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BOXE
Na cabeça do lutador
EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL
O trabalho psicológico do
treinador no córner de um
pugilista não se iguala ao de uma
cheerleader. Não se trata necessariamente de subir no ringue, gritar com o lutador que ele é melhor
do que o rival, dar um tapa na cara dele e mandar que nocauteie o
adversário. Sim, a cena descrita
acima é coisa de cinema, mas já a
vimos ser protagonizada por técnicos, teoricamente, de alto nível.
Como disse em uma oportunidade Sidney Gomes, ex-treinador
da seleção brasileira de boxe, um
discurso agressivo da parte do técnico pode motivar um lutador e
"quebrar" outro, dependendo de
suas personalidades. O técnico
tem de conhecer o pupilo para escolher o vocabulário que adotará.
Um dos treinadores que melhor
soube trabalhar o lado psicológico de um de seus pupilos foi o ex-campeão dos meio-pesados Eddie
Mustafa Mahammad, quando
dirigiu Iran Barkley, campeão em
três categorias distintas de peso.
Sob seu comando, Barkley era
um dos lutadores mais agressivos
a subir em um ringue. O objetivo
era sempre aniquilar o rival.
Em 92, demoliu rapidamente o
"schoolboy" Darrin Van Horn pelo título dos supermédios da FIB.
Van Horn parecia mais um menino contra um homem (é até irônico, se observado seu apelido). Depois, bateu por pontos o legendário Thomas Hearns, em revanche.
"Tudo o que preciso é apertar os
botões certos", resumiu Muhammad, ao ser questionado sobre o
que dizia no ouvido de Barkley
para torná-lo tão agressivo.
Cerca de 30 minutos antes dos
combates, Muhammad começava a lembrar "The Blade" Barkley
de tudo o que o feriu em sua vida
e atravancou sua carreira.
Muhammad mencionava, além
de problemas particulares de Barkley -dizia que os rivais tentavam tirar o conforto de sua família-, o fato de que os grandes
"nomes" dos anos 80, "Sugar"
Ray Leonard, Marvelous Marvin
Hagler, Thomas "Hit Man"
Hearns e Roberto "Mano de Piedra" Durán o ignoraram. Durante a caminhada para o ringue,
Muhammad o lembrava disso.
Nem sempre, porém, as técnicas
motivacionais são suficientes para trazer a vitória.
"Você quer ser um vagabundo
para o resto de sua vida?", perguntou Angelo Dundee, durante
um dos intervalos, a James
"Quick" Tillis quando o peso-pesado desafiou Mile Weaver pelo
título dos pesados da AMB, em 81.
"Tentei mexer um pouco com
"Quick". No córner, eu tento várias
coisas, mas você não tem a mágica todos os dias", disse o técnico
americano ao lembrar que Tillis
perdeu por pontos em 15 assaltos.
Uma das ações motivatórias
mais célebres de Dundee em um
córner foi quando Leonard encarou Hearns pela primeira vez, em
1981. Sem se intimidar pelo fato
de Leonard já ser estrela, Dundee
foi direto. "Você está estragando
tudo, filho", disse Dundee, ao
constatar, após o 12º assalto, que
Hearns liderava por pontos. Resultado: Leonard nocauteou
Hearns no 13º assalto. "Angelo sabia se comunicar. Havia uma linha aberta com ele", diz Leonard.
O que prova que ser técnico é
mais do que pôr a toalha nas costas e um cotonete preso na orelha.
Técnicos e técnica 1
Até em detalhes técnicos os treinadores de boxe têm uma visão particular, como ensinar o jab. "É difícil de explicar. Você tem que ter o timing dos movimentos dos rivais", diz o técnico Joey Fariello. "É o
golpe fácil. Solte o golpe reto, sem empurrá-lo, mas com impacto.
Não tem que mover seu ombro", diz Kevin Rooney, ex-técnico de
Mike Tyson. "Quando jabeia, faça o ombro ficar em ângulo com seu
rosto e dê um passo com a perna da frente", diz o técnico Jesse Reid.
Técnicos e técnica 2
A polêmica segue nos golpes potentes. "Tem que acertar a distância
entre você e seu rival e o trabalho de pernas", diz Angelo Dundee. "A
mudança do peso de uma parte do corpo para outra e manter o punho bem fechado definem um golpe forte", diz Emmanuel Steward.
E-mail: eohata@folhasp.com.br
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