidam se querem ou não jogar. Não é proibido, mas, do ponto de vista financeiro, não é nada vantajoso."
O torneio teve a primeira edição em 2000, no Brasil -a segunda, em 2001 na Espanha, foi cancelada por causa da quebra da ISL.


Com agências internacionais



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