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BASQUETE
Pra dedéu
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Por que esta aula? Por que
preciso desta lição? Esta matéria serve para quê? Quer saber,
vou entregar a prova em branco.
Por que tenho de praticar natação? Por que os treinos são sempre iguais? Por que tenho de cair
na água com sono e com frio?
Quer saber, vou jogar basquete.
Por que tenho de fazer este exercício? Por que não tentar esta jogada? Por que não me dão a bola?
Quer saber, vou embora daqui.
André Barbosa cresceu e apareceu desajustado -um questionador, nas palavras do pai, Hélio.
Das expulsões em cinco colégios
às madrugadas no ginásio do
Grajaú Country Club (que lhe
renderiam o apelido, definitivo),
o menino do Rio não sossegava.
E coube justamente à inquietude adolescente, às vezes autodestrutiva, o empurrão crucial no esporte. Não só o talento mas a personalidade do garoto atraíram
basqueteiros geniais e geniosos.
Ary Vidal levou-o para o Rio
Grande do Sul e, depois, para Minas Gerais. No intervalo, Marcel
atiçou-o em São Paulo. E Oscar
confortou-o no retorno ao Rio.
Em tão boa companhia, Dedé
achou-se em quadra. Um ala de
"jump" suave, com um bom trabalho de pé de pivô, que enxerga
bem a quadra e que gosta de driblar de costas para o garrafão.
Esquecido pelas convocações da
seleção -o que muitos atribuíam
às divergências entre o pai, dirigente do Grajaú, e o presidente da
CBB-, ganhou uma chance neste ano, quase por acidente.
O recém-empossado técnico Lula Ferreira resolveu chamar 29 jogadores, mais do que o usual.
Queria agitar o ambiente, de certo modo prostrado depois dos tépidos anos da era Hélio Rubens.
Dedé, 2,00 m e 90 kg, contundido, nem tinha cumprido temporada brilhante no Mogi (SP), 11º
lugar entre 17 times do Nacional.
Mas, no vagalhão, foi listado.
Outros atletas se machucaram,
uns decidiram buscar a sorte no
exterior, alguns tiveram compromissos profissionais inadiáveis.
Por força das circunstâncias, e do
suor nos treinos, o ala ficou.
Veio julho, e a seleção deixou a
reclusão dos ensaios. Diante de
sua torcida, nos amistosos preparatórios, exibiu um novo jogador.
Toalha na mão, ele vibrava a
cada enterrada, a cada toco. Festejava cada desarme, cada cesta.
Consolava cada violação, cada
chute errado. Intrometia-se nos
pedidos de tempo, aconselhava
Lula, dava toques nos titulares.
Para surpresa até de seus familiares, o garoto-enxaqueca havia
se transformado, aos 26 anos, na
voz da campanha afirmativa.
As arquibancadas reconheceram o entusiasmo e associaram o
"cheerleader" às conquistas do
Sul-Americano e do Pan.
Com a apresentação de Nenê e
a recuperação de Luis Fernando
-especialistas em rebotes, ponto
fraco desta seleção-, a lógica diz
que o ala será sacado nesta semana do grupo do Pré-Olímpico.
Ainda assim, símbolo de um time que rompeu a apatia do torcedor e que aos poucos recoloca o
basquete nacional nos trilhos de
sua história, Dedé é bem mais do
que o personagem da semana.
A coluna, também cricri por natureza, hoje abre espaço ao jogador que aprendeu a dizer sim.
Panachê 1
A equipe de Lula completou no Pan uma invencibilidade de 11 partidas. De quebra, somou três vitórias contra anfitriões (além das duas
diante dos dominicanos, uma contra os uruguaios no Sul-Americano). Que a escrita se mantenha em Porto Rico. A seleção-sede é a adversária direta do Brasil por uma das três vagas em Atenas-04.
Panachê 2
As meninas também tiveram uma "cheerleader". Vivian mostrou
um jogo inconsistente. Mas, na atitude em quadra, barrou Silvinha.
Panachê 3
A poltrona de Hebe. O sorriso de Luciana Gimenez. A atenção da trupe do Casseta & Planeta. É para isso que o Pan serve.
E-mail melk@uol.com.br
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