São Paulo, terça-feira, 12 de julho de 2005

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Por título, São Paulo renega base

Clube pode ser o 1º brasileiro campeão da Libertadores sem titulares pratas-da-casa

PAULO COBOS
TONI ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

O clube que é sinônimo de qualidade nas categorias de base pode ser o primeiro time do país a ganhar a Taça Libertadores sem nenhum titular formado em casa.
Todos os 11 jogadores do São Paulo que o técnico Paulo Autuori vai mandar a campo na quinta-feira, no jogo decisivo contra o Atlético-PR, começaram suas carreiras em outras agremiações.
Com exceção do goleiro Rogério, que trocou o Sinop-MT pelo Morumbi ainda garoto, todos os outros titulares são-paulinos chegaram ao clube já prontos.
E, para desgosto dos cartolas que culpam a Lei Pelé pelas mazelas do futebol brasileiro, foi graças a essa legislação que a opção do São Paulo em trazer de fora em vez de produzir jogadores em casa não teve nada de cara.
Amparados pela lei que acabou com o passe há sete anos, os cartolas do Morumbi montaram um time com atletas que estavam, na maioria dos casos, sem contrato, casos de Josué e Júnior. Outros chegaram, também de "graça", depois de ganharem a liberdade na Justiça, como Cicinho, que brigou nos tribunais com o Atlético-MG e hoje pode render mais de 5 milhões (cerca de R$ 14 milhões) ao São Paulo. Os poucos que exigiram o pagamento de multas rescisórias chegaram a "preço de banana", como o uruguaio Lugano, que trocou seu país pelo São Paulo por US$ 200 mil.
"O São Paulo nunca reclamou da Lei Pelé. Para o clube, a lei é ótima, porque o São Paulo funciona como uma grife. Todos os jogadores querem jogar no São Paulo. Isso é ótimo", comenta João Paulo Jesus Lopes, diretor de planejamento do clube paulista.
Segundo o dirigente, o segredo é fazer contratos longos, de três a cinco anos, com jogadores que só custam o salário para o clube.
"Foi dessa forma, explorando a Lei Pelé, que montamos esse time", afirma Lopes sobre a equipe que joga a Libertadores.
Quem chegou de fora reconhece a vantagem sobre quem começou no próprio São Paulo. "A Lei Pelé dificulta para os clubes que investem na base. Antes, você preparava o jogador e ficava com ele o tempo que quisesse", diz o atacante Amoroso, que tem a chance de ganhar a Libertadores com menos de dois meses de clube. Ele completa seu raciocínio afirmando que a legislação é melhor para quem tem fama.
"A Lei Pelé beneficia quem tem currículo", acredita o atacante.
Com a contratação de Amoroso, Diego Tardelli, revelação são-paulina, perdeu a posição e foi para a reserva, onde estão outros atletas crias do clube e que já estiveram no time titular, como Edcarlos, Fábio Santos, Alê e Renan.

Santo de casa
Ganhar uma competição importante sem "santos de casa" é um fato raro tanto na história do próprio São Paulo quando de outros clubes brasileiros que já tiveram o gosto de ganhar a Libertadores. Santos, de 1962 e 1963, Cruzeiro, de 1976, Flamengo, de 1981, e Grêmio, de 1983, tinham praticamente metade de seus titulares formados em suas bases.
Os campeões continentais do país na década de 90 já tinham mais "forasteiros", mas na maioria dos casos os craques do time eram prata-da-casa.
O Atlético-PR, adversário são-paulino na decisão de quinta-feira, mescla jogadores de fora com gente da casa, como o volante Alan Bahia e o meia Fernandinho.
Na sua história, principalmente nos anos 80 e 90, o São Paulo acumulou títulos com a força da prata-da-casa. No time bicampeão da Libertadores em 1992 e 1993, brilhavam Cafu e Muller. O atacante fez parte também da geração "Menudos do Morumbi", que deu um título brasileiro para o clube em 1986.


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