São Paulo, Segunda-feira, 12 de Julho de 1999
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Brasil quase perde dos próprios defeitos

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

É sempre bom ganhar. Da Argentina, então, é ótimo. Mas o Brasil abusou do direito de jogar mal. Os únicos brasileiros que mereceram o bicho integral na partida de ontem foram Dida, Émerson e Roberto Carlos.
Eu ia dizer que, na maior parte do jogo, o Brasil esteve irreconhecível. Mas, na verdade, foi muito reconhecível, no que tem de pior: indecisão no posicionamento da defesa, instabilidade emocional, excesso de individualismo, insistência nas jogadas pelo meio (congestionado pela boa marcação argentina).
Não por acaso, foi na primeira jogada objetiva do time, logo no início do segundo tempo, que o Brasil fez o gol de desempate. O primeiro gol -numa linda cobrança de falta de Rivaldo- tinha sido um achado, num jogo até então totalmente dominado pela Argentina.
O gol de Ronaldo poderia ter mostrado o caminho das pedras. Doce ilusão. Em dois tempos, tudo voltou a ser como antes: os mesmos erros, o mesmo nervosismo -talvez até aumentado-, a mesma falta de objetividade.
Wanderley Luxemburgo tinha mesmo que mexer no time, mas, a meu ver, mexeu errado.
Por que Beto, e não Alex, que é taticamente mais lúcido e objetivo? Por que Christian, e não Ronaldinho, que é mais ousado e criativo?
Se não fosse a excepcional defesa de Dida, no pênalti, e o nervosismo dos próprios atacantes argentinos, o caldo teria entornado.
Mas a prova de que a seleção não convenceu foi o banco brasileiro ter-se levantado em peso para pedir o final da partida, quando ainda faltavam dois minutos. Atitude vergonhosa, antipática, de time pequeno, que lembra as estratégias medrosas da seleção de Parreira.
Enfim, se quiser conquistar essa Copa América, a seleção brasileira tem que deixar de ser um amontoado de craques para se tornar uma equipe de futebol.
  Nosso adversário nas semifinais, o México, não tem a qualidade técnica da Argentina, mas mostrou no jogo de sábado, contra o Peru, por que é considerado um dos times mais guerreiros do mundo. Em desvantagem no marcador até os 42min do segundo tempo, foi buscar o empate na raça e acabou ganhando nos pênaltis. Na primeira fase, os descendentes de Montezuma já nos deram muito trabalho.
Agora, embalados pela classificação heróica, serão um perigo. Principalmente se não corrigirmos nossos crônicos defeitos.
  Brasil x Argentina, aliás, foi um jogo muito feio. Nenhum dos dois times esteve à altura de sua camisa. Só a violência e a catimba estiveram ""à altura"" da tradição.
Contribuiu para isso, a meu ver, o clima criado pela própria equipe brasileira antes da partida. Técnico e jogadores saíram dizendo que eram machos pra chuchu, que revidariam uma eventual violência argentina etc.
Esse tipo de vociferação reflete muito mais insegurança do que qualquer outra coisa. Quem está seguro de si não fica cantando de galo. Vai lá, bica e pronto.
  Se a contratação de Asprilla pelo Palmeiras se concretizar, os times paulistas entrarão no Brasileirão com ataques reforçados: o colombiano no Palmeiras, Luizão no Corinthians, Sandro Hiroshi no São Paulo, Paulo Rink no Santos.
Uma curiosidade é saber como o estreloso e temperamental atacante da Colômbia vai se dar com o sargentão Scolari.


José Geraldo Couto escreve aos sábados e segundas


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