São Paulo, terça-feira, 12 de julho de 2005

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BASQUETE

Advogado de defesa

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Nem sempre o melhor jogador em quadra é aquele com números mais expressivos na tabela de estatísticas da partida.
Mas o torcedor não costuma tomar esse cuidado. Geralmente se satisfaz com a olhadinha no "box score". Checa o total de pontos -quando muito, confere também rebotes e assistências- e fecha o veredicto. Quanto maior o algarismo, maior o elogio.
Inconformados com essa leitura linear, alguns basqueteiros se dedicaram a buscar uma maneira matemática de traduzir e resumir toda a riqueza do esporte.
A procura do Santo Graal, contudo, jamais foi bem-sucedida. Seja porque as fórmulas pecam pela arbitrariedade (por que um rebote vale o mesmo que um lance livre?). Seja porque sofrem com um paradoxo: almejam a totalidade, mas consideram somente a dúzia de fundamentos consagrada pelos estatísticos.
A quantificação no basquete sempre priorizou ações ofensivas. A NBA, por exemplo, computa a pontuação dos atletas desde a primeira temporada, em 1947. Fundamentos defensivos, como desarmes e tocos, só começaram a ser registrados 25 anos depois.
Ainda assim o fosso continua.
O que de mais eficiente pode se querer do jogador no ataque? Que faça a cesta. A isso os estatísticos nunca ficaram desatentos.
O que de mais eficiente pode se querer do jogador na marcação? Que impeça o adversário de receber o passe -ou de tentar os pontos, obrigando-o a se desfazer esterilmente da bola. Isso, porém, nunca pintou em "box scores".
Mas felizmente isso deve mudar. O site 82games.com anunciou que montará uma força-tarefa para verificar o desempenho defensivo dos atletas da NBA.
Superambicioso, pretende radiografar todos os lances de todas as partidas -e levantar quem marcou o jogador que fez a cesta, identificar quem desguarneceu a retaguarda para tentar roubar em vão a bola, revelar quem se posicionou com precisão para cavar a falta ofensiva, apontar quem executou o corta-luz que ajudou o colega a pegar o rebote...
(O site, aliás, caça mão-de-obra. Se você vê os jogos pela TV, possui computador, curte a numeralha e tem uma dose de cara de pau, inscreva-se no www.82games.com/charting.htm.)
Um "box score" defensivo permitirá visualizar instantaneamente a importância de jogadores como Bruce Bowen.
Selado o triunfo do San Antonio, o grande público doméstico incensou o pivô Tim Duncan. Os menos bocós aplaudiram a contribuição versátil do armador Manu Ginóbili. Poucos atinaram para o desempenho do ala.
Carmelo Anthony (Denver), Ray Allen (Seattle), Shawn Marion (Phoenix) e Richard Hamilton (Detroit), válvulas de escape ofensivas de suas equipes, todos viram seus números caírem diante do "carrapato" nos playoffs.
As estatísticas atuais, contudo, não reverenciam esse tipo de façanha, subtraem Bowen do pôster do título. Graças à inquieta galera do 82games.com, quem via no ala um reles coadjuvante enfim reconhecerá um craque. E os craques de hoje que se cuidem.

Retranca 1
Todo patrocinador aspira ao máximo de visibilidade -e a perspectiva de dois campeonatos nacionais paralelos só acentua essa preocupação. Por isso até faz sentido a opção pela reconhecida estrela do treinador. Ainda assim, é triste constatar que Franca bata às portas de Hélio Rubens toda vez que pinta dinheiro no caixa. Por que não deu uma chance de verdade a alguém com idéias diferentes, nem que sejam só um tiquinho mais modernas? Com um elenco despedaçado e inadimplente, o técnico Chuí, também prata-da-casa, vinha realizando um trabalho inovador e interessante no clube.

Retranca 2
Voz mais estridente contra a liga independente dos clubes, Wellington Salgado (grupo Universo) assumiu uma vaga no Senado. Afe.

E-mail melk@uol.com.br


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