São Paulo, quinta-feira, 12 de julho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Jogo de cena

Autoridades encaram série de inaugurações e enfrentam situações embaraçosas para tentar mostrar intimidade com o esporte e alardear sua contribuição para os Jogos

Eduardo Knapp/Folha Imagem
O prefeito Cesar Maia cumprimenta os ginastas Diego Hypólito e Mosiah Rodrigues


LUÍS FERRARI
RODRIGO MATTOS
ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO

Corre-corre no Estádio de Remo da Lagoa. De paletó, em sua maioria, homens dirigem-se rapidamente a um descampado onde pousa um helicóptero. Dele, desce o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral.
A poucos metros, sob sol das 10h, atletas da equipe brasileira no Pan esperam com seus remos levantados. Formam um corredor para a passagem de Cabral e do ministro do Esporte, Orlando Silva Jr. Quando as autoridades atravessam o local, os remadores são esquecidos.
Isso foi só uma amostra do que foi visto da abertura do Engenhão até a do velódromo, última instalação a ser inaugurada, ontem, em meio a uma chuva que criou uma cascata nas instalações do evento. De regra, políticos transformaram praças esportivas em luta pelo legado do Pan. Cada um ressaltou seu naco nos R$ 3,7 bilhões de dinheiro público no evento, enquanto tentavam demonstrar intimidade com o esporte.
Vista em todos os eventos, a corrida atrás de poderosos levou assessores e jornalistas a andarem descalços pelas empoeiradas dependências da Arena Multiuso, para testar o piso da ginástica. Até enfrentaram poças de urina pelo caminho. Pior para o secretário-geral do Co-Rio (comitê organizador do Pan), Carlos Roberto Osório, com uma meia furada.
Mas, quando se tratou de corrida, destacou-se como maratonista o ministro do Esporte. Em dez dias, foi a pelo menos sete inaugurações. Chegou a sair de um evento às 10h30 para outro ao meio-dia. "Temos que fazer simulações de situações possíveis nos Jogos", justificou Orlando Silva Jr.
A vontade do ministro de testar equipamentos foi grande. Tanto que experimentou sua mira com a carabina, uma das armas do tiro esportivo, no Complexo de Deodoro. Errou todas. Motivo: só atirou quando os pratos desciam, ao contrário do que fazem os competidores.
Cesar Maia preferiu não arriscar. Instigado pelo ginasta Diego Hypólito a dar piruetas, negou-se apontando para a barriga proeminente. Menos um evento-teste para o Pan.
Diante de um microfone, o prefeito do Rio não se mostrou tão tímido. Na abertura da Assembléia Geral da Odepa, Maia pediu licença para falar em portunhol. "É a língua falada em minha casa, pois sou casado com chilena", disse o prefeito.
No discurso, garantiu que faria plantão 24 horas em seu e-mail para receber reclamações. Foi seguido por Cabral, que, de novo, chegou atrasado. Por isso, foi brindado com um "buenas noches" do presidente da Odepa, Mario Vázquez Raña.
Da ironia ao agrado. Representante do maior investidor do Pan, Silva Jr. era cercado de atenção pelo Co-Rio, como no estádio de Remo. "Podia vir sem gravata?", questionou. "O ministro pode tudo", rebateu Carlos Roberto Osório.
O protocolo também foi quebrado na abertura do Parque Aquático Maria Lenk. Mas por outro motivo: a TV. Com o atraso da cerimônia, a demonstração começou com as placas inaugurais cobertas para a exibição ao vivo. O rito oficial foi feito às pressas, no intervalo.
E o cronômetro continuou rodando após o fim da prova. Falhou, como um placar eletrônico da Arena Multiuso.
Pior ocorreu no velódromo. Uma tubulação rachou, causou uma cachoeira e molhou equipamentos eletrônicos. Seguranças impediram que fossem feitas imagens na sala para a qual eles foram levados.
Erros tão comuns quanto as marteladas de operários, trilha sonora das inaugurações.
"Só falta acabamento. Todo lugar tem poeira na inauguração", minimizou o secretário de Esporte do RJ, Eduardo Paes.


Texto Anterior: Vela: Campeão na star, Scheidt vai tranqüilo para o Pan
Próximo Texto: Com a palavra - Lauret Godoy: O Pan do Cristo Redentor

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.