São Paulo, quinta-feira, 12 de julho de 2007

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Por mais pódio, Cacique Buck se torna "hermano"

Barco do Flamengo espera confirmação de regata no Pan para servir à Argentina

Modelo de fabricação alemã seria cedido para garantir mínimo de participantes e a realização da prova do 8 com timoneiro, a mais clássica



MÁRVIO DOS ANJOS
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Na garagem do Flamengo, um barco empoeirado esperava até ontem para saber que destino teria: servir ao Canadá ou à Argentina. Mas a missão do Cacique Buck, porém, já era sabida: ajudar a garantir a realização da prova do oito com timoneiro, a mais clássica da modalidade. Exige sincronia, ritmo e velocidade de oito remadores, submetidos a um timoneiro. Com 17,35 m de comprimento e 57 cm de largura, o modelo de fibra de carbono e kevlar, fabricado na Alemanha, faz parte da flotilha do remo rubro-negro desde 2000 e é o trunfo do Brasil para aumentar a chance de medalhas no esporte -justamente por permitir a chance.
Até ontem havia indecisões sobre a participação do Canadá, reticente em atuar, e da Argentina, que queria correr, mas precisava de um barco. Eram necessárias mais duas embarcações para haver regata, segundo as regras internacionais. Brasil, Cuba e EUA esperam a reunião que define tudo hoje.
Virgem em torneios internacionais, Buck está de sobreaviso para a Argentina. Se entrar, o Canadá terá um barco da delegação brasileira, diz Rodney Araújo, presidente da Confederação Brasileira de Remo. Mais uma exceção na vida de um barco que, em nome de uma homenagem, quebrou uma tradição do Flamengo, em que todos os barcos têm nomes indígenas. Antes Cacique Pataxó, coube ao nobre barco homenagear um dos maiores orgulhos do remo nacional.
Buck era o apelido de Guilherme Augusto do Eirado Silva, remador e técnico responsável por cinco ouros do Brasil em Pan-Americanos e sete participações olímpicas. Morto em 1996, aos 69, ganhou uma estátua na sede náutica do clube. Uma situação no mínimo estranha para o timoneiro do Flamengo e da seleção, Nilton Silva Alonço, 58, o Gauchinho -único do clube carioca-, um dos mais íntimos profissionais do barco de quase 100 kg. "Ganhar daquele barco, ainda mais por levar o nome do Buck, a gente não vê com bons olhos", afirma o timoneiro, que está no remo desde 1969 e, obviamente, conheceu a lenda.
"Tivemos altos e baixos, porque ele tinha temperamento muito explosivo e eu também. Mas, na água, sempre houve muita confiança, o que nos levou a ótimos resultados em Mundiais e Olimpíadas", recorda Gauchinho, que aparece marcando o ritmo do oito com timoneiro nacional desde 1986. Para quem vive o remo do Flamengo diariamente, o Pan pode ser a honra que faltava a um barco que, com sete anos de uso, só disputou provas estaduais -todas sem que o Estádio de Remo da Lagoa, agora reinaugurado, estivesse aberto.
Apesar da indefinição sobre a realização da prova, a expectativa é grande. Os reparos no casco devido ao desgaste da água salobra da lagoa já começaram. Falta só a confirmação.
"Eu diria que é como se um Porsche só tivesse disputado alguns ralis", diz Denis Marinho, gerente-geral e remador que conhece o potencial do Cacique Buck. "É um barco novo ainda, normalmente esses barcos duram 12 anos. Se ele entrar no Pan, vai ser uma prova à altura de sua majestade", declara.


As competições de REMO ocorrem de 14 a 19 de julho


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