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Brasil quase perde dos próprios defeitos
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
É sempre bom ganhar. Da Argentina, então, é ótimo. Mas o
Brasil abusou do direito de jogar
mal. Os únicos brasileiros que mereceram o bicho integral na partida de ontem foram Dida, Émerson e Roberto Carlos.
Eu ia dizer que, na maior parte
do jogo, o Brasil esteve irreconhecível. Mas, na verdade, foi muito
reconhecível, no que tem de pior:
indecisão no posicionamento da
defesa, instabilidade emocional,
excesso de individualismo, insistência nas jogadas pelo meio
(congestionado pela boa marcação argentina).
Não por acaso, foi na primeira
jogada objetiva do time, logo no
início do segundo tempo, que o
Brasil fez o gol de desempate. O
primeiro gol -numa linda cobrança de falta de Rivaldo- tinha sido um achado, num jogo
até então totalmente dominado
pela Argentina.
O gol de Ronaldo poderia ter
mostrado o caminho das pedras.
Doce ilusão. Em dois tempos, tudo
voltou a ser como antes: os mesmos erros, o mesmo nervosismo
-talvez até aumentado-, a
mesma falta de objetividade.
Wanderley Luxemburgo tinha
mesmo que mexer no time, mas, a
meu ver, mexeu errado.
Por que Beto, e não Alex, que é
taticamente mais lúcido e objetivo? Por que Christian, e não Ronaldinho, que é mais ousado e
criativo?
Se não fosse a excepcional defesa de Dida, no pênalti, e o nervosismo dos próprios atacantes argentinos, o caldo teria entornado.
Mas a prova de que a seleção
não convenceu foi o banco brasileiro ter-se levantado em peso para pedir o final da partida, quando ainda faltavam dois minutos.
Atitude vergonhosa, antipática,
de time pequeno, que lembra as
estratégias medrosas da seleção
de Parreira.
Enfim, se quiser conquistar essa
Copa América, a seleção brasileira tem que deixar de ser um
amontoado de craques para se
tornar uma equipe de futebol.
Nosso adversário nas semifinais,
o México, não tem a qualidade
técnica da Argentina, mas mostrou no jogo de sábado, contra o
Peru, por que é considerado um
dos times mais guerreiros do
mundo. Em desvantagem no
marcador até os 42min do segundo tempo, foi buscar o empate na
raça e acabou ganhando nos pênaltis. Na primeira fase, os descendentes de Montezuma já nos
deram muito trabalho.
Agora, embalados pela classificação heróica, serão um perigo.
Principalmente se não corrigirmos nossos crônicos defeitos.
Brasil x Argentina, aliás, foi um
jogo muito feio. Nenhum dos dois
times esteve à altura de sua camisa. Só a violência e a catimba estiveram ""à altura"" da tradição.
Contribuiu para isso, a meu ver,
o clima criado pela própria equipe
brasileira antes da partida. Técnico e jogadores saíram dizendo que
eram machos pra chuchu, que revidariam uma eventual violência
argentina etc.
Esse tipo de vociferação reflete
muito mais insegurança do que
qualquer outra coisa. Quem está
seguro de si não fica cantando de
galo. Vai lá, bica e pronto.
Se a contratação de Asprilla pelo
Palmeiras se concretizar, os times
paulistas entrarão no Brasileirão
com ataques reforçados: o colombiano no Palmeiras, Luizão no
Corinthians, Sandro Hiroshi no
São Paulo, Paulo Rink no Santos.
Uma curiosidade é saber como o
estreloso e temperamental atacante da Colômbia vai se dar com
o sargentão Scolari.
José Geraldo Couto escreve aos sábados e
segundas
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