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Jogo de cena
Autoridades encaram série de inaugurações e enfrentam situações embaraçosas para tentar mostrar intimidade com o esporte e alardear sua contribuição para os Jogos
Eduardo Knapp/Folha Imagem
![](../images/s1207200701.jpg) |
O prefeito Cesar Maia cumprimenta os ginastas Diego Hypólito e Mosiah Rodrigues |
LUÍS FERRARI
RODRIGO MATTOS
ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO
Corre-corre no Estádio de
Remo da Lagoa. De paletó, em
sua maioria, homens dirigem-se rapidamente a um descampado onde pousa um helicóptero. Dele, desce o governador do
Rio de Janeiro, Sérgio Cabral.
A poucos metros, sob sol das
10h, atletas da equipe brasileira
no Pan esperam com seus remos levantados. Formam um
corredor para a passagem de
Cabral e do ministro do Esporte, Orlando Silva Jr. Quando as
autoridades atravessam o local,
os remadores são esquecidos.
Isso foi só uma amostra do
que foi visto da abertura do Engenhão até a do velódromo, última instalação a ser inaugurada, ontem, em meio a uma chuva que criou uma cascata nas
instalações do evento. De regra,
políticos transformaram praças esportivas em luta pelo legado do Pan. Cada um ressaltou
seu naco nos R$ 3,7 bilhões de
dinheiro público no evento, enquanto tentavam demonstrar
intimidade com o esporte.
Vista em todos os eventos, a
corrida atrás de poderosos levou assessores e jornalistas a
andarem descalços pelas empoeiradas dependências da
Arena Multiuso, para testar o
piso da ginástica. Até enfrentaram poças de urina pelo caminho. Pior para o secretário-geral do Co-Rio (comitê organizador do Pan), Carlos Roberto
Osório, com uma meia furada.
Mas, quando se tratou de
corrida, destacou-se como maratonista o ministro do Esporte. Em dez dias, foi a pelo menos sete inaugurações. Chegou
a sair de um evento às 10h30
para outro ao meio-dia. "Temos que fazer simulações de situações possíveis nos Jogos",
justificou Orlando Silva Jr.
A vontade do ministro de testar equipamentos foi grande.
Tanto que experimentou sua
mira com a carabina, uma das
armas do tiro esportivo, no
Complexo de Deodoro. Errou
todas. Motivo: só atirou quando
os pratos desciam, ao contrário
do que fazem os competidores.
Cesar Maia preferiu não arriscar. Instigado pelo ginasta
Diego Hypólito a dar piruetas,
negou-se apontando para a
barriga proeminente. Menos
um evento-teste para o Pan.
Diante de um microfone, o
prefeito do Rio não se mostrou
tão tímido. Na abertura da Assembléia Geral da Odepa, Maia
pediu licença para falar em portunhol. "É a língua falada em
minha casa, pois sou casado
com chilena", disse o prefeito.
No discurso, garantiu que faria plantão 24 horas em seu e-mail para receber reclamações.
Foi seguido por Cabral, que, de
novo, chegou atrasado. Por isso, foi brindado com um "buenas noches" do presidente da
Odepa, Mario Vázquez Raña.
Da ironia ao agrado. Representante do maior investidor
do Pan, Silva Jr. era cercado de
atenção pelo Co-Rio, como no
estádio de Remo. "Podia vir
sem gravata?", questionou. "O
ministro pode tudo", rebateu
Carlos Roberto Osório.
O protocolo também foi quebrado na abertura do Parque
Aquático Maria Lenk. Mas por
outro motivo: a TV. Com o atraso da cerimônia, a demonstração começou com as placas
inaugurais cobertas para a exibição ao vivo. O rito oficial foi
feito às pressas, no intervalo.
E o cronômetro continuou
rodando após o fim da prova.
Falhou, como um placar eletrônico da Arena Multiuso.
Pior ocorreu no velódromo.
Uma tubulação rachou, causou
uma cachoeira e molhou equipamentos eletrônicos. Seguranças impediram que fossem
feitas imagens na sala para a
qual eles foram levados.
Erros tão comuns quanto as
marteladas de operários, trilha
sonora das inaugurações.
"Só falta acabamento. Todo
lugar tem poeira na inauguração", minimizou o secretário de
Esporte do RJ, Eduardo Paes.
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