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São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 2003

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BASQUETE

Pra dedéu

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Por que esta aula? Por que preciso desta lição? Esta matéria serve para quê? Quer saber, vou entregar a prova em branco.
Por que tenho de praticar natação? Por que os treinos são sempre iguais? Por que tenho de cair na água com sono e com frio? Quer saber, vou jogar basquete.
Por que tenho de fazer este exercício? Por que não tentar esta jogada? Por que não me dão a bola? Quer saber, vou embora daqui.
André Barbosa cresceu e apareceu desajustado -um questionador, nas palavras do pai, Hélio.
Das expulsões em cinco colégios às madrugadas no ginásio do Grajaú Country Club (que lhe renderiam o apelido, definitivo), o menino do Rio não sossegava.
E coube justamente à inquietude adolescente, às vezes autodestrutiva, o empurrão crucial no esporte. Não só o talento mas a personalidade do garoto atraíram basqueteiros geniais e geniosos.
Ary Vidal levou-o para o Rio Grande do Sul e, depois, para Minas Gerais. No intervalo, Marcel atiçou-o em São Paulo. E Oscar confortou-o no retorno ao Rio.
Em tão boa companhia, Dedé achou-se em quadra. Um ala de "jump" suave, com um bom trabalho de pé de pivô, que enxerga bem a quadra e que gosta de driblar de costas para o garrafão.
Esquecido pelas convocações da seleção -o que muitos atribuíam às divergências entre o pai, dirigente do Grajaú, e o presidente da CBB-, ganhou uma chance neste ano, quase por acidente.
O recém-empossado técnico Lula Ferreira resolveu chamar 29 jogadores, mais do que o usual. Queria agitar o ambiente, de certo modo prostrado depois dos tépidos anos da era Hélio Rubens.
Dedé, 2,00 m e 90 kg, contundido, nem tinha cumprido temporada brilhante no Mogi (SP), 11º lugar entre 17 times do Nacional. Mas, no vagalhão, foi listado.
Outros atletas se machucaram, uns decidiram buscar a sorte no exterior, alguns tiveram compromissos profissionais inadiáveis. Por força das circunstâncias, e do suor nos treinos, o ala ficou.
Veio julho, e a seleção deixou a reclusão dos ensaios. Diante de sua torcida, nos amistosos preparatórios, exibiu um novo jogador.
Toalha na mão, ele vibrava a cada enterrada, a cada toco. Festejava cada desarme, cada cesta. Consolava cada violação, cada chute errado. Intrometia-se nos pedidos de tempo, aconselhava Lula, dava toques nos titulares.
Para surpresa até de seus familiares, o garoto-enxaqueca havia se transformado, aos 26 anos, na voz da campanha afirmativa.
As arquibancadas reconheceram o entusiasmo e associaram o "cheerleader" às conquistas do Sul-Americano e do Pan.
Com a apresentação de Nenê e a recuperação de Luis Fernando -especialistas em rebotes, ponto fraco desta seleção-, a lógica diz que o ala será sacado nesta semana do grupo do Pré-Olímpico.
Ainda assim, símbolo de um time que rompeu a apatia do torcedor e que aos poucos recoloca o basquete nacional nos trilhos de sua história, Dedé é bem mais do que o personagem da semana.
A coluna, também cricri por natureza, hoje abre espaço ao jogador que aprendeu a dizer sim.

Panachê 1
A equipe de Lula completou no Pan uma invencibilidade de 11 partidas. De quebra, somou três vitórias contra anfitriões (além das duas diante dos dominicanos, uma contra os uruguaios no Sul-Americano). Que a escrita se mantenha em Porto Rico. A seleção-sede é a adversária direta do Brasil por uma das três vagas em Atenas-04.

Panachê 2
As meninas também tiveram uma "cheerleader". Vivian mostrou um jogo inconsistente. Mas, na atitude em quadra, barrou Silvinha.

Panachê 3
A poltrona de Hebe. O sorriso de Luciana Gimenez. A atenção da trupe do Casseta & Planeta. É para isso que o Pan serve.

E-mail melk@uol.com.br


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